Mergulhar no centro da galáxia
Espalhar estrelas em respingos
Dissolver-me em éteres da inexistência
Sondar o insondável
Conhecer a solidão do canto vazio do mundo
Abrir o peito em sóis de primeira grandeza
Perfurar os sonhos mesquinhos com a broca do delírio
O universo aberto em cores
Da ilusão penitente em dores
Semear a via láctea
Com o vaso inefável de Hermes
Regar os astros com sentimentos ocos
Abrir-me no verso e reverso do Ser
Desnudar-me de cada esperança ordinária
Saltar os trilhos do espaço livre
Chegar ao topo do infinito
Vislumbrar o que há antes e além do tempo
Encarnar na máquina assombrosa do universo
Salpicar cometas em cada mergulho cego
Penetrar a aurora da existência das raças e dos deuses
Sorver-lhes o alento da caminhada dos dias
Coletar da poeira dos corpos celestes
O celeste que há em cada corpo
Viver a respiração dos planetas, das dimensões mudas
Onde tudo é o nada
Reconverter a lógica do absurdo
Sublimar esse desejo astronômico
Granular em areia o pó dos dias eternos
Captar a ânsia das eras, das espécies e do que é…
Ser e estar naquilo e por aquilo
Que é e não é
Que está e oculto é
Ir e ficar onde a morte faz morada
E no desterro, mal amada,
Amar-lhe com paixão
Desvendar os caminhos brilhantes
Luzificar as trevas e pisar
Firme e resoluto
Reticente do infinito.
Nutrir os quasares e pulsares
Super superar as supernovas
Explodir no espaço aberto
No breu livre e estrelado
Contar as divisões infinitas
Do antes e do além no espectro de cores
Mimetizar cada molécula
Do cobertor de estrelas da Mãe Urânia
Deixar de ser e, por isso, existir
Causar em cada canto ermo do além
O além do alento que faz de cada sentimento
O reflexo da epifania do espelho
Eclipsar cada lua e cada sol
Amanhecer e anoitecer
Nascer e me pôr
Chover estelas cadentes
Na dança cósmica de Shiva
Brotar e crescer no terraço das Plêiades
Desdesesperar o medo do escuro da alma
Alumbrar os buracos negros do espírito
Saciar, no horizonte do eterno,
Mesmo que, a anos-luz estando,
Essa sede de ti em meu peito.