O ESPECTRO ENTEDIADO DO MUNDO SEM TETO: A OBRA DE EDUARDO FRANCELINO, ATÉ AGORA (X)
LIII Tomemos o exemplo da Bachiana número 4. De que se trata o exemplo? Pois bem: trata-se de uma exemplaridade em si que nem sequer precisa ser previamente explicada. Ouçam, meninos e meninas. E depois mais uma vez, meninos e meninas, ouçam. Parem mesmo a leitura nesse ponto exato: qualquer coisa que eu disser a […]
O ESPECTRO ENTEDIADO DO MUNDO SEM TETO: A OBRA DE EDUARDO FRANCELINO, ATÉ AGORA (IX)
LI Aristóteles afirma que tendemos, humanos, ao desejo de saber, e que é por causa desse desejo que tanto nos apegamos às sensações, que são uma das condições que possibilitam a conhecimento, aliadas à capacidade da memória, que não estaria tão desenvolvida nos animais, que também têm órgãos análogos aos humanos para perceber as sensações. […]
Diário de um escritor de província. Nonos aforismos
XLIX É preciso esquecer do que as palavras são feitas e acreditar nelas. A partir desse ponto as palavras são feitas do que elas dizem, e dizem o que acreditamos ouvir delas. É aqui que começam as grandes guerras silenciosas, ou nem tão silenciosas assim. Mas as palavras, se tivessem um conteúdo, se tivessem em […]
O ESPECTRO ENTEDIADO DO MUNDO SEM TETO: A OBRA DE EDUARDO FRANCELINO, ATÉ AGORA (VIII)
XLV. O que impede o pensador que pensa em cometer o suicídio é o vexame de cometer o suicídio pelas razões mais meramente humanas, pelas dores de um qualquer-um, as dores do um-qualquer (não pude resistir à tentação da redundância). O pensador não poderia cometer o suicídio caso não encontrasse para tanto uma razão puramente […]
Diário de um escritor de província. Oitavos aforismos
XLIV. Sonhei que tentava tranquilizar minha irmã por causa de uma reportagem sensacionalista sobre um caso alegado de possessão demoníaca ou paranormalidade maléfica. Eu precisava convencê-la de que não era sequer possível que aquelas coisas fossem verdadeiras, como já sei faz tempo, ou julgo saber. Pois, ainda que a própria qualidade da matéria fosse tão […]
O ESPECTRO ENTEDIADO DO MUNDO SEM TETO: A OBRA DE EDUARDO FRANCELINO, ATÉ AGORA (VII)
XLII. É como poder ouvir a própria mente com o ouvido invertido; isso deve explicar o zumbido constante; parece a constante que atesta a morte do paciente acamado no aparelho que registra as batidas do coração: o paciente faleceu faz dias e ninguém veio recolher o seu corpo; uma catástrofe generalizada já esvaziou o hospital […]
Diário de um escritor de província. Sétimos aforismos
XXXIV. É possível com toda a sinceridade, serenidade e inocência mentir dizendo verdade e enganar a todos durante todo o tempo, inclusive a si, mas a partir de mecanismos sutis diferentes do equívoco, ou seja, partindo do pressuposto de que as mais secretas das cortinas íntimas são as mesmas que encobrem os olhos, e a […]
O ESPECTRO ENTEDIADO DO MUNDO SEM TETO: A OBRA DE EDUARDO FRANCELINO, ATÉ AGORA (VI)
XXXII. Segundo Cícero, Bias de Priene, um dos sete sábios da Grécia, se conformava do degredo consequente da toma de sua cidade numa certeza, a de levar sempre consigo tudo aquilo que lhe pertencia, o que significava, para ele, andar de mãos vazias e ainda assim muito seguro quanto à proteção de suas riquezas. Cícero […]
Diário de um escritor de província. Sextos aforismos
XXVI. O que fazer com os olhos diante de realidades insatisfatórias e desejos inconvenientes, quando arrancar os globos oculares além de loucura seria ao mesmo tempo a confissão da culpa e uma tentativa furiosa de se tornar a si uma coisa mais terrível que o destino, e quando o gosto pela vida e pela integridade […]
O ESPECTRO ENTEDIADO DO MUNDO SEM TETO: A OBRA DE EDUARDO FRANCELINO, ATÉ AGORA (V)
XXIV. Penso (que seria dadivoso se se pudesse deliberadamente mergulhar mentalmente num estado pétreo com prazo delimitado, um pouco para que nos acontecesse o que esperavam que acontecesse a eles aqueles que acreditavam que podiam prolongar a vida congelando ainda vivos os próprios corpos, como por enquanto só ocorre nos filmes e na vida real […]
Diário de um escritor de província. Quintos aforismos
XX. Arnold Hauser, na História social da arte e da literatura, tem um tão grande poder de sintetizar personalidades artísticas, literárias e intelectuais que até esquecemos que suas sentenças podem ser algo injustas ou reducionistas. De Stendhal diz: pensava como Helvetius, mas sentia como Rousseau, de Freud insinua que era uma espécie de grande pensador […]