CEGUEIRA POLÍTICA

Numa sala virtual lotada, com a inscrição de quase 600 militantes, oriundos de mais de 60 municípios cearenses, realizou-se no último dia 27 a Segunda Plenária do Movimento PT Lá e Cá, organizada por uma dezena de forças políticas internas do Partido dos Trabalhadores, entre as quais o Movimento PT, a Democracia Socialista, a Articulação de Esquerda, Optei, a Articulação e Unidade na Luta, o Núcleo Popular, Diálogo e Ação Petista, contando com a participação dos deputados federais José Airton Cirilo e Luizianne Lins, ambos pré-candidatos ao governo do estado do Ceará, e do deputado estadual Elmano de Freitas, líder da bancada do PT na Assembleia Legislativa, além de vereadores, vereadoras, presidentes de diretórios municipais, representantes de secretarias e setoriais do partido, do MST. A Plenária foi retransmitida on-line pelas mídias sociais dos parlamentares, permitindo a um público da ordem de 2.000 pessoas acompanhar o evento em tempo real, numa clara demonstração do interesse dos militantes e do acelerado crescimento deste Movimento em tão pouco tempo de sua existência.

A centralidade do encontro residiu na avaliação da defesa da candidatura própria do PT ao governo do estado do Ceará como uma definição estratégica para o avanço das conquistas auferidas até então na administração petista atual, bem como para garantir um palanque forte e fiel, sem ambiguidades nem vacilações, na eleição Lula Presidente 2022 e para todos os candidatos do Partido dos Trabalhadores aos diversos mandatos eletivos.

As intervenções foram marcadas por profunda qualidade analítica da conjuntura nacional, denunciando a maldade produzida pelo bolsonarismo militarizado no poder, que provoca sofrimento e pauperização da grande maioria da população brasileira, pela entrega do patrimônio nacional, pela violenta retirada de direitos da classe trabalhadora, pela ausência de políticas públicas distributivas e inclusivas, colocando em prática o receituário neoliberal, sob a batuta de Paulo Guedes, numa crise sanitária sem precedentes, com mais de 630 mil pessoas mortas pela covid-19, consequência de uma total irresponsabilidade da política de saúde nacional.

Por outro lado, o destaque da análise de conjuntura estadual coube aos deputados presentes quando questionaram uma série de procedimentos do governo estadual Camilo Santana que não contempla devidamente em sua administração quadros petistas, de reconhecido valor, e que deram seu suor para elegê-lo governador por dois mandatos. Por exemplo, travestido com aparência de governo tecnocrata, o governo Camilo Santana possuiu até 30 /12/2021 no seu quadro de Secretários nomes como o de Lia Ferreira Gomes e Lúcio Gomes (irmã e irmão de Ciro Gomes, o achincalhador contumaz do Presidente Lula).

Outro questionamento político levantado dirigiu-se ao compromisso que o atual governador terá em caso de ter o seu nome homologado pela convenção partidária como candidato ao Senado da República: “Camilo será o senador de Lula ou senador de Ciro?”, indagou um dos oradores em sua intervenção. Uma inquietação política que precisa ser rapidamente resolvida em função do crescente mal-estar causado pelas agressões indecorosas e sórdidas disparadas diariamente pelo candidato Ciro Gomes contra o presidente Lula e contra o PT de Camilo Santana.

Outro orador da Plenária, liderança popular da região do Cariri, Rafael Silva, expressou-se da seguinte forma: “O engraçado é que para defender os Ferreira Gomes, o governador Camilo Santana não espera nem o dia raiar. Agora, quando Ciro desce a lenha no PT e em sua maior liderança (Lula), o governador não é capaz de emitir uma nota sequer contra as infames agressões do Ciro. E depois, os radicais somos nós?”.

De fato, no dia seguinte à Plenária do Movimento PT Lá e Cá, o governador Santana foi aos jornais locais, e surpreendentemente abandonou o seu clássico perfil polido e conciliador, demonstrando evidente incômodo, partiu para o ataque raso, chamando de “cegos políticos” e “radicais” a militância e parlamentares que abriram o diálogo para refletir sobre a necessidade de candidatura própria do PT ao governo do estado. Talvez Camilo se considere o detentor da verdade absoluta. Pode ser.

É lamentável a postura do governador Camilo. A democracia é feita do contraditório. Em momento algum os oradores da Plenária baixaram o nível do tratamento pessoal, nem partiram para agressões gratuitas. Ter visões diferentes é o que faz da democracia o espaço de construção de novas possibilidades. Se não fosse assim, estaríamos vivendo na ditadura militar de 1964 até os dias de hoje. É justamente porque há visões diferentes, ser possível criar mundos novos. Mesmo se alguns, equivocadamente, que se encastelam no poder, achem que eles e suas visões serão eternos. São os arrogantes de sempre que se recusam a ver.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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