QUEM SUSTENTA JOHNNY: A GLOBO, AS FORÇAS ARMADAS OU AS IGREJAS CRISTÃS? – por Alexandre Aragão de Albuquerque

Johnny parece não ser tão bravo assim. Na campanha eleitoral teve medo do debate aberto em redes de televisão com os candidatos, tanto no primeiro, como no segundo turno. Além disso, mansamente, declara amores por Trump e pela bandeira dos EUA, sente alegria em bater continência para ela. Dispensou o visto de entrada no Brasil dos turistas estadunidenses sem a exigência da devida reciprocidade a ser praticada por aquele governo em relação aos brasileiros. No encontro dos ricos em Davos neste ano, mesmo tendo disponível cerca de 40 minutos para sua explanação estratégica inaugural como chefe de Estado, suas pernas tremeram, proferiu um minimalista discurso com menos de seis minutos. Registra-se ainda a sua palpitação diante da Imprensa em geral: somente jornalistas “chapas brancas” é que podem lhe dirigir a palavra em entrevistas coletivas.

Johnny já foi recebido por diversos segmentos de igrejas cristãs, sejam elas evangélicas ou católicas. Esteve na sede da TV Canção Nova, agraciado em rede nacional de televisão com as bênçãos do Padre Jonas Abib; visitou a Fazenda Esperança, sendo recepcionado efusivamente pelo fundador daquela instituição, frei Hans Stapel. Também pelo lado católico, foi reverenciado por dezenas de movimentos marianos em 21 de maio do corrente, em cerimônia no Planalto, na qual o deputado Eros Biondi (PROS – MG) o comparou a João Paulo II, em virtude do ainda não totalmente esclarecido atentado à faca. Pelo lado evangélico, onde reside um maior volume de apoio por parte do cristianismo brasileiro, para ficar apenas em um exemplo, no dia 02 de maio, no Encontro Internacional de Missões dos Gideões, em Camboriú –SC,  ele afirmou entender sua eleição como sendo uma escolha de Deus por sua pessoa.

No dia 05 de agosto, contudo, Johnny foi protagonista de mais um momento de destempero mental e emocional, ampliando a sua coleção, desta vez durante a inauguração da primeira etapa da Usina Solar Flutuante, em Sobradinho – BA, iniciada nos governos do PT. No final do ato, visivelmente irritado, respondendo a perguntas de jornalistas sobre as fartas denúncias de nepotismo que recaem sobre si e sua família, berrou publicamente: “Ontem 80% do Jornal Nacional foi sobre 102 parentes meus. Colocar na minha conta 102 como se eu fosse o maior nepotista do mundo. Não botaram a minha esposa, por que? Bota a minha esposa, trabalhou na Câmara comigo, pôrra (sic!). Bota lá, pôrra (sic!). A Imprensa tem que entender que eu, Johnny Bravo, Jair Bolsonaro ganhou, pôrra (sic!). Ganhou, pôrra (sic!)”. A esse inominável episódio somam-se outros tantos como, por exemplo, a discriminação a brasileiras e brasileiros nordestinos, chamando-os de paraíbas, cabeças chatas e paus-de-arara; e a ofensa pública à memória dos mortos da ditadura militar na pessoa do genitor do presidente da OAB, torturado e morto nos porões da repressão militar de então.

A história nos mostra o quanto o cristianismo contribuiu para a justa compreensão da dignidade humana. A experiência original cristã é fruto da vivência de suas primeiras comunidades relativa ao fenômeno revelador de Deus como amor encarnado na mensagem e na vida de Jesus de Nazaré. A filosofia grega não se atreveu a conferir ao Logos o atributo do amor, porque segundo aquela filosofia, o amor tem sua origem última numa carência e, portanto, não poderia existir nenhum impulso emotivo num Deus que é o movente imóvel de todas as coisas móveis. A experiência cristã transpõe esse umbral ao conceber Deus como amor (1 Jo 4, 8) porque, para o pensamento cristão, o amor não correspondia a um sinal de falta, presente no pensamento grego, mas a uma plenitude que se comunica continuamente. Como consequência fundamental da antropologia cristã, na revelação de Deus amor como pai – princípio de todos os homens de todos os tempos e espaços – reside uma filiação humano-divina que faz com que todos se sintam irmãos – fundamentando o princípio cristão da fraternidade universal – e partícipes igualmente da divindade, fundamentando o princípio cristão da igualdade entre os seres humanos. Como filhos e irmãos, e não mais como escravos, os seres humanos são chamados a construir a vida na Terra. Assim, cada pessoa é absolutamente insubstituível, é única.

Diante do exposto, é difícil perceber em suas atitudes um comportamento baseado na práxis cristã. Todavia, torna-se ainda mais difícil de entender como cristãos e cristãs continuam a apoiá-lo depois de tantas demonstrações ineptas da parte de Johnny.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .