Queria ser o anjo a ouvir o clamor de Rilke em elegia:
– “Quem, se eu gritasse, entre as legiões dos Anjos me ouviria?”
Ou quem sabe Gabriel interpelando Maria:
– “Alegre-se, cheia de graça! O Senhor está com você.”
E Simeão a lhe advertir:
– “Quanto a você, uma espada há de atravessar-lhe a alma. Assim serão revelados os pensamentos de muitos corações.”
Talvez seja eu o poeta clamando por algum anjo, messias, compadecimento.
– “Eu queria ser sereno, Aurora, pra nessas rosas eu cair.”
Existe uma sina traçada desde pequenininho, e sigo amando-a como um Albatroz caído ao convés.
Existe também uma máquina de ressonância magnética; ressoa em seu interior algo de assemelhado aos coros angélicos no último orbe. Uma máquina marciana terapêutico-abdutiva; uma câmara luminosa resgatando almas em sono, dementadas ou ressentidas em Nosso Lar. Cantado o vigésimo terceiro salmo, manifesto o espírito que moveu a letra de Paulo e todo um magnetismo de chumbo passou a converter-se em ouro mediante um coração em busca de revivificar seus sete corpos, chamados: físico, vital, astral, etérico (mente concreta e abstrata), búdico e atman.
Rilke bem sabia que todo anjo é terrível em sua beleza:
“E mesmo que um deles me tomasse inesperadamente em seu coração, aniquilar-me-ia sua existência demasiado forte. Pois o que é o Belo senão o grau do Terrível que ainda suportamos e que admiramos porque, impassível, desdenha destruir-nos? Todo Anjo é terrível.”
Mas qual, dentre eles, ainda assim, ouviria?