Russo é o codinome beija-flor com o qual era tratado pelos operadores (procuradores de justiça) da dita Operação Lava Jato nos porões do submundo das manipulações processualísticas o ex-juiz de Curitiba e agora ex-ministro bolsonarista Sérgio Moro. O excelente trabalho investigativo do jornalista Glenn Greenwald juntamente com o site The Intercept Brasil possibilitaram à cidadania brasileira ter acesso a revelações essenciais que denunciam o comportamento nada republicano (para dizer o mínimo) de Russo que se comportava como um juiz acusador, opinando e orientando em vários momentos como os procuradores deveriam agir na condução da operação, para quem o objetivo central foi o de buscar destruir publicamente a biografia do Presidente Lula e encarcera-lo para que não tivesse condições de disputar as eleições presidenciais de 2018 na condição de melhor colocado nas pesquisas de opinião, cumprindo rigorosamente o roteiro de consolidação da segunda etapa do Golpe de 2016, iniciado com o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Alcançado o objetivo, Russo largou a magistratura federal para alçar novas ambições ao aceitar o ministério da Justiça no governo bolsonarista.
Bolsonaro já havia agradecido em janeiro de 2019 publicamente ao gal. Villas Bôas por considera-lo um dos responsáveis por sua eleição a presidente. No dia 08 de novembro, por ocasião da formatura de 500 policiais federais em Sobradinho, no Distrito Federal, afirmou em alto e bom som que “se essa missão dele (Moro) não tivesse sido bem cumprida, eu (Bolsonaro) não estaria aqui. Então, parte do que acontece na política do Brasil, devemos ao ex-juiz Sérgio Moro”. Lapidar esse discurso que se configura como mais uma excelente prova contra Russo. Justamente por conta desse viés parcial e político no seu ofício como juiz federal, ele aguarda o julgamento da Corte Suprema brasileira de um processo no qual é acusado pelo “completo rompimento da imparcialidade” nas causas contra o Presidente Lula.
Em sua coletiva como ministro demissionário, no dia 24 passado, o ex-juiz de Curitiba fez questão de manifestar publicamente uma confissão de um fato até então desconhecido pela cidadania brasileira. Poderia não tê-lo feito, não foi obrigado a fazê-lo; mas o seu inconsciente sugeriu-lhe que o fizesse. Disse: “Tem uma única condição que coloquei, que revelo agora. Eu disse que como eu estava abandonando (livremente) minha carreira de 22 anos da magistratura e contribui 22 para a previdência, pedi que, se algo me acontecesse, que minha família não ficasse desamparada sem uma pensão. Foi a única condição que coloquei para assumir a posição no ministério”. Na coletiva Russo não explicou como seria paga essa pensão. Antecipadamente? Por meio de algum grupo de empresários? Com depósitos no exterior? Seria criado algum instrumento legal para beneficiá-lo? O fato é que, em sendo a “única condição” para o aceite, algo deve ter ocorrido, afinal ele aceitou ser ministro. Portanto, requer da Procuradoria Geral imperiosa investigação, pois está a indicar ocorrência de um possível crime de corrupção passiva. Isso seria mais um fato grave a depor contra o governo Bolsonaro.
Por fim, ainda na coletiva demissionária, Russo rasgou elogios ao delegado Maurício Valeixo por não haver cumprido uma ordem liminar judicial exarada pelo desembargador Rogério Favreto concedendo habeas corpus ao Presidente Lula, em 08 de julho de 2018, fundamentada no “impedimento do exercício regular dos direitos políticos de Lula, gerando grande falta de isonomia do próprio processo político em curso, o que poderá contaminar todo o exercício cidadão da democracia e aprofundar a crise de legitimidade, já evidente, das instituições democráticas”. Em vez de obedecer a ordem do desembargador, Valeixo obedeceu a um despacho do ex-juiz que estava em férias no exterior, portanto fora do Brasil e fora de ofício. Russo deixa transparecer algo de muito nefasto nesta sua comunicação, uma cumplicidade com a manipulação na aplicação da lei, segundo seus interesses. Como confirma o psicanalista Jacques Lacan em seus estudos sobre a mente humana, fala a boca do que está cheio o coração. Confirmam-se, também aqui, as palavras de Bolsonaro registradas acima: boa parte do que acontece na política do Brasil tem o dedo de Russo. Sempre em conchavo com a Rede Globo.