A relação Brasil e Bolívia no governo Temer, por Uribam Xavier

Em La Paz, a relação da Bolívia com o governo golpista de Michel Temer é vista com cautela. O Brasil é o maior comprador de gás do país, mantém um acordo de compra que termina em 2019, onde o governo boliviano espera uma renovação de forma mais favorável. Todavia, o ministro das relações exteriores do Brasil, José Serra [PSDB-SP] não é bem visto pelos bolivianos por duas razões: a primeira foi a sua declaração, quando candidato a presidente da república, de que o governo Evo Morales mantinha cumplicidade com o narcotráfico. A segunda, foi a declaração de José Serra, como ministro de Temer, desmentindo vários chefes de Estado da América Latina [ Bolívia, Equador, Venezuela, Nicarágua, El Salvador] e de lideres da Alba e da Unasur que afirmaram que o Brasil passava por um golpe parlamentar e pediam o retorno do país aos trilhos da democracia.

Para alguns políticos e analistas bolivianos, a relação dos dois países a partir do governo Temer perde a fluidez e a aproximação ideológica que existiu durante os governos petistas. Os bolivianos, no entanto, têm o receio de que, a partir de 2019, o Brasil queira renegociar os preço da compra de gás ofertando preços menores, quando a sua pretensão é de renegociar obtendo preços mais altos do que os praticados com o acordo em vigência até 2019. É também consenso que as relações diplomáticas entre os dois países devem ser mantidas em bases de respeito mútuo.

A guinada do Brasil, com o governo golpista de Temer, para direita, fundamentada numa agenda de ajuste estrutural neoliberal, leva a um enfraquecimento do bloco dos chamados governos progressistas que chegaram ao poder na América Latina no inicio do século XXI, exatamente como resposta ao caos e a pobreza causada pelas políticas neoliberais. Ao adotar uma política de direita, o governo Temer leva a América Latina para o enfraquecimento de um processo de integração latino-americana que vinha se configurando ao longo de uma década e meia. A política externa do governo provisório no Brasil, mas que age como permanente, sinaliza para uma aproximação com os interesses do capital e do governo estadunidense e para uma aproximação com os neoliberais que compõem a Aliança do Pacífico.

Ao seguir uma política externa de orientação ideológica neoliberal, o Mercosul deverá sofrer profundas mudanças e ter sua existência findada. A Bolívia que está em processo para ser admitido como membro do Mercosul, diante das mudanças em curso, perde o interesse em ser um de seus membros e aguarda os desenrolar dos fatos para se manifestar.

Uribam Xavier

URIBAM XAVIER. Sou filho de pai negro e mãe descendente de indígenas da etnia Tremembé, que habitam o litoral cearense. Sou um corpo-político negro-indígena urbanizado. Gosto de café com tapioca, cuscuz, manga, peixe, frutos do mar, verduras, música, de dormir e se balançar em rede. Frequento os bares do entorno da Igreja de Santa Luzia e do Bairro Benfica, gosto de andar a pé pelo Bairro de Fátima (Fortaleza). Escrevo para puxar conversa e fazer arenga política.

Mais do autor

Uribam Xavier

URIBAM XAVIER. Sou filho de pai negro e mãe descendente de indígenas da etnia Tremembé, que habitam o litoral cearense. Sou um corpo-político negro-indígena urbanizado. Gosto de café com tapioca, cuscuz, manga, peixe, frutos do mar, verduras, música, de dormir e se balançar em rede. Frequento os bares do entorno da Igreja de Santa Luzia e do Bairro Benfica, gosto de andar a pé pelo Bairro de Fátima (Fortaleza). Escrevo para puxar conversa e fazer arenga política.