A liberdade é uma luta constante. Angela Davis sabe muito bem disso. Filósofa e professora, militante dos direitos humanos, nascida em 1944, no estado do Alabama, um dos mais racistas do sul dos Estados Unidos, onde a presença da organização criminosa branca Ku Klux Klan era constante nos agressivos ataques a crianças, adolescentes, jovens, adultos, casas e igrejas dos bairros habitados por pessoas de pele negra. Em 1970, Angela tornou-se a terceira mulher a constar na lista das pessoas mais perseguidas pelo FBI (polícia federal estadunidense) em virtude de sua militância nos movimentos negros e feministas que estavam impactando aquele país na luta pelos direitos civis. John Lennon e Yoko Ono compuseram a canção “Angela” referenciando a sua garra, e o grupo Rolling Stones gravou a música “Sweet Black Angel” pedindo a libertação da ativista presa injustamente.
Ela é um símbolo de engajamento que invoca as pessoas pelo mundo afora a tomarem parte nas lutas pela liberdade. Um dos princípios fundamentais de sua práxis encontra-se no pensamento do líder negro cristão Martin Luther King: “A justiça é indivisível. A injustiça perpetrada em qualquer lugar do mundo é uma ameaça à justiça em todo mundo” (in A liberdade é uma luta constante. Boitempo, 2018). Para ela, esse deveria ser o lema de todos os movimentos sociais.
Ontem, 1º de fevereiro, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, suspendeu o sigilo de conversas pelo celular entre o procurador da Operação Lava Jato, Deltan Dallagnol, vulgo Deltinha, e o ex-juiz Sérgio Moro, cujo codinome é Russo. O material tem ao todo 50 páginas. O site The Intercept Brasil já havia publicado anteriormente diversos diálogos entre os procuradores, revelando ao Brasil a natureza criminosa das ações daqueles agentes públicos. Mas neste material, com páginas inéditas, Russo aparece mais explicitamente como o elemento central articulador da trama realizada por aquele bando.
Ainda antes do Golpe de abril de 2016, mais precisamente no dia 14 de setembro de 2015, Russo diz para Deltinha que havia despachado pela manhã dois casos, mas que para ele decretar prisão preventiva, a prova construída precisava ser melhorada, no que Deltinha agradece: “obrigado por informar”. No dia 19 de outubro de 2015, continuam com a mesma troca de dicas e acertos para realizarem condenações. Russo diz: “Decretei nova prisão de três da Odebrecht, tentando não pisar em ovos. Receio alguma reação negativa do STF. Convém avisarem a PGR”. No que Deltinha agradece: “Marcado. Show”.
No ano seguinte, em 13 de Março de 2016, um mês antes da sessão da Câmara Federal que daria início à cassação do mandato da presidenta Dilma Rousseff, a construção midiática da imagem pública de Russo, pelas mãos da Rede Globo, corria a todo vapor. Deltinha não resistiu e enviou-lhe a seguinte mensagem: “Parabéns pelo imenso apoio público hoje. Você não é mais apenas um juiz, mas um grande líder brasileiro. Seus sinais conduzirão multidões”. De fato, sob a coordenação da Globo, MBL e Vem pra Rua, Russo foi aclamado como um justiceiro pelos moradores da Avenida Paulista e similares pelo Brasil afora.
Já em 22 de abril, Russo afirmou numa conversa com Deltinha: “In Fux we trust”, em relação à sua fé noministro Luís Fux do STF. E no final daquele mesmo ano, no dia 16 de dezembro, ambos conversam alegremente. Deltinha diz: “Denúncia do Lula sendo protocolada em breve”. E Russo lhe responde: “Um bom dia afinal!”.
Estas são pontas de um iceberg muito mais profundo de corrupção do processo jurídico, nas instituições justiça brasileiras, comandadas por Deltinha e Russo. Estamos aguardando novas páginas serem publicadas, porque isso é um direito do povo brasileiro ter acesso a essa lama de corrupção perpetrada por esses agentes públicos.
O renomado jurista Lênio Streck postou em seu twitter: “[TRF, Moro, Lava Jato e Globo têm um sonho: que Lula não seja candidato em 2018. E o outro sonho de consumo deles é ter uma fotografia dele preso para terem um orgasmo múltiplo, para terem tesão], afirmou a procuradora Lívia Tinoco, diretora cultural da ANPR(Associação Nacional dos Procuradores da República). O que dizer disso?”.
O advogado Marcelo Uchoa, ontem em entrevista ao programa “Bom para Todos”, da Rede TVT, afirmou categoricamente que ambos, Russo e Deltinha, são tremendamente corruptos. Cometeram crime de lesa-pátria, crimes contra a democracia brasileira, crimes contra a soberania nacional, sustentados pelo TRF-4 e pela Rede Globo. Precisam ser punidos exemplarmente, eles e toda a facção.
Como consequência imediata e urgente, para que o Brasil possa retomar o rumo da democracia, o processo contra o ex-presidente Lula precisa ser o quanto antes declarado nulo em sua totalidade pelo Supremo Tribunal Federal, restituindo-se a plenitude dos seus direitos políticos.Relembrando: “A justiça é indivisível. A injustiça perpetrada em qualquer lugar do mundo é uma ameaça à justiça em todo mundo”.