Canudos não se rendeu

Quando os soldados cercarem tua cidadela, não temais

Cerra teus punhos e firma teu pensamento

Teu deus, seja ele qual for, é contigo

E lembra-te: Canudos não se rendeu.

Quando a matadeira começar a atirar,

E o cheiro de pólvora dos canhões e fuzis

Deixarem no ar o seu cheiro  

E começarem a queimar a cidade que tu ergueste

Com teus pares do barro,

Não te desesperes.

Firma teu punho e luta:

Ainda que saibas quase nada poder contra eles

Então lembra-te: Canudos não se rendeu.

Lembra-te do gamão na cidade tranquila

Lembra-te das palavras do teu mestre Conselheiro

Lembra-te da enxada da lavoura da fartura da felicidade

Que tudo ali foi obra vossa, tua e dos teus pares.

Mas quando tua cidadela começar a queimar

E as mulheres, mesmo de arma em punho,

Começarem a serem violadas

E as crianças mortas começarem a se estender ao chão,

Não te desesperes.

Firma teu pensamento, serra teus punhos, e luta

Até chegar tua hora.

A Jerusalém de taipa também foi obra tua.

Que ninguém jamais se esquecerá do teu feito.

Canudos não se rendeu.

Pedro Henrique

"Anota aí: eu sou ninguém"