A carroça de Arjuna
Arjuna está numa carroça, indo para o campo de batalha. Chega Krishna… Todo poeta tem uma musa, seja ela uma mortal, seja ela uma ninfa filha do esperma de um Urano qualquer, que perdeu o falo para um filho Cronos qualquer. Então… o que existe de fragmento do filósofo Parmênides é principalmente o que foi possível […]
Modernos, com estrondo e gemido
Paulo Arantes, em O novo tempo do mundo (2014), delimita, na senda dos conceitos de Reinhart Koselleck (Crise e Crítica), que a fratura fundamental do moderno tempo do mundo se estabelece entre espaço de experiência e horizonte de expectativa. Robert Kurz, no ensaio O fim da teoria, aponta que a distinção crucial entre as sociedades […]
Canteiro de obra
Cláudio Oliveira escreve um posfácio ao livro O homem sem conteúdo (Editora Autêntica), de Giorgio Agamben, intitulado Da estética ao terrorismo: Agamben, entre Nietzsche e Heidegger. O intuito aqui não é tratar do posfácio, mas do que sua leitura incitou a anotar nos cantos de página. Assim, a primeira imagem que salta de um tal […]
Luz orvalhada da manhã
Luz orvalhada da manhã penetra na janela entreaberta em que dorme o casal. Doces são os gostos na boca de amantes recentes, como são amadurecidos os de longa data que não perderam o viço, pois o tempo os melhorou como ao vinho. Não, deixei Eros esperando na esquina em que não voltei. Quantas promessas, sonhos […]
Diurno
A guerra não é um acontecimento total e estético, como proclamavam os fascistas de Marinetti: “(…) A guerra é bela, porque inaugura a metalização onírica do corpo humano”. Nenhum elogio à velocidade ou à exaustãonestas palavras. Entanto, a rua em derredor continua seu intenso alarido. As pernas aumentaram, são de todas as cores e demonstram […]
Noturno
Se a lua está crescendo ou minguando, não sei; sei que tornei-me novamente noturno. Não esperava. A lagoa está lá; estão lá as ruas silenciosas e as casas penumbradas. Penumbrado estou, sem nada esperar de fantasmas ou amigos. Velhos camaradas que se foram ou ainda estão por aqui. Pensei que a palavra era bússola no […]
Foucault: sexo como criação de um dispositivo de sexualidade
História da sexualidade I, capítulo: direito de morte e poder sobre a vida. Foucault demarca uma transição de paradigma na política, já subjacente no título: a questão política decisiva de seu tempo não é mais um poder soberano absoluto com direito de morte diante de ameaça dos súditos, de um ponto de vista interno (o […]
Benjamin: nem os mortos estarão a salvo
No texto-ensaio Experiência e pobreza, Benjamin realça um traço peculiar dos criadores, tiveram que lidar com pouco: “Entre os grandes criadores sempre existiram homens implacáveis que operaram a partir de uma tábula rasa. Queriam uma prancheta: foram construtores”. No caderno N das Passagens, caderno-esboço de grande utilidade às teses Sobre o conceito de história, encontramos […]
Bunda de saúva torrada na boca
Arapuã selvagem impregnou no cabelo do menino. Deu dó. Mas o menino era do mato e do mato sabia-se menino-arapuã selvagem correndo e gritando e gostando do gosto da bunda de saúva torrada na boca. Era inverno. Chovia enquanto fazia sol e o menino ouvia histórias de que alguma raposa estava se casando. Corria o dia […]
Uma estrela no céu, outra no mar
Eu tenho um amigo que eu nunca vi Ele esconde a cabeça dentro de um sonho Alguém deveria chamá-lo e ver se ele pode sair Tentar perder a tristeza em que ele se encontra (Neil Young) A Valdo Barros Além das estrelas. No entanto, aqui. Aqui onde existem estrelas no mar como nas praias. Se […]
Futuro do passado
Se você quer uma imagem do futuro, imagine uma bota prensando um rosto humano para sempre. (Georg Orwell, 1984) Já faz um certo tempo que ultrapassamos 1984. Me sinto mais próximo de Airton, daquele capítulo “Esboço biográfico da juventude do fabuloso Dr. Porras”, que inicia com fragmentos datados de 2046, 2049. Mas isso não significa […]