“Tantas histórias. Quantas perguntas”. (Bertold Brecht)
Na história das ditaduras nazista e fascista europeia da primeira metade do século XX, terror e repressão foram impostos como método de ascensão ao poder, provocando uma mudança estrutural na vida daquelas sociedades alemã e italiana, por meio de um regime reacionário de massas muito bem articulado, mitificado pelos seus líderes, erguendo um novo ethos, firmado pela força da propaganda, inflamando as multidões com o “gosto pelo ódio ao inimigo”, pela ponta dos fuzis usados com mão de ferro contra os adversários do regime e pelo discurso moralista de defesa dos costumes tradicionais da família e da religião. A retórica nazista e fascista estruturou-se também na apologia ao patriotismo corporativista (qualquer reivindicação da classe trabalhadora seria considerada antipatriótica), caracterizando os ativistas de esquerda como inimigos do Estado. Para isso, como assinalamos em nosso artigo anterior, o nazismo e fascismo conseguiram arregimentar a suas hostes uma classe média descontente com a realidade de então, incluindo militares aposentados os quais organizaram grupos de milícias violentos contra seus opositores. Nas ditaduras nazista e fascista não se admitia oposição e ponto final. (RIBEIRO JR, João. O que é nazismo? São Paulo: Brasiliense, 1986).
Em janeiro de 1933, Hitler foi nomeado Chanceler e imediatamente, no mês seguinte, um ato terrorista foi perpetrado com o incêndio da Assembleia Nacional (Reichstag), tendo a culpa sendo imputada aos comunistas alemães. Nesse seguimento, Hitler dá início a uma atmosfera de medo e perseguições aos seus opositores, promovendo destituições sumárias de cargos da administração pública, os chamados expurgos do serviço público, provocando uma total destruição das estruturas estatais que fossem consideradas empecilho para o andamento da marcha nazista alemã. O esforço concentrado de Hitler e Goebbels foi o de teatralizar os assuntos políticos, atraindo-os para o domínio do delírio e da embriaguez idólatra. Como se fossem torcedores de um time de futebol, as pessoas empenhavam bandeirolas do regime, cantavam hinos nazistas, saudavam-no como Mito, sob o rufar dos tambores das fanfarras torcendo pela grande equipe do nazismo. Sendo assim, toda ocasião era aproveitada para fazer celebrações, mobilizando as massas, para mostrar que estavam com ele e para segregar e ridicularizar aqueles que estavam fora “dessa comunidade”. O Führer tornava-se o único possuidor da vontade coletiva. Todos deveriam segui-lo e obedecê-lo cegamente, sem questionamentos. (LENHARO, Alcir. Nazismo, o triunfo da vontade. São Paulo: Ática, 2003).
Esse breve resgate histórico acima vem auxiliar nossa reflexão para que possamos perceber o grau de congruência com o nazismo alemão da escalada neofascista brasileira com a chegada ao poder do bloco bolsonarista, a partir do ano de 2014 quando setores das Forças Armadas, sob a regência do gal. Villas Bôas, decidiram pelo desenvolvimento de estratégias políticas e pelo ativismo partidário para eleger Jair Bolsonaro presidente do Brasil em 2018.
Agora, esse bloco político neofascista está estrebuchando em virtude da vitória do bloco popular-democrático na última eleição presidencial, negando-se a reconhecer a vitória do Presidente Lula, atentando, de forma terrorista, como atestam os atos patrocinados por dezenas de empresários, de interdição nas estradas, da queima de veículos em Brasília no dia da Diplomação Presidencial, no caminhão-bomba montado para explodir no pátio do aeroporto de Brasília, no último dia 24.
O ministro da Justiça do governo eleito, Flávio Dino, declarou à imprensa, no dia 26, que “os acampamentos antidemocráticos na região externa em frente aos quartéis do Exército tornaram-se incubadoras terroristas”. O objetivo do caminhão-bomba era o de “criar o caos no aeroporto”. Policiais civis encontraram no apartamento alugado pelo terrorista fuzis, pistolas, revólveres, a um custo de R$170 mil, conforme depoimento prestado pelo criminoso. Além do caminhão-bomba, foram encontrados artefatos explosivos a cerca de 30 quilômetros de Brasília, na mesma época, deixando a entender que seriam pelo menos duas células terroristas em ação. O agravante é que, segundo o ministro Flávio Dino, “há omissões ou ações de agentes públicos federais em conexão com os acampamentos antidemocráticos”: por que estão querendo, de maneira tão violenta e orquestrada, impedir a posse do presidente democraticamente eleito?
Em depoimento, o terrorista do caminhão-bomba afirmou ter contatado um importante general do Exército. Segundo o terrorista, após o desdobramento do plano original, poderia ocorrer um banho de sangue.
O Terror é a violência organizada para atingir de morte um grande contingente de pessoas inocentes, visando a um objetivo político (golpe de estado, estado de sítio etc.). Um mal pensado, refletido, organizado de forma meticulosa. Como lembra Hannah Arendt, “o terror torna-se total quando independe de toda oposição; reina supremo quando ninguém mais lhe barra o caminho. O regime de terror elimina a individualidade e as oposições que lhe são diretas”.
Em sua obra Terror e Miséria do Terceiro Reich, o teatrólogo alemão Bertold Brecht denuncia o medo, as perseguições, a repressão e o terror através dos olhos de um alemão que não foi aceito em sua própria pátria, o qual foi expulso por ser um pensador crítico da sua realidade. A peça é um veemente documento ao analisar opressores e oprimidos, assim como a penetração do terror e do medo no cotidiano das famílias alemãs. No desenrolar da peça, o grito é contrário à repressão. Brecht faz um estudo do comportamento dos indivíduos, quando colocados face a face ao outro, num tempo-espaço no qual a liberdade individual foi suprimida e no vizinho, colega, filho, namorada, irmã, não encontram mais os amigos mas um provável espião delator ou alguém a ser delatado. (Peixoto, Fernando. Brecht, vida e obra. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1974).
O lema bolsofascista, na verdade, é terrorismo acima de tudo, como se pode facilmente comprovar pela prática e pelos discursos proferidos pela sua liderança ao longo dos últimos quatro anos. A melhor resposta que o campo democrático pode dar a esse terror, é ocupar as ruas, ocupar todos os espaços públicos, diuturnamente, porque ao recuo dos democratas implica o avanço dos neofascistas. A tática destes terroristas é espalhar o medo. Não podemos cair nessa armadilha. Precisamos reagir prontamente, inclusive investigando e colocando atrás das grades os operadores e os formuladores – civis e militares – de tais ações terroristas.
Valdenir de Oliveira viana
O fascismo atacar a mente através do medo psicológico mas não podemos deixar ser vencido pelo medo vamos avançar sempre