Temer é campeão de impopularidade. Dominou a inflação e os juros sem controle de preços ou de câmbio. O PIB parou de cair e cresceu um pouco. A política reflete a economia? O crescimento é pequeno, o desemprego não apresenta recuperação significativa. Mas a inadimplência caiu e o consumo cresceu. O saldo é positivo, sem ser espetacular. A maioria dos eleitores não analisa a economia com clareza, pode-se obtemperar, pelas viseiras da paixão política e pela desinformação deliberada. Ainda é pouco para tão baixa popularidade. Então vem a corrupção: vários assessores, aliados e amigos do presidente estão sendo investigados, presos e denunciados. Ao invés da tão repetida expressão “é a economia, idiota”, passaríamos dizer “é a corrupção, idiota”. Mas personagens envolvidas na corrupção, inclusive com condenação em duas instâncias, como Lula, continuam desfrutando de mais popularidade do que o Temer. Macunaíma não se importa tanto com corrupção.
Então são as reformas trabalhista, a tentativa de reformar a previdência e o esforço para restabelecer um mínimo de equilíbrio nas contas públicas. Outra vez temos a complexidade dificultando a compreensão por parte do público. Interesses corporativos e eleitoreiros, além das viseiras dos paradigmas, que Thomas Kuhn (1922 – 1996) considerava inacessíveis a razão, ou das tradições teóricas e metodológicas. Tais obstáculos são maiores na imprensa e nas universidades, juntamente com a reverberação as escolas, daquilo que é semeado nos campi. A sociedade, porém, está dividida. A hegemonia absoluta de um viés está abalada. A maioria silenciosa, que era silenciosa demais, resolveu intervir.
Não é a economia nem a corrupção. É a informação, cujo monopólio dos aparelhos foi cuidadosamente conquistado após anos de trabalho envolvendo a triagem na publicação de artigos em revistas científicas e nos concursos para a pós-graduação e o magistério. A popularização das teses baseada nas correntes heterodoxas da economia, algum tempo denominadas “nova matriz econômica”, contou ainda com a conquista pelo ativismo político da chamada “sociedade civil organizada”, ou aparelhada, como diz Nêumanne Pinto. Mas tudo isso foi abalado.
A sociedade civil desorganizada, livre por não ser organizada, acordou ao cair no abismo da recessão. A tribuna das redes sociais, ensejou o furo do aparelhamento dos meios de comunicação e das instituições. O direito premial ajudou a desmascarar corruptos, somado aos rastros indeléveis dos computadores e celulares e aos acordos internacionais para quebrar o segredo dos paraísos fiscais, tudo isso criou uma situação nova, uma janela de oportunidade para os brasileiros. Saberemos aproveitá-la?