Tome, Dr., esta tesoura…

Foi ao consultório com problemas de sanidade mental.

O analista responsável mostrou-lhe quatro quadrados em branco e perguntou: o que está vendo?

Janelas, ainda que quadradas, janelas. Meu palpite.

Vê algo mais?

Fotografias de um álbum que ainda não foram tiradas.

Cartas de tarô que ainda não foram jogadas talvez.

Uma vida, inteirinha, que ainda pode ser e não é.

Algo mais?

Não senhor, porque aí eu começaria a delirar e lhe diria que são portais, ainda que quatro, mas portais.

Dimensões inapreensíveis de um real inassimilável.

Toda lacuna deixa um vácuo para que preenchamos, não é? Afinal, a vida tem algo disso

Faltas, lacunas, respostas que nunca chegam, incertezas de elétrons na nossa vontade.

É, até que não estamos indo tão mal.

Sim, porque se elas já estivessem preenchidas que graça teria, se eu já soubesse o que colocar que jogo haveria, se uma cartomante me lançasse uma possibilidade entre tantas de uma narrativa em quatro naipes, estaria dando um direcionamento no meu lugar ou me sugestionando como essas lacunas?

É uma questão.

Então.

Com que cartas o senhor preencheria?

Não sei, o jogo não é para mim.  

Então por mim podemos parar por aqui.
Tudo certo. Deixe-me ver se di
minuiremos ou não sua dosagem…

Pedro Henrique

"Anota aí: eu sou ninguém"