É hoje!

O ontem ameaçador acaba-se hoje. Agora começamos uma nova alegria. A retomada da vida em sintonia com os valores democráticos – liberdade, igualdade, fraternidade – construída mediante a participação popular, em espaços públicos de diálogos inclusivos, pelos quais serão apontados as novas direções e sentidos de nossa existência enquanto nação soberana no concerto das nações.

Hoje diremos não. Dizer não é o primeiro ato de liberdade. A negação dos grilhões. Só possui a capacidade de dizer não aqueles e aquelas que carregam em si a consciência do mal da opressão e a necessidade de romper consigo. Não às armas, às granadas, aos fuzis, à tortura, às emboscadas, ao extermínio dos indígenas, aos excludentes de ilicitude; não à pedofilia, pintada pelos climas dos machos brancos opressores; não ao racismo, cultuador  da nossa história escravocrata; não à mentira estruturada, disseminada diuturnamente pelos golpistas no poder; não à fome, não ao desemprego, não à uberização dos corpos trabalhadores; não ao fundamentalismo religioso, de padres e freiras, de pastores e pastoras, mantenedor de uma moral cínica, hipócrita, voltada apenas para a ambição de seus negócios privados, em detrimento do bem comum.

Hoje consolidamos o movimento de resistência ao Golpe de 2016, resistência à armação da Lava Jato, resistência à violência criminosa judiciária à prisão ilegal de Lula. Hoje dizemos não ao horror bolsonarista. Não à ditadura dos Sigilos de 100 anos. Não ao genocídio.

Dizemos sim ao sim! Sim à Vida! Sim às flores, às aves, aos peixes, aos rios, ao mar, ao ar, à terra, ao fogo iluminador de nossos corações e mentes. Sim à uma economia social – como tão bem descreve nosso querido amigo intelectual Kleber Maux Dias – na qual o objetivo não seja o lucro, mas o bem-estar coletivo (a felicidade) por meio da justa partilha dos bens produzidos socialmente, com amplo respeito à diversidade cultural do nosso povo.  Sim à retomada do Brasil enquanto nação soberana numa geopolítica multipolar onde ele atue com protagonismo na harmonização das relações internacionais, a partir do nosso continente latino-americano. Sim aos livros, ao futuro das gerações vindouras pela implantação de uma política de Estado de sustentabilidade ambiental e paz social. E ao dizer sim, comprometemo-nos responsavelmente com a construção desse novo caminho.

Viver democraticamente requer não apenas saber das próprias razões e projetos pessoais, fechando-se neles, atribuindo-lhes valor absoluto. É preciso aprender a conhecer as razões do outro, uma vez que a dimensão comum, componente de uma cultura e vida democrática, entre sujeitos livres e iguais, requer visões e responsabilidades compartilhadas. E o diálogo democrático apresenta-se como ferramenta fundamental. O que faz a ligação entre diversidade e unidade, entre liberdade negativa e liberdade positiva, é a vontade dos sujeitos por agir e debater livremente, de igual para igual, a respeito dos direitos e garantias democráticas, entre si e com os detentores dos recursos políticos, econômicos e culturais.

Como o objetivo da vida democrática consiste em governar homens e mulheres livres e iguais, convivendo pacificamente em um mesmo território, o diálogo democrático apresenta-se como ferramenta consistente com a qual as diferenças podem ser vividas sem jamais olvidar e ameaçar os princípios e valores, práticas e realidades que unem sujeitos numa vida em comum. Isto requer um aprendizado contínuo e engajado.

Hoje, brasileiros e brasileiras, a partir dos 16 anos de idade, por meio da soberania popular, retomam o seu caminho democrático, mandando o horror bolsonarista para o porão do qual nunca deveria ter saído. É hoje!

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

1 comentário

  1. Lianeide Souto

    Parabenizo e agradeço pelas reflexões e análises críticas sobre os ardis contra a democracia brasileira, gestados antes do Golpe de 2016 até hoje. Sua resistência expressa nos textos publicados neste espaço foi decisiva para alimentar o ideário de liberdade, igualdade e fraternidade. Estamos juntos nas ações para fortalecer a democracia brasileira.