Sobre os meus ídolos

Grande parte dos meus ídolos moram aqui e dos meus heróis, também. Tudo gente simples, livre, criativa, sensível e anônima. Quase nenhum deles se benze. Nunca aprenderam a bater continência, mas batem tambor com maestria. Alguns não sobem ao palco há tempos e os que sobem nunca tiveram camarins. Os figurinos são dos mais finos: alegres, bordados e de cores fortes, vibrantes. Boa parte é chamada de comunista e quando em vez: foram. E quando em sempre: são. Hasteiam suas bandeiras na “cara dos caretas”.  São vermelhos, furta-cor, camaleônicos. Meus ídolos e meus heróis não possuem mais que dois sobrenomes. A maioria deles é Silva! Não costumam perguntar de onde você veio e nem o que faz da vida. O importante pra eles, é que vocês sejam quem são…e que os sintam, os vejam, os ouçam. Não usam dourado. Dançam côco, brincam de boi bumbá e vestem-se de “Catirinas”, são maracatus, capoeiras, são circo, teatro e carnaval. Pra gente chegar perto – meus senhores – tem que rasgar títulos, baixar patente e desaprender tudo enquanto for pronome de tratamento.

Marta Pinheiro

Poetisa, natural de Fortaleza, Ceará. Desde pequena demonstrou grande interesse pela literatura, aos 9 anos de idade fez seus primeiros rascunhos. Autora de contos e poesias que retratam cenas cotidianas. Atua como produtora cultural. Foi uma das fundadoras do Bloco Carnavalesco Hospício Cultural e uma das idealizadoras do projeto Sarau Casa de Poesia, iniciado em 2015 juntamente com a poetisa Carol Capasso. Teve dois de seus poemas publicados na antologia poética “ Flor de Resistência” organizado pelos escritores Ricardo Kelmer e Alan Mendonça. Seu livro de estréia é “Engenho de Dentro”, em processo de finalização.