Nunca assisti nenhum Big Brother. Juro. Vi o primeiro Casa dos Artistas (É… eu tenho 31 anos) e lembro de torcer pelo Supla e Bárbara Paz. De resto, nunca fui de novelas, malhação, Sandy e Junior… Gostava de Mundo de Beackman, Castelo Rá-tim-bum, Cavaleiros dos Zodíacos, shurato, X-tudo, O Castelo de Eureka e até o Bóris Casoy eu assistia. Era o que criança podia ver lá em casa.
Com a adolescência continuei nos desenhos e peguei gosto por livros. Vez ou outra assistia Marimar e os clássicos mexicanos ou alguma novela no Vale a Pena Ver de Novo, mas o que sempre amei foram os filmes.
Nossa, esperava para assistir ao Cine Belas Artes, aos filmes de terror da Band e depois descobri o Cine Privê. Quem é da minha idade e nunca ouviu falar no Cine Privê ou tá mentindo ou é desmemoriado. E quem assistia vivia na iminência do pai ou a mãe verem. Era um acelerado de coração sem tamanho. Não sei se pela descoberta da sexualidade ou pelo medo de ser pega no flagra.
Analisando agora os programas de que gostava, eu sempre saí um pouco da linha do comum, talvez pela criação, talvez por mim mesma ou pelas amizades. Vai ver era tudo. Ou não, estou só tentando me achar especial. Enfim, com a idade adulta me peguei fascinada por sagas fantasiosas, séries e animações. As comédias românticas ainda são vistas, mas não sem uma boa problematização sobre a visão do ser mulher nos filmes. No entanto, uma coisa que mudou na minha vida adulta foi o gosto por reality shows.
Hoje assisto RuPaul Drag’s Race e uns programas aqui na Bélgica. Acompanho com fervor. Tenho meus participantes favoritos, faço críticas e choro em momentos de drama.
Aqui na Bélgica a programação local tem muitos reality shows, um dos mais conhecidos é o Temptation Island. Casais são separados e colocados em uma ilha com várias pessoas solteiras. A missão dos solteiros é beijar e transar com os comprometidos, e eles ganham dinheiro para isso. A missão dos comprometidos é manterem o relacionamento. Isso tudo com muita bebida, festa e situações complicadas para os casais. Pelo que entendi é só isso. Se não me engano, as pessoas escolhidas são famosos em redes sociais e mesmo eu não entendendo 99,9% do que eles falam, me divirto.
Enquanto assisto gosto de perceber as relações sociais daqui. Aprendo muito. Caso alguém pergunte, posso até dizer que estou fazendo um estudo sociológico. (risos) Outro reality que acompanho é um em que cientistas fazem o match perfeito, colocam esse casal em seu casamento e depois e eles vão morar juntos. É o Blind Getrouwd. Ah, uma coisa, essas pessoas NÃO SE CONHECEM. Elas se veem a primeira vez no dia do casamento. Isso mesmo. Se conhecem, casam e vão morar juntos. Depois de um tempo decidem se continuam casadas ou não. Muitos separam, mas o que percebi é que os que permanecem não se amam de fato, pois eles não passaram pela fase da paixão para só então chegarem à fase do amor. Eles foram logo pro hard – a convivência.
Os que se mantêm são sempre honestos e falam que não estão necessariamente apaixonados, mas que gostariam de construir algo com aquela pessoa. Acho interessante perceber isso. A maioria das pessoas, não todas, mas a maioria aqui quer construir juntas as coisas. A compra da casa, adotar bichos, ter família, viajar em família, pagar as taxas do governo… Nos ciclos sociais que conheci há a vontade de fazer acontecer e isso é novo para mim.
No Brasil sempre achei muito forçado. É sempre a mulher puxando tudo e a sociedade fazendo isso parecer normal. Talvez as minhas experiências digam isso… Não posso falar pela antropologia e sociologia, mas sentia isso nas novelas, relações familiares, revistas… A imagem do topo de bolo com o homem acorrentado, com a camisa de game over, com a placa “foge que dá tempo”, “não foge que ela tá linda” nunca me desceram como algo saudável. Principalmente quando isso não é apenas brincadeira, é real. É a nossa sociedade. Ver isso em uma sociedade machista como a brasileira me dói.
Para mim, as pessoas devem casar ou estar juntas por se gostarem, por estarem apaixonados e continuarem assim, mesmo conhecendo os defeitos do outro. Os dois, nunca só um. É uma relação social.
Enfim, hoje tem mais um episódio de Temptation Island, no último teve um beijo. Estou ansiosa pra acompanhar essa novela. (sim, gente, eu sei que tem roteiro, mas me deixa curtir um pouco.)