Canudos não se rendeu

Quando os soldados cercarem tua cidadela, não temais Cerra teus punhos e firma teu pensamento Teu deus, seja ele qual for, é contigo E lembra-te: Canudos não se rendeu. Quando a matadeira começar a atirar, E o cheiro de pólvora dos canhões e fuzis Deixarem no ar o seu cheiro   E começarem a queimar […]

Tome, Dr., esta tesoura…

Foi ao consultório com problemas de sanidade mental. O analista responsável mostrou-lhe quatro quadrados em branco e perguntou: o que está vendo? Janelas, ainda que quadradas, janelas. Meu palpite. Vê algo mais? Fotografias de um álbum que ainda não foram tiradas. Cartas de tarô que ainda não foram jogadas… talvez. Uma vida, inteirinha, que ainda […]

Da sabedoria e do amor

Li no Tao de Lao Tsé que os nomes não eram lá grandes coisas; que as palavras não continham o fluxo, não carregavam em si o poder que imaginamos ter. Algo assim, eu li. E recebi uma carta, extraviada, uma daquelas que Bartleby deve ter lido também. Tinha como destinatário uma pessoa amada, tinha de […]

Messianismo do quarto estado

Parodiando Drummond, lutar com ideias é a luta mais vã, entanto, lutamos quase toda manhã. Até onde sei, Machado de Assis estabelece uma diferença entre o Brasil real (que são vários) e o Brasil oficial; ele é um mestre não apenas no sentido da escrita, mas também por ter conhecido, vivido e sido formado por […]

Servidão voluntária: o morto tolhe o vivo

La Boétie morreu jovem, quase aos trinta e três anos de idade; foi amigo de Michel de Montaigne, que lhe fez uma homenagem versando sobre a amizade. Esse jovem parece ser o primeiro degrau de quem quiser compreender, ou ao menos se questionar como o poder atua também conforme um alheamento voluntário dos indivíduos. No […]

Deriva poético-filosófica

Fiquei preocupado com a beleza e saí por aí andando. Saí andando como um peripatético, mais patético do que peripatético, sem dinheiro próprio e pensando em por que diachos, dentre tantas funções no mundo, escolhi duas que normalmente não possuem lugar: a poesia e a filosofia. Isso depois de assistir uma aula à distância de […]

Drama barroco sertanejo

Anos trinta do século XX. “Atira, Gato”, disse Lampião laconicamente. Gato já estava com a pontaria ajustada e não perdeu tempo. Laconicamente a arma falou num zumbido e acertou o dedo-duro intrigante que tinha a alcunha de Coqueiro. “Entregador não tem vez no bando”, ratificou Lampião. Lígia chorava um choro desses de drama trágico, de […]

Em cena

Poderia continuar comentando a cena recifense, comparando-a com a nossa. Poderia mesmo lembrar de uma cena em que Siba, cantando em algum evento de Fortaleza (num ano que não me lembro), cantarolava “pode acabar o mundo que eu vou dançar meu carnaval”. Era na Praça do Ferreira e no banco da esquina havia um morador […]

Febre do rato

Assisti Febre do Rato (2011), do diretor Cláudio Assis, num pré-lançamento num festival aqui em Fortaleza em que o diretor veio a convite, junto com uma parte dos atores. A cena cultural do Recife me parece ser infinitamente mais interessante que a nossa, de Fortaleza, mas não por falta de gente ou artefato ou produção […]

Augusto e o tamarindo

Não sei o que me levou a esse poeta autor do Eu. Não sei se seu lugar é a poesia ou a filosofia. Misto de ambas e ciência. A filosofia, me ensinou um amigo, é segunda; a poesia que é primeira. A poesia primeira de Augusto é do sabor do tamarindo. É um azedo gostoso. […]

Rústico

“Penny for a poor old man, penny for a poor old man!” – Rústico. “Espanquem os pobres”, pois a mendicância é uma fraqueza de espírito. Darwinismo nas telas, como nas ruas. Luta pela sobrevivência nua e crua, fonte primária. Asas prontas para o voo e, no entanto, se retrocede. Ora, que vento sopra sobre as […]