Meu outro inverso

 

O inverso de mim mesmo é meu mundo mórbido e opaco.

E nas entrelinhas de um abrupto silêncio minha tristeza declina.

Mas em noites incomuns sobrevivo com saudades melancólicas.

Pois não canto, sou desencanto num lastro sem sorriso.

O que me apraz é um inverno cinza sem pôr do sol.

E em meu coração despido eclodem subterrâneos vazios.

Todas as palavras cabem nos meus versos de terna solidão.

No eclipse das horas, meu abraço fatal é desalento.

Nas límpidas auroras de cada amanhecer hei de rebentar meus intrépidos fracassos 

na redenção do porvir. 

Pelo sertão de veredas sem destino sou desatino andarilho sem quedar.

E sem cansaço eu me refaço numa tormenta de mil poemas.

No compasso de cada tropeço eu só, me vejo, num raso fosso.

Estou extasiado de mim mesmo, e nada mais te prometo, exceto fausto gozo.

Agora que a luz do arrebol se arrefece, meu regozijo se reflete no olhar teu que não finda.

A verdade do que eu penso é o que eu sinto.

Em cada praça desolada eu estou, porque não há um banco de praça que nunca tenha me deixado sozinho.

Nunca me furtei em devotar intensidades às minhas paixões, apenas me desfaço em cada laço mal prendido.

Nada mais do que um furor intempestivo para fulminar meu ego embriagado de metafísica barata.

E nada melhor para aplacar minha lúgubre agonia do que esse regalo atroz noite adentro. 

Um vento trepidante corta veloz toda ausência que me despedaça em vão sofrimento.

Eu faço um tributo ao acaso porque todo traço singular do meu sim e do meu não me escapa.

Minhas visões oníricas estão em todos os lugares e em cada estrada sinuosa que avanço, 

me transcrevo em versos e lampejos. 

E às vezes quando ninguém me intercepta no meio do caminho, sigo sereno sem rumo e sem insultos. 

Embora sem medo de hesitar, continuo submerso em esquinas sórdidas de uma cidade onde chove e faz frio.                                                                    

 

 (MARCONDES)

 

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