Modernidade líquida, no entendimento de Zygmunt Bauman (1925 – 2017), ou pós-modernidade, são os nossos dias. Relativismo, niilismo, hedonismo, fundamentalismo, multiculturalismos diversos, cosmopolitismo e nacionalismo convivem conflitando no mais promíscuo ecletismo. A instabilidade das referências alcança a normatividade jurídica, instituições políticas e culturais. Lideranças políticas, morais e religiosas se liquefazem. Escola, família, igreja e organizações sociais fragilizam-se. Criminalidade, corrupção e drogas lícitas e ilícitas tornaram-se dominantes.
O apelo por lei e ordem ganhou apoio. Conservadores, depois de muito tempo satanizados, saiíam das sombras. Tornaram-se uma força expressiva. Liberais, surfando no desastre econômico do pensamento hegemônico que propunha consumo sem renda, crescimento sem investimento, paz social sem o cumprimento da lei e igualdade de resultados. Contrariar tudo isso deixou de ser heresia. Dizer que iniciativas governamentais precisam esclarecer quanto custam e de onde sairá o dinheiro para custeá-las, discurso dos economistas liderais, passou a encontrar ouvidos. Mas a demanda diluvial por direitos continua crescendo, preocupando Norberto Bobbio (1909 – 2004), na obra A era dos direitos (Campus, RJ, 1992). As redes sociais, com a quebra do monopólio da interpretação dos fatos pela escola e meios de comunicação social tradicionais ajudou a mudança. Lideranças e partidos que exibiam ares de superioridade moral e intelectual já não são unanimidade.
A aliança liberais-conservadores enfrenta dificuldades agravadas pela diversidade de entendimentos e competição de lideranças em cada uma dessas vertentes. Enfrentam hedonistas, niilistas, a reengenharia social messiânica que para uns é religião secular, para outros uma técnica de manipulação social, arrimada em supostas leis da História. A aliança revolucionária-reformista é o obstáculo ao conservadorismo e ao liberalismo que perseguem outro tipo de reforma. Os revolucionários e reformistas têm ainda como aliados os niilistas e hedonistas. Também é uma aliança problemática. Mas as mil e uma faces desta heterogênea aliança é o ópio dos intelectuais, no dizer de Raymond Claude Ferdinand Aron (1905 – 1983), referindo-se a uma parcela mais restrita da grande aliança aludida. Isaiah Berlin (1909 – 1997) os considerava românticos, em razão do titanismo, traço romântico que consiste em contrariar os fatos. Este é um grupo mais preparado para a luta política, na mesma proporção em que é despreparado para governar construtivamente de modo sustentável.
O outro grupo, por não brigar com os fatos, tem mais aptidão para governar. Os maiores estadistas da Alemanha foram, no séc. XIX, Otto Eduard Leopold, prince von Bismarck (1815 – 1898) e, no séc. XX, Konrad Hermann Joseph Adenauer (1876 – 1967), conservadores. No Reino Unido foi Winston Leonard Spencer-Churchill (1874 – 1965) e Margaret Hilda Thatcher (1925 – 2013), todos conservadores e os maiores governantes de seus países. Na França o conservador Charles André Joseph Marie De Gaulle (1890 – 1970), no Brasil Getúlio Dornelles Vargas (1882 – 1954) e muitos outros foram bem sucedidos governando. A longa ausência no poder; a falta de preparo; a dificuldade de fazer alianças ameaçam a governabilidade. Inexperiência e temperamentos instáveis comprometem a governabilidade.