Vou anunciar o apocalipse amorosamente? Não: não o apocalipse: aquela festa do fim do mundo, que eu tinha esquecido. A maior festa já vista, em que poucos serão chamados e todos, escolhidos. Uma casa de formigas vista de cima: a câmera se aproxima: são pessoas. Estão cozinhando a fogo brando e chamam isso de vida. Não sou historiador: não digo o que foi. Não sou profeta: não digo o que será. Hoje não serei poeta: não direi o que é. A verdade das coisas vai permanecer amordaçada na beira do abismo. Não permitirei que se diga uma única palavra.Nem terei força de evitar que tanta boca se abra em vão.Mas também não mentirei: vou tecer panos enormes através do imenso nada que nos fez a nós, que somos tãopobres. E nunca mais religiosos: não: nunca mais derivaremos da pobreza uma riqueza falsa e um cúmulo de sabedoria. Nunca mais adoraremos nem sequer o próprio tempo. Diremos o não, seremos o não, e nos multiplicaremos em muitos. Um dia, inelutável, em todos. Os últimos.
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