Trotski responde a Russel

Mais uma vez sobre pacifismo e revolução

 

Na coluna anterior publicamos o artigo do filósofo e matemático britânico Bertrand Russel (“Trotsky sobre nossos pecados”) sobre o livro “Para onde vai a Inglaterra?”, de autoria do líder revolucionário russo Leon Trotski. Hoje divulgamos a resposta de Leon Trotski. Como o texto de Russel, este de autoria de Trotski é publicado aqui pela primeira vez no Brasil. Além do valor científico e da importância política de que se reveste, o confronto intelectual dos dois grandes escritores é uma aula de como fazer uma polêmica de alto nível literário. (Auto Filho, editor da coluna).

 

[Uma resposta ao artigo “Trotsky sobre nossos pecados”, de Bertrand Russel1, publicado em The New Leader, 26 de fevereiro de 1926]

 

A maioria dos críticos britânicos de meu livro vê sua principal falha no fato de o autor não ser britânico e, conseqüentemente, ser incapaz de compreender a psicologia britânica, as tradições britânicas e assim por diante. No entanto, deve-se dizer que quanto mais os fabianos britânicos se apegam a esse argumento, menos parecem ser britânicos: em última análise, eles acrescentam muito pouco aos argumentos que ouvimos mais do que o suficiente dos mencheviques russos e, antes disso, dos populistas.

Hoje, quando saímos vitoriosos, os socialistas britânicos e europeus em geral tendem a permitir que sejamos deixados em paz em vista das peculiaridades de nosso país e de sua cultura nacional. Eles querem, dessa forma, erguer uma barreira essencialmente ideológica ao longo das mesmas fronteiras onde Lloyd George, Churchill, Clemenceau [2] e outros tentaram estabelecer um bloqueio de arame farpado material. “Pode ser bom para os russos” – assim os “esquerdistas” dizem para todos os efeitos -, “mas não deixem os russos ousarem cruzar as fronteiras russas com sua experiência e suas conclusões”. As peculiaridades do caráter britânico são apresentadas como uma justificativa filosófica para a teoria da “não intervenção” bolchevique.

Fabianos e outros críticos não sabem que temos sido bem temperados por todo o nosso passado contra os argumentos dessa marca. Mas a ironia nisso é que enquanto os fabianos estão de acordo hoje em dia, isto é, depois de nossa vitória, em reconhecer o bolchevismo, isto é, o marxismo em ação, como correspondendo às peculiaridades nacionais da Rússia, a velha ideologia tradicional russa e não apenas a do governo, mas a da oposição, considerava, invariavelmente, o marxismo uma criatura da cultura ocidental e proclamava sua total incompatibilidade com as peculiaridades do desenvolvimento nacional russo.

Minha geração ainda se lembra de como a esmagadora maioria da imprensa russa declarou os marxistas russos como alienígenas ideológicos que tentavam em vão transplantar a experiência histórica da Grã-Bretanha para o solo russo. Sob todos os pretextos, fomos lembrados de que Marx criou sua teoria do desenvolvimento econômico no Museu Britânico e através da observação do capitalismo britânico e suas contradições. Como as lições do capitalismo britânico poderiam ter qualquer relevância para a Rússia com suas enormes “peculiaridades”, sua população predominantemente camponesa, suas tradições patriarcais, sua comuna aldeã e sua Igreja Ortodoxa? Assim falaram os reacionários russos e os populistas russos com as variações apropriadas de direita e esquerda. E não foi apenas antes e durante a guerra, mas mesmo depois da revolução de fevereiro de 1917, quando o Sr. Henderson veio à Rússia para tentar persuadir os trabalhadores russos a continuarem a guerra contra a Alemanha, que dificilmente havia um único “socialista” no mundo, direita ou esquerda, que considerasse que o bolchevismo se adequava às peculiaridades nacionais da Rússia. Não, naquela época éramos, na melhor das hipóteses, considerados maníacos. Nossos próprios fabianos, os mencheviques russos e os chamados social-revolucionários, utilizaram contra nós os mesmos argumentos que hoje ouvimos de Lansbury, Brailsford, Russell e seus colegas mais de direita apresentando como as conquistas de uma filosofia britânica pura. No final das contas, o recurso à questão das peculiaridades nacionais constitui o último instrumento de qualquer reação ideológica para se proteger das demandas revolucionárias da época. Com isso, não queremos dizer de forma alguma que não existam peculiaridades nacionais ou que não tenham substância. O resíduo do passado representa, nas instituições e costumes, uma grande força conservadora. Mas, em última análise, as forças vivas do presente decidem. A posição da indústria carbonífera britânica no mercado mundial não pode ser retificada por nenhum recurso às tradições nacionais. Ao mesmo tempo, o papel da indústria do carvão no destino da Grã-Bretanha é incomensuravelmente mais importante do que todos os dispositivos e cerimônias do parlamentarismo. A Câmara dos Comuns se baseia no carvão e não o contrário. O conservadorismo das formas britânicas de propriedade dos meios de produção compreende apenas aquela “peculiaridade” nacional que só é capaz de aprofundar a crise social junto com todas as contradições revolucionárias que dela decorrem.

O Sr. Bertrand Russell, um filósofo dos matemáticos, um matemático dos filósofos, um aristocrata da democracia e um diletante do socialismo, considerou ser seu dever dedicar-se também, e não pela primeira vez, à destruição das idéias perniciosas que emanam de Moscou e são hostis ao espírito anglo-saxão.

Sobre a questão da religião, Russell dá um passo à frente de Brailsford. Ele admite que, nas condições atuais, qualquer religião organizada deve se tornar uma força reacionária (isso não impede Russell de deixar uma lacuna neste ponto: religião pessoal, bem, isso é outro assunto). Russell aprova nossos argumentos sobre o fato de que mesmo o rei mais econômico não pode se tornar parte integrante de uma sociedade socialista. Russell se recusa a considerar o caminho parlamentar como um caminho garantido para o socialismo. Mas todas essas admissões, bem como algumas outras, são feitas por Russell apenas para revelar mais nitidamente o caráter anti-revolucionário de seu pensamento sobre a questão do futuro caminho da classe trabalhadora britânica. Russell declara que a revolução proletária na Grã-Bretanha não apenas é perigosa, mas também desastrosa. A Grã-Bretanha depende demais dos países estrangeiros e, acima de tudo, dos Estados Unidos da América. Se isoladas por um bloqueio do mundo exterior, as Ilhas Britânicas não seriam capazes de alimentar uma população de mais de 20 milhões. “Enquanto [essa redução] da população estiver afetada pela fome”, Russell nos provoca, “a simpatia de Trotsky seria um grande conforto. Mas até que a Rússia Soviética possa colocar uma frota no Atlântico mais forte do que a da América, não está claro o que devemos ganhar com a simpatia, por mais entusiástica que seja”. Essas considerações estratégicas são mais interessantes na boca de um pacifista. Encontramos isto, em primeiro lugar: o destino do pacifismo britânico, na medida em que tenta se vincular à classe trabalhadora, depende da força da marinha americana. Em segundo lugar, descobrimos que não seria nada mau se o pacifismo britânico pudesse ser protegido de seus inimigos por uma marinha soviética com a força necessária. Nosso digno idealista rejeita desdenhosamente uma simpatia ideológica que não é reforçada por quantidades suficientes de granadas e minas. No entanto, para nós, é evidentemente mais do que suficiente.

As simpatias de Russell pela Revolução de Outubro (que, no entanto, são muito parecidas com antipatias) não nos proporcionaram nenhum “conforto” nos últimos anos. Mas a simpatia dos trabalhadores britânicos e europeus em geral nos salvou. É claro que Churchill nos causou tantos problemas quanto pôde. Chamberlain está fazendo tudo o que pode. Mas teríamos sido esmagados há muito tempo se as classes dominantes da Grã-Bretanha e da Europa não tivessem medo de enviar suas forças armadas contra nós. Claro que esta salvaguarda não é absoluta. Mas, junto com os antagonismos entre os estados capitalistas, provou ser suficiente para nos proteger de intervenções em grande escala durante os primeiros anos mais críticos. E, no entanto, antes e depois de outubro, nossos próprios Russells nos assegurariam que seríamos esmagados pelos exércitos dos Hohenzollern[3] ou os exércitos da Entente.[4]

Disseram-nos que o proletariado russo, sendo o mais atrasado e numericamente pequeno, só poderia tomar o poder em suas mãos no caso de uma vitória da revolução mundial. Fazer referência à revolução internacional como condição preliminar para a derrubada do Estado burguês em seu próprio país representa uma negação mascarada da revolução. Para que é a revolução internacional? É uma cadeia – e também não – de revoluções nacionais em que cada uma alimenta as outras com seus sucessos e, por sua vez, perde com os fracassos das outras. Em 1923, quando a situação revolucionária atingiu seu ponto mais agudo na Alemanha, os socialdemocratas de esquerda em sua luta contra os comunistas argumentaram o perigo de uma intervenção militar da França e da Polônia. Os mencheviques de esquerda alemães estavam totalmente preparados, pelo menos em palavras, para tomar o poder na Alemanha sob a condição de uma vitória preliminar do proletariado na França. Essa agitação menchevique foi um dos fatores que paralisaram a iniciativa revolucionária da classe trabalhadora alemã. No caso de um agravamento decisivo da situação política na França – e é assim que as coisas vão -, os socialistas franceses sem dúvida intimidarão os trabalhadores franceses com o perigo de uma revanche alemã, por um lado, e com o de um bloqueio britânico, por outro. Mas quem teria a menor dúvida de que Leon Blum [5], Jean Longuet [6]e outros heróis concordariam com a conquista do poder sob a condição de uma vitória preliminar e, o que é mais, uma vitória completa da classe trabalhadora da Grã-Bretanha e da Alemanha? E os socialistas dos pequenos estados consideram duplamente impossível começar uma revolução em casa enquanto a burguesia mantiver o poder nos grandes estados. Os mencheviques de diferentes países jogam o direito à iniciativa revolucionária de um lado para o outro com tanta habilidade quanto a foca no circo, jogando tochas acesas de um para o outro.

Russell, o pacifista, considera impossível embarcar em uma revolução na Grã-Bretanha enquanto os Estados Unidos mantiverem sua poderosa marinha. Claro que seria muito bom se o proletariado americano tomasse o poder em suas mãos em um futuro próximo e com ele a marinha. Mas então os Russells americanos não nos diriam que o poder proletário nos Estados Unidos seria inevitavelmente ameaçado pelas marinhas combinadas da Grã-Bretanha e do Japão? É verdade que esse argumento poderia ser ignorado se a revolução proletária realmente estivesse na agenda imediata dos Estados Unidos. Infelizmente ainda não. A Grã-Bretanha, sob todos os pontos de vista, está incomensuravelmente mais perto da revolução do que a América do Norte. Conseqüentemente, temos que reconhecer o fato de que a luta do proletariado pelo poder na Grã-Bretanha ocorrerá em face do domínio ainda inabalável da burguesia americana. Então o que nós podemos fazer? Russell indica, mas ironicamente, é verdade, uma solução para o problema: ele propõe à União Soviética que crie uma marinha capaz de garantir o livre acesso à Grã-Bretanha proletária. Infelizmente, a pobreza e o atraso tecnológico de nosso país não nos permitem, no momento, cumprir tal programa. Claro que seria mais vantajoso, econômico e simples se a revolução proletária começasse nos Estados Unidos e se estendesse pela Grã-Bretanha e do Ocidente para o leste, pela Europa e Ásia. Mas o curso real de desenvolvimento não é assim: a corrente de governo capitalista, como qualquer outra corrente, se quebra em seu elo mais fraco. Depois da Rússia czarista, a Áustria-Hungria, a Alemanha e a Itália chegaram mais perto de tudo que é parecido com a revolução proletária. Para a França e a Grã-Bretanha, o dia do acerto de contas para a guerra ainda está por vir. A Europa como um todo está incomensuravelmente mais perto da derrubada revolucionária do que os Estados Unidos. E isso tem que ser levado em consideração.

É claro que a situação de uma Grã-Bretanha bloqueada seria, em vista de sua dependência vital das importações e exportações, mais grave do que a situação de qualquer outro país europeu. No entanto, os recursos de uma Grã-Bretanha revolucionária em sua luta contra as adversidades também seriam extremamente grandes.

Embora se referindo à marinha americana, Russell, por algum motivo, se esquece da marinha britânica. Em mãos de quem estaria? Se permanecesse nas mãos da burguesia, o perigo mais próximo e mais agudo de ameaçar a revolução proletária não seria da marinha americana, mas da marinha britânica. Mas se esta acabasse nas mãos do proletariado, a posição se tornaria de imediato incomensuravelmente mais favorável do que Russell a descreve. Do nosso crítico não há uma palavra sobre essa questão de grande importância. Mas devemos insistir nisso com mais detalhes.

As principais peculiaridades do desenvolvimento britânico foram determinadas por sua posição na ilha. O papel da marinha britânica no destino do país formou a expressão mais nítida dessas peculiaridades. Ao mesmo tempo, os socialistas britânicos, que nos censuram por ignorância ou incompreensão das peculiaridades ocultas e imponderáveis ​​do espírito britânico, esquecem, sem exceção, quando discutem a questão da revolução proletária, uma quantidade extremamente ponderável, como a marinha britânica. Russell, embora ironicamente apelando para a ajuda da marinha soviética, não diz nada sobre a marinha de seu país, que continuou a ser reforçada com cruzeiros leves quando o partido de MacDonald, Brailsford e Lansbury estava no poder.

Trata-se aqui de conquistar o poder num país onde o proletariado constitui a maioria preponderante da população. O pré-requisito político para o sucesso deve ser apenas a aspiração do próprio proletariado de dominar o poder a qualquer custo, isto é, ao preço de qualquer sacrifício. Só um partido revolucionário é capaz de unir as massas trabalhadoras nessa aspiração. O segundo pré-requisito para o sucesso é uma compreensão clara dos caminhos e métodos de luta. Somente um partido operário livre da catarata pacifista em seus olhos pode ver e explicar ao proletariado que a real transferência de poder das mãos de uma classe para as mãos de outra depende em grau incomensuravelmente maior do exército britânico e da marinha britânica do que do parlamento. A luta do proletariado pelo poder deve, portanto, ser a sua luta pela marinha. Os marinheiros, não os almirantes, é claro, mas os foguistas, eletricistas e graduados devem ser educados para compreender as tarefas e os objetivos da classe trabalhadora. Um caminho para eles deve ser encontrado através de todos os obstáculos. Só um trabalho preparatório sistemático, obstinado e insistente pode criar uma situação em que a burguesia não possa contar com a marinha na luta contra o proletariado. E sem essa condição não faz sentido falar de vitória. 

É claro que é impossível conceber a questão como se no primeiro período da revolução a marinha fosse, em bloco e em ordem de combate total, passar para o lado do proletariado. As coisas não continuarão sem uma profunda inquietação interna dentro da própria marinha. A história de todas as revoluções é testemunha disso. A inquietação na marinha ligada a uma renovação geral do corpo de oficiais inevitavelmente significa um enfraquecimento geral da marinha por um período bastante longo. Mais uma vez, não se pode fechar os olhos para isso. Mas um período de crise e um enfraquecimento interno da marinha irão avançar mais rapidamente quanto mais decisivo for o partido dirigente do proletariado, quanto mais contatos ele tiver na marinha durante o período preparatório, mais ousado será durante o período da luta e mais claramente mostra a todas as pessoas oprimidas que é capaz de tomar o poder e retê-lo. O pacifismo afeta apenas de forma insignificante a máquina militar da classe dominante. A melhor evidência disso é fornecida pela própria experiência corajosa, mas geralmente fútil, de Russell durante a guerra. Isso resultou apenas em alguns milhares de jovens sendo presos por causa de sua “consciência”. No antigo exército czarista, membros de seitas e especialmente seguidores de Tolstói freqüentemente sofriam perseguição por esse tipo de antimilitarismo passivo. Mas eles não resolveram o problema da derrubada do czarismo. E na Grã-Bretanha eles não impediram e não puderam evitar que a guerra continuasse até o fim. O pacifismo volta-se não tanto para a organização militar do estado burguês, mas para as massas trabalhadoras. Aqui, sua influência é absolutamente perniciosa. Ela paralisa a vontade daqueles que, como elas, não sofrem com a falta dela. Prega a nocividade dos armamentos para aqueles que estão desarmados e representam as vítimas da violência de classe. Nas condições atuais da vida britânica, quando o problema é posto à queima-roupa, o pacifismo de Russell é totalmente reacionário.

Não faz muito tempo, Lansbury, de acordo com os jornais, conclamou os soldados britânicos a não atirar em grevistas. Milhares de pessoas presentes na reunião de trabalhadores e trabalhadoras levantaram as mãos para mostrar sua solidariedade a este apelo que, é verdade, dificilmente se reconcilia com a política de MacDonald e ainda representa um certo passo em frente no caminho da revolução. Deve-se ser muito ingênuo para pensar que o apelo de Lansbury abre a possibilidade de uma solução pacífica, sem sangue, e pacifista para o problema do poder. Pelo contrário, esse apelo, na medida em que faz algum progresso na prática, inevitavelmente trará os conflitos militares mais agudos. Não se pode imaginar que todos os soldados e todos os marinheiros se recusarão simultaneamente a atirar nos trabalhadores. Na verdade, a revolução vai cravar uma cunha no exército e na marinha; uma fenda se abrirá em todas as companhias e na tripulação de todos os navios de guerra. Um soldado terá decidido firmemente não atirar, embora isso possa lhe custar a vida. Um segundo vai vacilar. Um terceiro estará preparado para atirar em quem se recusa a atirar. E, no estágio inicial, mais numerosos são aqueles que vacilam. Como foi conosco em 1905 e 1917? O soldado ou marinheiro que manifestou na prática sua solidariedade para com os trabalhadores caiu sob o fogo de um oficial. No estágio seguinte, um oficial cairia sob o fogo de soldados inspirados no exemplo heróico de seus camaradas mais avançados. Esses conflitos se espalham. Um regimento no qual elementos revolucionários mantêm o controle se opõe a um regimento onde o comando do antigo corpo de oficiais é mantido. Ao mesmo tempo em que encontram apoio nos regimentos revolucionários, os trabalhadores se armam. Na marinha não foi diferente. Aconselharíamos muito Russell e seus simpatizantes a ver o filme soviético O Encouraçado Potemkin, que mostra de forma bastante gráfica o mecanismo da revolução dentro de uma massa armada de pessoas. Ainda mais importante seria mostrar este filme aos trabalhadores e marinheiros britânicos. Esperemos que o Partido Trabalhista o faça quando chegar ao poder.

Os congênitos burgueses fanáticos e os canibais civilizados certamente falarão com a maior irritação de como estamos lutando para colocar irmão contra irmão, soldado contra oficial e assim por diante. Os pacifistas irão repeti-los. Eles mais uma vez não deixarão de nos lembrar que vemos tudo sob uma luz sangrenta porque não conhecemos as peculiaridades da Grã-Bretanha e porque subestimamos a influência benéfica da moralidade cristã sobre os oficiais da marinha, os policiais e Joynson-Hicks. Mas isso não pode nos impedir. Uma política revolucionária exige, acima de tudo, que olhemos os fatos abertamente de frente para prever o curso de seu desenvolvimento posterior. Uma política revolucionária parece fantástica para os filisteus apenas porque é capaz de prever o dia seguinte, enquanto eles não se atrevem a pensar no dia seguinte.

Em condições em que o organismo nacional como um todo pode ser salvo não por terapia conservadora, mas apenas por intervenção cirúrgica e amputação do órgão maligno – isto é, a classe que sobreviveu a si mesma – os sermões pacifistas fluem em essência de uma atitude de indiferença complacente. O maior grau de “misericórdia” em tais condições exige a maior firmeza para reduzir o tempo e minimizar a dor. Quanto mais decididamente o proletariado britânico colocar suas mãos em todos os meios e implementos da burguesia britânica, menos tentação a burguesia americana terá de intervir na luta. Quanto mais rápida e plenamente o poder proletário dominar a marinha britânica, menos oportunidades a marinha americana terá de destruir esse poder na Grã-Bretanha. Não queremos dizer com isso que a intervenção militar da república transatlântica esteja excluída. Pelo contrário, é muito provável e, dentro de certos limites, inteiramente inevitável. Mas os resultados de tal intervenção dependerão em grande medida de nossa própria política antes e durante a revolução.

Para impor um bloqueio total às ilhas britânicas e, sobretudo, seu isolamento do continente europeu, o comportamento da marinha francesa não terá pouca importância. A burguesia francesa enviará seus navios de guerra contra a revolução proletária na Grã-Bretanha? Nesse aspecto, tivemos certas experiências. Em 1918, Millerand[7] enviou navios de guerra franceses ao Mar Negro contra portos soviéticos. O resultado é bem conhecido. O cruzador Waldeck-Rousseau ergueu a bandeira do motim. Nem tudo correu bem com os britânicos no norte da Rússia. A revolução é altamente contagiosa. E os marinheiros são, mais do que ninguém, suscetíveis à infecção revolucionária. Na época em que os marinheiros franceses Marty[8] e Badin[9]montaram a revolta porque não queriam entrar em ação contra a revolução proletária na Rússia, a França parecia estar no auge de seu poder. Mas hoje o período de avaliação da guerra começou também para ela, não menos do que para a Grã-Bretanha. Pensar que mesmo no caso em que na Grã-Bretanha a monarquia, latifundiários, banqueiros e industriais tenham sido jogados ao mar, a burguesia francesa manterá a possibilidade de desempenhar o papel de gendarme no Oceano Atlântico ou mesmo apenas no Canal da Mancha é mostrar um otimismo monstruoso por parte da burguesia e um pessimismo vergonhoso em relação ao proletariado. A Grã-Bretanha, isto é, sua burguesia, não foi à toa a governante das ondas. A revolução britânica criará ondas em todos os oceanos. Seu primeiro resultado será perturbar a disciplina de todas as marinhas.

Mas, no final das contas, mesmo na própria América, a marinha não é o fator decisivo final. O regime capitalista é mais poderoso na América do que em qualquer outro lugar. Conhecemos tão bem quanto Russell o caráter contra-revolucionário da Federação Americana do Trabalho, do qual ele nos lembra. Assim como a burguesia dos Estados Unidos elevou o poder do capital a um nível sem precedentes, também a American Federation of Labor[10]trouxe os métodos de conciliação ao limite mais baixo. Mas isso não significa de forma alguma que a burguesia americana seja todo-poderosa. É incomensuravelmente mais poderosa contra a burguesia européia do que contra o proletariado europeu. Sob a proteção da aristocracia operária americana, a mais privilegiada de todas as aristocracias operárias do mundo, adormecem e fermentam os instintos revolucionários e os humores das massas trabalhadoras multirraciais da América do Norte. Uma revolução no país anglo-saxão do outro lado do Atlântico afetará o proletariado dos Estados Unidos mais fortemente do que qualquer outra revolução anterior. Isso ainda não significa que o domínio da burguesia americana será derrubado no dia seguinte à conquista do poder pelo proletariado britânico. Uma série de distúrbios econômicos sérios, crises militares e políticas serão necessárias antes que o reino do dólar seja derrubado. A própria burguesia americana está hoje preparando essas crises, investindo seu capital em todo o mundo e, assim, vinculando seu domínio ao caos europeu e aos depósitos de pólvora do Oriente. Mas a revolução na Grã-Bretanha inevitavelmente evocará uma reação poderosa do outro lado da “grande água”, tanto na Bolsa de Valores de Nova York, quanto nos guetos dos trabalhadores de Chicago. Uma mudança ocorrerá imediatamente na autoconsciência da burguesia e do proletariado dos Estados Unidos: a burguesia se sentirá mais fraca e a classe trabalhadora mais forte. E a autoconsciência das classes é um elemento importante do chamado equilíbrio de forças. Mais uma vez, isso não significa que os banqueiros e magnatas americanos serão incapazes de fazer tentativas, com sua marinha, de sufocar economicamente a revolução do proletariado britânico. Mas tal tentativa por si só significará uma nova crise no regime interno dos Estados Unidos. Na contagem final, no próprio coração de cada navio de guerra americano, na casa das máquinas, não apenas os acontecimentos revolucionários na Grã-Bretanha, mas também os novos estados de espírito por eles produzidos no proletariado dos Estados Unidos terão seu efeito. Em conjunto, tudo isso não significa que a revolução proletária na Grã-Bretanha não esteja repleta de adversidades e perigos. Pelo contrário, tanto o primeiro quanto o último são colossais. Mas eles existem em ambos os lados. E é nisso que consiste a essência da revolução. Quanto maior o lugar ocupado por uma dada nação no mundo, mais amplas serão as forças de ação e contra-ação que a revolução desperta e libera. Nossas “simpatias” podem, nessas condições, ser de alguma utilidade.

As revoluções não são feitas na ordem da seqüência mais vantajosa. As revoluções geralmente não são feitas à vontade. Se alguém pudesse mapear racionalmente um itinerário revolucionário, provavelmente evitaria a revolução por completo. Mas este é exatamente o ponto, pois a revolução forma a expressão da impossibilidade de reconstruir a sociedade de classes por métodos racionais. Argumentos lógicos, mesmo se elevados por Russell ao status de fórmulas matemáticas, são impotentes contra os interesses materiais. As classes dominantes logo condenarão toda a civilização, incluindo a matemática, à ruína, em vez de renunciar a seus privilégios. Na luta entre os mineiros e os proprietários de carvão da Grã-Bretanha, a revolução vindoura já existe totalmente em embrião, assim como no grão de milho o futuro talo e espiga existem em embrião. Os fatores irracionais da história humana operam de maneira mais brutal por meio de contradições de classe. Sobre esses fatores irracionais não se pode saltar. Assim como a matemática, ao trabalhar com quantidades irracionais, chega a conclusões completamente realistas, então, em política, pode-se racionalizar, isto é, colocar um sistema social em uma ordem razoável, apenas levando em consideração claramente as contradições irracionais da sociedade para finalmente superá-las – não evitando a revolução, mas por meio de sua agência.

Poderíamos, essencialmente, terminar neste ponto. As objeções de Russell nos deram a oportunidade de examinar adicionalmente os lados da questão que nosso panfleto deixou na sombra. Mas talvez não fosse supérfluo abordar o último e mais poderoso argumento do crítico pacifista. Russell declara que nossa atitude em relação à revolução britânica é ditada por… nosso patriotismo russo. Ele diz:

Receio que, como o resto de nós, Trotsky seja um patriota no que diz respeito ao problema: uma revolução comunista na Inglaterra seria vantajosa para a Rússia; e, portanto, ele a aconselha sem considerar imparcialmente se seria vantajoso para nós.

Este argumento tem tudo a seu favor, exceto a novidade. Imprensa de Chamberlain e Joynson-Hicks, o Morning Post[11]leva isso com o maior fervor. Há muito tempo provou que o movimento comunista internacional serve aos objetivos do imperialismo soviético que, por sua vez, continua as tradições da política czarista. Esse tipo de acusação começou na época em que a burguesia se convenceu de que nosso partido havia tomado o poder para valer e não estava disposto a desistir. No período anterior à tomada do poder e logo a seguir a ela,  as acusações tinham, como é bem sabido,  uma natureza diretamente inversa. Os bolcheviques foram acusados ​​de serem alheios aos sentimentos nacionais e às considerações patrióticas e de executar a política Hohenzollern em relação à Rússia. E isso não foi há muito tempo. Arthur Henderson [12] , Emil Vandervelde [13] , Albert Thomas [14]e outros fizeram visitas à Rússia para convencer os trabalhadores russos de que os bolcheviques estavam dispostos a trair os interesses básicos da Rússia em favor de sua quimera internacional (ou, de acordo com outra versão, pelo o ouro do Kaiser alemão). Mais uma vez, foi o Morning Post que desenvolveu o tema com a maior nitidez e vigor. Exatamente da mesma forma que Russell agora nos acusa de estarmos prontos para reduzir a população da Grã-Bretanha a 20 milhões em benefício do imperialismo soviético, nove anos atrás fomos acusados ​​de uma prontidão impiedosa para reduzir a população da Rússia em duas – ou três – vezes em nome de nossos objetivos internacionais. O nosso partido, como é sabido, considerou que a derrota da Rússia czarista na guerra seria vantajosa tanto para a Rússia como para a classe operária internacional. Os lacaios socialistas da Entente não podiam nos tirar dessa posição. No período da paz de Brest-Litovsk, as acusações de uma política antinacional (na outra versão – de colaboração com Hohenzollern) atingiram seu auge. No entanto, nosso partido não se deixou arrastar para a guerra pelos interesses do capital americano. O regime Hohenzollern caiu e em sua queda a revolução de outubro desempenhou um papel não menos importante do que as armas da Entente. O antagonismo entre a República Soviética e os governos da vitoriosa Entente passou para o primeiro plano. O papel mundial mais reacionário é desempenhado pela classe dominante da Grã-Bretanha: na Europa, no Egito, na Turquia, na Pérsia, na Índia e na China. Quaisquer mudanças na situação mundial, seja econômica ou politicamente, são direcionadas contra a classe dominante da Grã-Bretanha. Conseqüentemente, a obsoleta burguesia britânica em sua luta por seu poder cada vez menor luta furiosamente contra as mudanças. A burguesia americana é mais poderosa. Sua luta contra a revolução será em maior escala. Mas a América representa o momento na segunda linha. O inimigo mais ativo e cruel do movimento revolucionário na Europa, na Ásia e na África é a classe dominante da Grã-Bretanha. Parece que, para um socialista, esse fato é mais do que suficiente para explicar o antagonismo entre a União Soviética e o Império Britânico. Somos “patriotas”? Na mesma medida em que éramos “antipatriotas” durante a guerra imperialista. Pelos métodos do poder estatal, defendemos os mesmos interesses pelos quais lutamos pelos métodos da insurreição: os interesses do proletariado mundial. 

Quando Russell diz que estamos preparados, no interesse do Estado soviético, para sacrificar os interesses da classe trabalhadora britânica, isso não é apenas falso, mas também absurdo. Qualquer enfraquecimento do proletariado britânico e, mais ainda, sua derrota na luta aberta, deve inevitavelmente infligir um duro golpe tanto na posição internacional quanto na interna da União Soviética. Quando, em março de 1921, os comunistas alemães fizeram uma tentativa artificial de forçar a revolução proletária, foram submetidos a duras críticas no Terceiro Congresso Mundial da Internacional Comunista. Eles se justificaram referindo-se à difícil posição da República Soviética e à necessidade de ajudá-la. Lenin e nós mesmos dissemos a eles: nem explosões heróicas e nem mesmo aventuras revolucionárias podem ajudar a República Soviética; precisamos da mesma coisa que o proletariado alemão precisa: isto é, uma revolução vitoriosa; seria fundamentalmente errado pensar que o proletariado de qualquer país deva, no interesse do Estado soviético, empreender quaisquer passos que não fluam de seus próprios interesses como classe que luta por sua libertação completa. Este ponto de vista que entrou em nossa carne e sangue é estranho aos socialistas que, se não sempre, pelo menos no momento decisivo, acabam invariavelmente do lado de sua própria burguesia. E Russell não constitui exceção. Para ter certeza, durante a guerra, ele mostrou bravura, ainda que politicamente sem esperança, na resistência ao seu governo: esta foi uma manifestação individual, uma homenagem à consciência – o destino do regime não estava em nenhum grau em perigo. Mas quando se trata da revolução do proletariado, Russell não consegue encontrar em seu arsenal intelectual quaisquer outros argumentos além daqueles que o tornam parente do Morning Post e de todos os Churchills de seu país.

A principal peculiaridade da política britânica e de sua história passada se resume na flagrante disparidade entre a maturidade revolucionária dos fatores econômicos objetivos e o atraso extremo das formas ideológicas, particularmente nas fileiras da classe trabalhadora. Menos ainda é essa peculiaridade básica compreendida pelas mesmas pessoas que a demonstram de forma mais aguda: os humanistas burgueses e os iluministas e pacifistas modernos. Junto com os reformistas pequeno-burgueses reacionários, eles se consideram os líderes ungidos do proletariado. Bertrand Russell não é o pior entre eles. Mas seus escritos sobre tópicos sociais e políticos, seu clamor contra a guerra, sua polêmica com Scott Nearing[15]quanto ao regime soviético caracterizam seu diletantismo superficial inconfundível, sua cegueira política e sua completa falta de compreensão do mecanismo básico do desenvolvimento histórico; essa é a luta das classes vivas que crescem a partir da base da produção. À história ele contrapõe a propaganda de alguns slogans pacifistas que formula de maneira bastante infeliz. E no processo ele se esquece de nos explicar por que o iluminismo pacifista não nos salvou de guerras e revoluções, apesar do fato de que pessoas eminentes como Robert Owen [16], na primeira metade do século XIX, os iluministas franceses do século XVIII, os quakers do século XVII e muitos, muitos outros se preocuparam com essa questão. Russell é um iluminista moderno que herdou do antigo iluminismo não tanto seu entusiasmo quanto seus preconceitos idealistas. Russell é um cético por completo. Ele contrapõe os métodos pacíficos e graduais da ciência e da tecnologia aos métodos violentos da revolução. Mas ele acredita tão pouco na força salutar do pensamento científico quanto na força da ação revolucionária. Em sua polêmica com Nearing, ele tenta, disfarçado por frases pseudosocialistas, menosprezar, desacreditar e comprometer a iniciativa revolucionária do proletariado russo. Em sua polêmica contra o biólogo Holden, ele zomba do otimismo técnico-científico. Em seu panfleto Ícaro, ele expressa abertamente sua convicção de que o melhor resultado seria a destruição de toda a nossa civilização. E este homem, devorado por vermes de cepticismo, egoísta, recluso e aristocrático, considera-se chamado a aconselhar o proletariado britânico e a adverti-lo contra as nossas intrigas comunistas! A classe trabalhadora britânica está entrando em um período em que requer a maior fé em sua missão e em sua força. Para obter isso, não há necessidade de quaisquer estimulantes como religião ou moralidade idealista. É necessário e suficiente que o proletariado britânico compreenda a posição de seu país em relação à posição de todo o mundo, que tenha clareza sobre a podridão das classes dominantes e que afaste do seu caminho os carreiristas, os charlatões e aqueles burgueses céticos que se imaginam socialistas apenas porque de vez em quando vomitam na atmosfera da apodrecida sociedade burguesa.

Criméia, em route
3 de maio de 1926

PS: Estas linhas estavam sendo escritas durante os dias em que a questão da greve dos mineiros e da Greve Geral pendia por um fio tênue. Hoje ainda não surgiu uma solução definitiva ou pelo menos a notícia dela não chegou. Mas seja qual for a direção que os acontecimentos na Grã-Bretanha tomem nos próximos dias e semanas, as questões às quais este artigo em particular é dedicado não podem mais ser retiradas da agenda da vida política britânica.

Notas

  1. Bertrand Russell (1872-1970). Famoso filósofo e matemático britânico, pacifista e radical de longa data que, muito tarde, assumiu uma posição de esquerda na campanha contra a Guerra do Vietnã.
  2. Georges Clemenceau (1841-1929). Principal político burguês francês. Ele emergiu como um radical durante o período da Comuna de Paris (1871). Na década de 1890, tornou-se popular por meio de sua participação no caso Dreyfus, que defendeu junto com Zola e Jaurés. Como um deputado proeminente no parlamento, Clemenceau mais de uma vez causou a queda de um governo com seus discursos enérgicos, e assim recebeu o apelido de “o destruidor de ministérios”. A partir de 1902 ele foi primeiro-ministro ou outro membro do governo. Como primeiro-ministro de 1917-1920, Clemenceau foi saudado como o “arquiteto da vitória” e foi a figura principal da conferência de paz de Versalhes em 1919. No mesmo período, ele foi o inspirador da intervenção contra a Rússia soviética.
  3. Hohenzollern foi o nome da dinastia governante na Prússia de 1701 a 1918. A partir de 1871, o rei da Prússia também foi imperador alemão. A dinastia foi derrubada na Revolução Alemã de novembro de 1918.
  4. A Entente era o nome da aliança entre a Grã-Bretanha, a França e a Rússia que travou a Primeira Guerra Mundial contra as Potências Centrais, Alemanha, Áustria-Hungria, Bulgária e o Império Otomano.
  5. Leon Blum (1872-1950). Líder do Partido Socialista Francês em 1924. Como extrema-direita, ele formou uma coalizão naquele ano com os radicais (liberais) sob o comando de Herriot. Ele se tornou primeiro-ministro de uma coalizão semelhante em 1936 na onda de grandes lutas trabalhistas, mas seguiu uma política traiçoeira de preservação do capitalismo e ganhou o apoio dos estalinistas com seu apelo demagógico para defender a democracia contra o fascismo. Ele seguiu a política de não intervenção de Laval na Espanha juntamente com Baldwin e Neville Chamberlain na Grã-Bretanha. Substituído como primeiro-ministro por Daladier em 1938, ele permaneceu líder dos socialistas até sua morte.
  6. Jean Longuet (1876-1938). Advogado e socialista francês que, na Primeira Guerra Mundial, ocupou uma posição pacifista, mas invariavelmente votou pelos créditos de guerra. Fundador e editor do jornal Le Populaire . No Congresso de Estrasburgo, em 1918, a maioria do Partido Socialista Francês adotou a política de Longuet. Depois do Congresso de Tours, em 1920, onde os comunistas ganharam a maioria, ele apoiou a minoria e juntou-se à internacional centrista que retornou mais tarde à Segunda Internacional. [Ele também era neto de Karl Marx. – ERC ]
  7. Alexandre Millerand (1859-1943). Originalmente um socialista francês, ele alcançou notoriedade como o primeiro socialista a entrar em um governo burguês, em 1899. Isso deu origem à condenação do parlamentarismo no Congresso de Amsterdã da Segunda Internacional, em 1904, e à unificação do Partido Socialista Francês, com base na oposição à participação em governos burgueses. Ele se tornou um importante político burguês e, como primeiro-ministro, em 1920, formou uma coalizão (o “Bloc Nationale”) e deu apoio aos brancos poloneses contra a Rússia soviética naquele ano. Ele foi presidente de 1920 a 1924, quando renunciou ao cargo pela oposição do Bloco de Esquerda que havia chegado ao poder.
  8. André Marty (1886-1956). Marinheiro francês que liderou o motim na frota do Mar Negro em 16 de abril de 1919, quando unidades francesas estavam operando em apoio aos brancos na Rússia. A frota teve que ser retirada. Marty se tornou um dos principais membros do Partido Comunista Francês, mas foi expulso em 1952.
  9. Um associado menos conhecido de Marty na liderança do levante dos marinheiros franceses.
  10. Fundada em 1881 como a Federação de Sindicatos e Comércios Organizados, em 1886 tornou-se a Federação Americana do Trabalho. Liderada por Samuel Gompers, a federação uniu sindicatos artesanais que preservaram um amplo grau de independência. Os líderes eram extremamente patrióticos e anti-revolucionários, baseando-se nos setores mais qualificados e conservadores dos trabalhadores americanos.
  11. Morning Post foi um jornal diário conservador publicado em Londres de 1772 a 1937, quando foi comprado pelo Daily Telegraph .
  12. Arthur Henderson (1863-1935), um líder do Partido Trabalhista britânico, que convocou o partido para apoiar a Primeira Guerra Mundial e se tornou ministro do governo. Posteriormente, foi ministro do Interior no primeiro governo trabalhista (1924) e ministro das Relações Exteriores no segundo governo trabalhista (1929-1931).
  13. Emile Vandervelde (1866-1941), líder do Partido Operário Belga (POB) e presidente da Internacional Socialista (1900-1918)
  14. Albert Thomas (1878-1932), um socialista francês moderado, que apoiou a Primeira Guerra Mundial e se tornou ministro do governo. Ele foi enviado à Rússia em 1917 para tentar persuadir o novo governo a permanecer na guerra. Após a guerra, ele se tornou chefe da Organização Internacional do Trabalho (OIT).
  15. Scott Nearing (1883-1983). Sociólogo nos Estados Unidos que perdeu um posto universitário por se opor à Primeira Guerra Mundial. Trabalhou como jornalista na Grã-Bretanha durante os anos 1920.

16. Robert Owen (1771-1858), um socialista utópico galês que desempenhou um papel importante nos primeiros movimentos da classe trabalhadora e socialista britânica. Ele também é considerado o fundador do movimento cooperativo.

Auto Filho

AUTO FILHO é professor de Filosofia e Economia Política da Universidade Estadual do Ceará. Foi editor literário do jornal Gazeta de Notícias e Crítico de Arte do jornal Unitário.

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