Lendo a Bíblia: regalo natalino

O velho testamento é uma culpa hereditária. Não falarei de queda, conotação negativa e inscrição do tripalium: comerás com o suor do teu rosto. Mas, para entrarmos já no tema do sacrifício, Caim e Abel, a primeira briga entre irmãos se deu porque o sacrifício do trabalho manual, mais duro, o de uma parte da […]
Seu Caetano

Francisco Caetano de Freitas, brasileiro, divorciado, nascido em Várzea Alegre, Estado do Ceará, no dia primeiro de julho de 1953. Estudou em escola pública toda a vida, trabalhando de dia e estudando à noite, desde o segundo ano primário. Cultiva a poesia de muitos poetas, principalmente poetas brejeiros, e herdou deles o tom. Seu Caetano […]
Hyulla e Beatriz

Já fui sincero e puro num mar de lama, eu era lama, caos originário da vida, e era também ingenuidade – extrema pureza d’alma. Lembrei hoje de Hyulla e Beatriz. E do Velhinho, o Coelho. E do camaleão que matei antes de dar nome depois de tanto querer ajudar. Na época memorialmente mais terrível e […]
Sebastião menino
P. No que você ainda acredita, Sebastião? S. Como assim? P. Sebastião menino que foi brigar num flanco do Marrocos contra mouros e nunca voltou. (Risos) S. Revolução; nunca deixei de acreditar e lutar por ela. Só fiz autocríticas de como estava conduzindo isso. P. E o que essa palavra significa na sua boca, que […]
LADAINHA
Marinheiro que já naufragou em ilhas convidativas ao suicídio. Marinheiro que já atravessou umas ondinhas médias, quebrou a quilha no mar da história. Marinheiro astuto e ingênuo, já não se ilude ao canto de qualquer ilusão. Parecem sereias, são morsas. E cantam o mesmo canto sempre, sempre, já que desconhecem o significado do termo poesia. […]
Literatura como risco: comentário breve
“(…) convém lembrar que ela – a literatura – não é uma experiência inofensiva, mas uma aventura que pode causar problemas psíquicos e morais, como acontece com a própria vida, da qual é imagem e transfiguração. Isto significa que ela tem papel formador de personalidade, mas não segundo as convenções; seria antes segundo a força […]
Senhorita Gorbachev – PEDRO HENRIQUE

Aí se diz que o amor é o contrário da morte. Amor escapulindo como areia entre os dedos faz a morte iniciar seu vandalismo “erguendo os gládios e brandindo as hastas”, nas “cintilações de lâmpadas suspensas (…) ametistas e florões e pratas” do que se chama Eu, ego. Mas, “Na ogiva fúlgida e nas […]
Despertai, senhora, despertai, que o ar chove pétalas no laranjal – PEDRO HENRIQUE
Calderón de la Barca, no XVII barroco, diz pela boca de Segismundo: “A vida é sonho” – para o Hamleto espanhol… Lorca, o fuzilado pelo franquismo, na meia-noite do século XX (agora já é alta madrugada), o lembra: “Despertai, senhora, despertai, que o ar chove pétalas no laranjal”. São as bodas de sangue do casamento […]
Apenas o jogo pode se contrapor ao sacrifício – PEDRO HENRIQUE
Existe uma relação entre arte e história bastante curiosa. Deve ser alguma espécie de magia, ou dom profético, que a primeira tem, sobretudo nos tempos modernos, de passar ao campo da segunda, ainda que nem sempre do modo como esperamos. Aquilo que foi, num primeiro momento, apenas figurado pela imaginação passa logo em seguida ao […]
Poesia da memória e do presente – PEDRO HENRIQUE
É difícil não sustentar a intuição aterradora de que o estado de exceção permanece, como sempre, sendo a regra; é difícil não perceber a história como catástrofe, como um amontoado de atrocidades do “homem” contra seu semelhante e dessemelhante. Como diz Benjamin: “todo monumento de cultura é um monumento de barbárie”. Podemos pensar isso do […]
Epitáfio das circunstâncias – Pedro Henrique
Subscreva que te amo no epitáfio das circunstâncias. E de tão bonita e gentil que é, ainda que se perca ou morra, eles a ressuscitarão. Neste século ou no próximo. Quando disse: – Benjamin tem uma teoria do príncipe melancólico. Algo a ver com o Hamlet de Shakespeare ou Segismundo de Calderón. Dizendo ainda: – […]