CONFIDÊNCIAS DO IGUATUENSE – PARÓDIA

Muitos anos vivi em Iguatu.

Principalmente nasci em Iguatu.

Por isso sou triste — e morro de saudades.

Saudade dos amigos, das rodas na calçada, do aracati soprando,

quando vem a madrugada…

A vontade de chorar, que às vezes sinto,

Vem de Iguatu, de suas tardes quentes, da praça da Matriz, dos carnavais no CRI…

Do Cine Alvorada…

E o hábito de sofrer, que tanto me persegue,

É doce herança iguatuense.

De Iguatu trouxe poucas coisas que ora te apresento:

Esta cesta de vime em que te sirvo pães (não os de Luiz Perpétua!) e a xícara do café

que mal lembra o gosto do café Tupy, de Epitácio Lima….

Este Menino Jesus sobre o centro de sala… não, minto, este eu trouxe de Praga.

Esta fotografia da igrejinha do Prado… Esta outra, da ponte, arqueada sobre as águas do rio Jaguaribe

nas invernadas.

Este jeito manso, esta voz trêmula, hoje arrastada…

Tive mais saúde, tive beleza, tive jovialidade.

Hoje sou um velho professor aposentado.

Iguatu é apenas uma recordação, uma lembrança vaga.

Dessas que doem por dentro — e nas tardes de domingo nos deixam amargurados.

 

Fonte da imagem: Wikipédia

 

Alder Teixeira

Professor titular aposentado da UECE e do IFCE nas disciplinas de História da Arte, Estética do Cinema, Comunicação e Linguagem nas Artes Visuais, Teoria da Literatura e Análise do Texto Dramático. Especialista em Literatura Brasileira, Mestre em Letras e Doutor em Artes pela Universidade Federal de Minas Gerais. É autor, entre outros, dos livros Do Amor e Outros Poemas, Do Amor e Outras Crônicas, Componentes Dramáticos da Poética de Carlos Drummond de Andrade, A Hora do Lobo: Estratégias Narrativas na Filmografia de Ingmar Bergman e Guia da Prosa de Ficção Brasileira. Escreve crônicas e artigos de crítica cinematográfica

1 comentário

  1. José Luiz

    Quanta sensibilidade nas suas palavras, Álder, parabéns ! As raízes não nos largam! E é um não-largar que não se quer largar mesmo, não é?
    Um forte abraço, e mais uma vez, parabéns !!!