UM PAÍS E SEUS TRAIDORES

A tática foi a seguinte. Em 5 de abril de 2019, depois de ter admitido ter pago a peça publicitária (outdoor) de autopromoção dos agentes públicos da assim chamada Operação Lava Jato, o procurador Diogo Castor de Mattos anunciou sua saída da força tarefa, apresentando atestado médico por estafa física e mental. Em troca, o corregedor-geral do Ministério Público Federal (MPF), Oswaldo Barbosa, arquivou o processo, numa articulação feita por Deltan Dallagnol.

O outdoor foi instalado em 17 de março de 2019, comemorando 5 anos da operação, na saída do aeroporto de Curitiba, com a foto dos nove procuradores e a chamada: “Bem-vindo à República de Curitiba. Terra da Operação Lava Jato, a investigação que mudou o país”. À época, com a repercussão desta autopromoção, Deltan Dallagnol (vulgo Deltinha, no submundo das ilegalidades), cinicamente como de costume, disse à imprensa: “Temos que dizer que não é de nossa autoria e nem sabemos de quem é”.

No dia 24 de julho de 2019, o músico João Carlos Queiroz Barbosa fez um boletim de ocorrência na Polícia Civil por “fraude e estelionato”, uma vez que teve seu nome e seus dados usados de forma criminosa pelos procuradores falseando como se o músico fosse o contratante do outdoor. Desde então o processo RD 100.579/2019-37 segue no CNMP, sob sigilo. Há outra reclamação disciplinar envolvendo “contratação e financiamento” do referido outdoor de número RD 100.589/2019-81, provocada pelo deputado federal Paulo Pimenta (PT-RS), instaurada no dia 09 de agosto de 2019.

Na edição deste sábado 10/04/21, o jornal francês Le Monde destacou como a dita Operação Lava Jato, chefiada pelo agente e ex-juiz ratoneiro Sérgio Moro (codinome Russo), declarado suspeito pela Suprema Corte brasileira (STF), atuou para destruir as instituições e empresas brasileiras, atendendo aos interesses dos Estados Unidos. Para o jornal, “o maior escândalo jurídico da história do país, a serviço de um projeto político, evidenciando cumplicidades e traições vergonhosas. Uma operação que na verdade era uma armadilha (= uma enganação ou tática utilizada para causar danos a terceiros), contra o Presidente Lula, contra o Partido dos Trabalhadores e, finalmente, contra o Brasil.

Dois anos antes, em 21 de maio de 2019, em entrevista ao jornalista Glenn Greenwald, do site The Intercept Brasil, o Presidente Lula repetia pela enésima vez não ter dúvida da interferência direta do Departamento de Estado dos EUA (Deep State) na Operação Lava Jato, sendo o agente Russo um subproduto da Rede Globo, a verdadeira mentora e orquestradora do passo a passo do “lawfare de perseguição política à sua pessoa e ao seu partido político.

SegundoLe Monde”, o objetivo de Washington com a instalação da Operação Lava Jato foi o de criar uma rede de especialistas locais (advogados, promotores e juízes) para defender os interesses e as posições estadunidenses sem deixar transparecer que trabalhavam para o Deep State. Assim, Moro (codinome Russo), que já colaborava com os EUA desde o caso Banestado, é convidado para participar deste “programa de relacionamento” financiado pelo governo estadunidense. Ao aceitar o convite, em 2007, Russo viajou para os EUA para realizar uma série de encontros pessoais com o FBI, Departamento de Justiça, CIA, entre outros. O foco dessas reuniões era desenvolver estratégias para correr atrás do Rei de forma sistemática e constante com o escopo de derrubá-lo: para que o Judiciário possa condenar uma pessoa notória por corrupção, é necessário fazer com que o povo odeie esse Rei. Além disso, pelo lado da empresa acusada, ela deve exigir a sua própria condenação”. O primeiro ato da peça se deu com o Mensalão que abriu as portas do aprendizado dos agentes para poderem dar vida ao segundo ato: a Lava Jato.

As táticas desenvolvidas eram a de ampliar e elastecer a aceitação de supostas provas por parte do Ministério Público, endurecer penas previstas em projetos de lei de combate à corrupção, garantir a adoção de delações premiadas como instrumento jurídico válido, escuta de telefones de advogados ou personalidades com imunidade parlamentar, ordens generalizadas de prisões preventivas, supressão do habeas corpus, tudo com ampla cobertura pela mídia hegemônica. As 10 Medidas de Deltan Dallagnol com sua cruzada pelo Brasil na coleta de assinaturas para a sua implantação para justificar e legalizar o Estado Policial em defesa dos interesses dos EUA eram uma das ações que foram desenvolvidas.

Por fim, quando a Lava Jato foi criada em 2014, o procurador federal Pedro Soares se opôs que Sérgio Moro assumisse o tratamento do caso, uma vez que os supostos crimes de Alberto Yousseff e Habib Charter ocorreram todos fora do Paraná. Registra o procurador: “Chama atenção o fato de que todas as medidas de busca e apreensão ocorrerão em endereços situados no estado de São Paulo. Não há um só endereço situado na área da Seção Judiciária Federal do Paraná. Não há notícia de qualquer crime praticado pelo grupo no Paraná. Corrigindo o erro material, requer-se a declinação para a Seção Judiciária Federal do Distrito Federal”. A Lava Jato continuou nas mãos de Moro, e o procurador Pedro Soares foi substituído por Deltan Dallagnol.Tudo sob o olhar das instâncias superiores do Poder Judiciário brasileiro.

Em estudo realizado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE) em parceria com a Central Única dos Trabalhadores (CUT) revela-se que a Lava Jato produziu à nação brasileira um prejuízo de R$173 bilhões, e destruiu 4,4 milhões de empregos. O setor mais atacado pela Lava Jato foi construção civil que perdeu 1,1 milhão de postos de trabalho. A destruição no mercado de trabalho foi tão extensa que atingiu categorias de setores fora das cadeias produtivas de construção e petróleo.

Portanto, a Lava Jato não atacou apenas o Rei, mas devastou grande parte do tabuleiro nacional. E no lugar do Rei, colocaram um Cavalo para prosseguir com a devastação. Pergunta-se: quando os responsáveis por essa devastação criminosa pagarão pelos seus atos?

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .