Alvo de tentativas fúteis de dificultar o seu trabalho, o ministro da Justiça Flávio Dino vem expondo senadores e deputados de oposição ao ridículo. Na última terça-feira, novamente convocado por senadores do PL para falar sobre segurança pública em sua gestão, Dino deu uma verdadeira aula de conhecimento jurídico, de cultura geral, de domínio de linguagem e presença de espírito. O que fez a Sergio Moro, por exemplo, entra para os anais da Casa como emblemática capacidade de impor ao interlocutor a consciência de suas fragilidades “morais” e despreparo no confronto de ideias. Maldosamente questionado pelo ex-ministro do governo de JB, num golpe certeiro e demolidor, Flávio Dino levou Moro às cordas: “Eu fui juiz. Nunca fiz conluio com o Ministério Público. Nunca tive uma sentença anulada”.
Mas nada mais revelador da invulgar presença de espírito de Dino, a que se soma uma inteligência emocional impressionante, que a resposta dirigida a uma leviana acusação de Marcos do Val sobre os fatos fascistóides do 8 de janeiro em Brasília: “Não precisa de o senhor ir para a porta do Ministério da Justiça fazer vídeo de internet. Se o senhor é da Swat, eu sou dos Vingadores”.
Aos mais esquecidos, lembro: Val é aquele bolsonarista que se tornou nacionalmente conhecido por dizer-se instrutor da Swat e usar na lapela um broche do grupo policial americano altamente especializado. Descobriu-se, depois, que o broche era daqueles que se compram a qualquer ambulante da rua 25 de março. O fato, claro, como tem sido corriqueiro entre as “viúvas” do ex-presidente, expôs Val ao ridículo e levou senadores, mesmo os de oposição, a cair em gargalhadas. Dino, no entanto, numa demonstração de altaneira elegância, não fez pouco do seu acusador desajuizado, mantendo-se, do alto de sua sabedoria, como que indiferente à repercussão de sua fala.
Como lembra um colunista de prestígio, para além dos atributos de correção ética e densidade intelectual, Dino deu no Senado uma prova de que é também bom no manejo e controle de “gado”, que me perdoem a sutileza referencial. Tenho dito.
Hey Boy
Era pelos anos 70, num tempo em que, numa cidade do interior, ter quinze anos era quase como ser, quando muito, um “menino bonito”, aos olhos generosos dos mais velhos. Não para quem, como eu, teve o privilégio de ouvir, numa vitrola a pilhas (RayOvac), chegado a Iguatu pelas mãos do amigo Zé Neves, o primeiro disco dos Mutantes. O álbum, a rigor, fora lançado em 1967, mas, natural, à época, era enorme a distância que nos separava dos grandes centros — filmes, livros e discos demoravam a nos ser acessíveis.
Embasbacados, Neves, Frank Araújo, Clotildes (a nossa Rita Lee), Cariús e Luiz Aquino, quem sabe Miguel, curvávamo-nos aos acordes dissonantes, mas tecnicamente esmerados, dos irmãos Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, a que se somava, por óbvio, luminosa e desconcertante, a voz de uma belíssima moça de cabelos ruivos chamada Rita Lee.
E nunca mais seríamos, meus amigos e eu, apenas “meninos bonitos”, como mais tarde, no singular, ingênua e doce, se intitularia uma das mais amadas composições de Rita Lee.
O rock chegara a uma pequena cidade do interior.