Fim da arruaça neofascista

“Meus amigos e minhas amigas, nestes últimos anos vivemos um dos piores períodos de nossa história. Uma era de sombras, de incertezas e muito sofrimento. Mas esse pesadelo chegou ao fim, pelo voto soberano, na eleição mais importante desde a redemocratização do país”. (Luiz Inácio Lula da Silva, Presidente do Brasil)

 

Governar é cuidar. Esse é um dos lemas inaugurado pelo Presidente Lula em seu terceiro mandato. Num ato de sensível reciprocidade para com o povo brasileiro o qual se manteve fiel ao seu lado durante os 580 dias de profundo sofrimento causado pelo aprisionamento ilegal e ilegítimo perpetrado pelo lavajatismo na carceragem da Polícia Federal em Curitiba – PR, cumprimentando-o ininterruptamente durante os três turnos do dia, o Presidente Lula abriu ontem, 1o de janeiro, o seu segundo discurso de posse, no Parlatório do Palácio do Planalto, com uma doce e firme saudação: “Hoje, neste que é um dos dias mais felizes da minha vida, a saudação que eu faço a vocês não poderia ser outra, tão singela e ao mesmo tempo tão cheia de significado: Boa tarde, povo brasileiro!”.

No Parlatório, o Presidente Lula continuou: “Vou governar para todos e todas, olhando para nosso luminoso futuro em comum, e não pelo retrovisor de um passado de divisão e intolerância. É hora de reatarmos os laços com amigos e familiares, rompidos pelo discurso do ódio e pela disseminação de tantas mentiras. Minhas amigas e meus amigos, quando digo “governar”, eu quero dizer “cuidar”. Mais do que governar, vou cuidar com muito carinho deste país e do povo brasileiro”.

Como verbo, cuidar significa “ter preocupação com”, “respeitar”, “considerar com carinho”, “responsabilizar-se por” englobando compreensão e aceitação. Para o sociólogo e psicanalista alemão Erich Fromm (1900-1980), cuidar implica adotar comportamentos que estão associados com responsabilidade, respeito e conhecimento pela pessoa, implicando necessariamente o ato de dar e de doar-se ao outro.

Para Milton Mayeroff, cuidar é um processo de desenvolvimento que assume continuidade. Neste processo, a pessoa que cuida está com a outra pessoa, no mundo da outra pessoa merecedora de cuidado. Ambas são participantes num processo de descoberta, num processo de aprendizagem mútua. Abrange um conhecimento implícito e explícito, bem como direto e indireto: conhecer quem é o outro, seus poderes, suas limitações e suas necessidades, são fatores imprescindíveis na relação de cuidado. Implica observação paciente, capacidade de ampla tolerância e ausculta do outro, atento ao seu ritmo vital e estilo pessoal. Acreditar que o outro crescerá em seu ritmo e forma apropriados. Cuidar requer a humildade para o desenvolvimento de uma aprendizagem contínua e percepção da singularidade do outro em cada nova situação. (MAYEROFF, Milton. A arte de servir o próximo para servir a si mesmo. Rio de Janeiro: Record, 1971).

Martin Heidegger vem complementar a noção do cuidado ao afirmar que é uma forma primária de estar no mundo. Num primeiro momento há o tipo de cuidado que envolve fazer pelo outro, ou seja, assumir pelo outro, por exemplo quando a mãe cuida do seu bebê recém-nascido alimentando-o, banhando-o, agasalhando-o, cantando cantigas de ninar, beijando-o, abraçando-o. O segundo momento do cuidado (ou um segundo tipo) ocorre quando o fornecedor do cuidado favorece o outro em sua existencial potencialidade para vir a ser. Portanto, o outro é ajudado a assumir as condições de cuidar do seu próprio ser. Para Heidegger, cuidar é o que une realidade e possibilidade. Cuidar é permitir que os humanos realizem suas possibilidades. (apud. WALDOW, Vera Regina. Cuidado: uma revisão teórica. Rev. Gaúcha. Enf. Porto Alegre, Julho 1992).

Pode-se definir o governo passado como um governo que violou o povo brasileiro, no momento em que em virtude do seu descuidado permitiu que a desigualdade e a extrema pobreza voltassem a crescer no Brasil. Como disse Lula, a volta da fome é um crime, o mais grave de todos, cometido contra o povo brasileiro. Nos últimos anos, o Brasil voltou a ser um dos países mais desiguais do mundo: mães garimpando lixo, em busca de alimento para seus filhos; famílias inteiras dormindo ao relento; crianças pedindo esmola, quando deveriam estar na escola; filas no açougue em busca de ossos para aliviar a fome e, ao mesmo tempo, filas de espera para compra de automóveis importados e jatinhos particulares.

Mas a soberania popular, por meio do voto democrático e livre, pôs fim a arruaça neofascista. Agora é um novo tempo, tempo de união e reconstrução. Como afirmou o Presidente, que a alegria de agora seja matéria-prima da luta diária que havemos de enfrentar. Que a esperança de hoje fermente o pão que há de ser repartido entre todos. E que estejamos sempre prontos a reagir, em paz e em ordem, a quaisquer ataques de extremistas neofascistas que queiram sabotar e destruir a nossa democracia.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Editora Dialética); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

2 comentários

  1. Valdenirviana

    Podemos agora sonhar novamente, pois o pesadelo passou, também temos ainda um árduo caminho pela frente de reconstrução de nossa patria destruida pelo fascismo da era Bolsonarista que ainda a flora o coração de muitos. Mas como foi e será nossa lema o Amor sempre vencerá o ódio esta é a visão que passo para meu povo próximo