O nome de Joaryvar Macedo confunde-se com a Historiografia do Cariri, região para a qual dirigiu a sua tarefa de pesquisador e a sua preocupação de genealogista.
Integrou o grupo dos grandes historiadores cearenses que, partindo de documentos primários, melhor se aproximaram dos modernos ensinamentos historiográficos.
De Joaryvar Macedo pode ainda dizer-se que ele foi a história do Cariri se movimentando, se expressando em gestos e palavras, se dimensionando nas páginas dos livros e opúsculos que nos legou e nos trabalhos esparsos respingados na imprensa caririense e na Revista do Instituto do Ceará.
“Homem calmo, de sólida cultura, não sabe fazer alarde pessoal de seus conhecimentos. É valor autêntico da cultura caririense que começa a espraiar-se por aí afora”. Foi assim que se manifestou J. de Figueiredo Filho quando, em data solene para as letras sul-cearenses, o recebeu como sócio efetivo do Instituto Cultural do Cariri. Na época, Joaryvar Macedo era ainda um principiante, com três ou quatro títulos publicados.
Daí em diante, podemos afirmar, é que a “cachaça da pesquisa” o embriagou realmente, a ponto de ser considerado “o mais abalizado historiador do sul do Estado”, consoante opinião de Raimundo Girão, em O Povo, edição de 29 de novembro de 1981.
Contudo, não são apenas esses os elementos que determinam a sua envergadura de homem de letras, pois o seu dinamismo de publicista levou-o a fundar, em 1974, em Juazeiro do Norte, o Instituto Cultural do Vale Caririense, do qual foi aclamado presidente, brindando à história do sul do Ceará com os números do seu Boletim, em cujas páginas acolheu o pensamento mais expressivo da cultura do Cariri e do Nordeste.
Em todos os seus trabalhos, Joaryvar Macedo primou por um estilo eloquente, e o equilíbrio da sua expressão literária mostrou-se sempre agregado à estrutura da sua narrativa. E quando expendiu juízos em torno de fatos históricos, ele o fez com a melhor clareza do raciocínio.
Com sua linguagem pontilhada de ingredientes retóricos, demonstrou-nos Joaryvar Macedo, em todo o percurso de sua escritura, possuir a dotação de um clássico, sendo ele um moderno.
Esse grande historiador cearense estreou como poeta, fazendo sonetos à antiga, vindo, depois, a se definir pela pesquisa. Como escritor, revelou diversas facetas do seu engenho e açambarcou vários domínios da escrita. Sendo um genealogista fecundo, depois revelou-se filólogo e latinista bastante respeitado.
A sua vocação maior foi aquela de ser pesquisador, sempre atual, sempre seguro, sempre com o maior ou menor acontecimento da história do Cariri na cabeça, pronto para responder às indagações que lhe foram dirigidas e para tirar as dúvidas que lhe foram apresentadas.
Entre os livros que publicou, um só abonaria a sua reputação de historiador e genealogista. Trata-se de A Estirpe da Santa Teresa, repositório de informações precisas e seguras sobre uma das mais frondosas árvores genealógicas do Cariri. A Estirpe da Santa Teresa encerra-se num alentado volume de 1.223 páginas, publicado pela Imprensa Universitária da UFC, em 1976.
Posteriormente, Joaryvar penetrou em terrenos ainda mais áridos da pesquisa. Seu livro Povoamento e Povoadores do Cariri Cearense (1985) é bem um atestado desta afirmativa, encontrando a sua obra genealógica dimensões em outros livros de sua autoria, como é o caso de Os Augustos (1971) e de São Vicente das Lavras (1984).
Nasceu esse memorável historiador no Sítio Calabaço, a 8 quilômetros da cidade de Lavras da Mangabeira, aos 20 de maio de 1937, sendo filho de Antônio Lobo de Macedo (Lobo Manso), político influente no município, e de Maria Torquato Gonçalves de Macedo.
Na terra natal estudou as primeiras letras com as professoras Teresita Bezerra, Irony Gonçalves, Adelice Macedo e Nícia Augusto Gonçalves. Foi, igualmente, aluno do Seminário Diocesano do Crato e Seminário da Prainha, em Fortaleza, cursando Teologia nos Seminários Arquiepiscopais de Olinda, Recife e João Pessoa.
Em 1965, ingressou na Faculdade de Filosofia do Crato, por onde se licenciou em Letras Vernáculas, colando grau aos 7 de dezembro de 1968, sendo orador oficial da turma. E na Universidade Católica de Salvador, realizou curso de pós-graduação em Metodologia do Ensino Superior.
Depois de formado, Joaryvar abraçou o magistério, como professor da Faculdade de Filosofia de Crato e de estabelecimentos de ensino dessa cidade e de Juazeiro do Norte, tendo sido professor, igualmente, no Recife, e em Cajazeiras, na Paraíba.
É autor do Hino do Colégio Agrícola de Lavras da Mangabeira e do Brasão de Armas do 2º Batalhão da Polícia Militar do Ceará, e como sócio honorário, efetivo ou correspondente, integrou, entre outras, as seguintes instituições: Instituto Paraibano de Genealogia e Heráldica, Academia de Letras e Artes do Nordeste, Academia Internacional de Genealogia e Heráldica, Colégio Brasileiro de Genealogia, Academia Internacional de Ciências Humanísticas, Instituto Genealógico do Cariri, Instituto Argentino de Cultura Histórica, Instituto Histórico e Geográfico do Piauí.
Além de farta produção em jornais e revistas, do Ceará e de outros Estados, publicou os seguintes livros: Caderno de Loucuras (1965), Discurso de Orador Oficial da Turma (1968), Apresentação de Fagundes Varela (1971), Os Augustos (1971), Otacílio Macedo (1972), Um Bravo Caririense (1974). O Poeta Lobo Manso (1975), Templos, Engenhos, Fazendas, Sítios e Lugares (1975), A Estirpe da Santa Teresa (1976), Pedro Bandeira, Príncipe dos Poetas Populares (1976), Fagundes Varela e Outros Rabiscos (1978), Influência de Portugal na Formação Étnica e Social do Cariri (1978), Origens de Juazeiro do Norte (1978), Presença Inconcussa de Norte-Rio-Grandenses na Colonização do Cariri (1979), Composições Poéticas de Hermes Carleial (1979), O Contigente Paraibano na Colonização do Cariri (1980), Autores Caririenses (1981), Lavras da Mangabeira – Dos Primórdios a Vila (1981), Alencar Peixoto, Um Clássico (1981), Pernambuco nas Origens do Cariri (1981), Orações Acadêmicas (1983), O Talento Poético de Alencar e Outros Estudos (1984), São Vicente das Lavras (1984), Um Vernaculista e um Poeta (1985), Povoamento de Povoadores do Cariri Cearense (1985), Discursos Acadêmicos (1986), Lavras da Mangabeira (1986), Temas Históricos Regionais (1986), Ocorrências e Personagens (1987), Antônio Lobo de Macedo – O Homem e o Poeta (1988), Império do Bacamarte (1990), Ensaios e Perfis (2001) e Na Esfera das Letras (2010).
Em 1983, transferiu-se para Fortaleza, onde ocupou as funções de assessor especial do presidente do Conselho de Educação do Ceará. Posteriormente, foi escolhido Secretário de Cultura e Desporto do Estado e, por conseguinte, Presidente do Conselho Estadual de Cultura, funções que exerceu de 1983 a 1987, sobressaindo-se também como membro do Conselho de Educação do Ceará.
Como sócio efetivo, pertenceu à Academia Cearense de Letras, ao Instituto do Ceará e ao Instituto Genealógico Brasileiro, tendo sido eleito patrono de uma das cadeiras da Academia de Ciências Sociais do Ceará. Faleceu em Fortaleza, aos 29 de janeiro de 1991, sendo-lhe outorgada, em caráter post-mortem, pelo governo do Estado, a Medalha José de Alencar, distinção maior a que pode aspirar um intelectual na Terra de Iracema.
Joaryvar foi um escritor potencialmente inquieto, porém um homem polidamente tratável, sendo o valor maior das letras sul-cearenses no durante quase meio século. O Ceará inteiro o aplaude como um dos nossos maiores estilistas.
(ILUSTRAÇÃO: Desenho a bico de pena de Geraldo Jesuíno).