QUEM SÃO OS BOÇAIS?

ENQUANTO OS HOMENS exercem seus podres poderes, desde o Golpe de 2016, agora agravado por meio do bolsonarismo, com uma direita tosca, estulta, desumana e autoritária, articulada por bolso-dórias, bolso-witzels,bolso-globos, bolsoigrejas, bolso-judiciários, bolso-mbls, bolsoguedes, bolso-moros, coletivos de movimentos sociais e organizações populares movendo-se decididamente contra a barbárie instalada no Brasil desde então.

Destacam-se como registro da barbárie bolsonarista cerca de 80 mil óbitos causados pela pandemia da Covid-19, em meio a um amplo comando de militares das Forças Armadas à frente do Ministério da Saúde, cujo general-ministro interino proclamou em reunião oficial que as Regiões Norte e Nordeste do Brasil estão situadas no mesmo padrão climático do hemisfério norte do globo terrestre, apesar de nunca haver caído neve em Mossoró (RN), Teresina (PI) ou Quixeramobim (CE). E o dito presidente, com seu sorriso sádico e debochado, com toda a sua maldade, expondo-se para o seu gado em mídias sociais, a fazer publicidade de medicamentos desautorizados pela OMS, numa clara demonstração de indiferença ao sofrimento das famílias brasileiras, num diversionismo tático para tirar o foco do processo penal que envolve seu filho Zero Um e Fabrício Queiroz.

Em mais um episódio nefasto, marca registrada do executivo federal, nesta semana fomos surpreendidos pelo veto presidencial ao projeto de Lei 1.142, de autoria da deputada federal Professora Rosa Neide (PT – MT), e demais deputados federais do PT, PSOL e PC do B, que dispõe sobre medidas de proteção social para a prevenção do contágio e da disseminação da Covid-19 nos territórios indígenas, comunidades quilombolas e demais comunidades tradicionais.

Uma das organizações a manifestar-se veementemente contra o referido veto foi a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), representante oficial dos cristãos católicos, em carta aberta ao Congresso Nacional, datada do dia 13 de julho e assinada pelo seu presidente Dom Walmor Azevedo e pelo secretário-geral Dom Joel Amado. Diz um trecho da comunicação: “Com indignação e repúdio a CNBB tomou conhecimento, no último dia 07 de julho, que a sanção do Exmo. Sr. Presidente da República ao PL 1.142/2020 contém 16 vetos. *Estes vetos são injustificáveis e desumanos pois negam direitos   e garantias fundamentais à vida dos povos tradicionais”.*

Na esteira deste repúdio expresso pela CNBB, no dia 15 de julho, os dirigentes nacionais do Movimento dos Focolares, João Batista Brito e Juliana de Castro Fonseca, endereçaram uma carta de plena adesão, tomando uma posição bem definida alinhada com a CNBB e com todas as pessoas de boa vontade, conforme expresso no documento, “com o compromisso em favor da Vida, rogando à Mãe Aparecida, nesse momento tão crítico de nossa história”. E de fato, são muitas as ações e decisões do bolsonarismo contra a Vida e de incentivo à violência simbólica (basta pensar na famosa reunião ministerial dos palavrões em 22 de abril), à violência real (basta pensar no aumento exponencial da compra de armas e munições por setores da sociedade civil), à violência contra trabalhadoras e trabalhadores (basta pensar no incentivo ao trabalho infantil promovido pelo assim chamado presidente em mais de uma de suas intervenções midiáticas), à violência contra as famílias vitimadas pela Covid-19 (basta pensar em todas as posturas do assim chamado presidente no descaso com a pandemia: “e daí, eu não sou coveiro. Afinal, é uma simples gripezinha”). Importante, a exemplo do Focolares, é que demais organizações cristãs expressem publicamente o mesmo veemente repúdio contra a agenda de morte bolsonarista, levando o Congresso a derrubar os referidos vetos.

Boçal, em uma definição atualizada, é um termo dispensado para pessoas de pouca sensibilidade e baixa inteligência no que tange a temas da realidade concreta ao seu redor. Em seus versos na canção “Podres Poderes”, Caetano Veloso esbraveja: “Será que nunca faremos senão confirmar a incompetência da América católica, que sempre precisará de ridículos tiranos? Ou então, cada paisano e cada capataz, com sua burrice fará jorrar sangue demais, nos pantanais, nas cidades, caatingas e nos Gerais?”. A manifestação oficial da CNBB e dos Focolares contra o atentado à vida das comunidades tradicionais perpetrado pelo veto presidencial convoca muitas as outras instituições religiosas e civis a adotarem a mesma postura pública de repúdio. Afinal, como lembra Caetano na citada canção, não se trata de uma questão retórica, mas de superação concreta à boçalidade que ameaça a todos aqueles que insistem em ficar em cima do muro “nesse momento tão crítico de nossa história”.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .