Pouco alfinete e muito foguete (SP 4.8.20)

O mundo anda complicado. Complexo. Assuntos incompreensíveis. Diversos problemas. A pauta atual é sempre de caráter elevado.

Pouca gente hoje conversa sobre amenidades. Quase ninguém quer saber em qual padaria vende o melhor pão. Se no ferro-velho da rua de baixo tem a rolimã que serve no seu carrinho.

Se o Alan vai emprestar a bola para o futebol de mais tarde na quadra da escola. Quem mais quer saber de ir tomar banho no rio? Ou se preocupa ainda em sair correndo na chuva? 

No universo da criança ao avô, temas de metafísica estão em voga. Assuntos, até outro dia, difíceis de alcançar. Falamos sobre Terra Plana com uma facilidade horrorosa.

Sabemos qual remédio é o mais ou o único indicado para tal patologia. No café da manhã não sai um bom dia sem que a última sessão do Supremo Tribunal de Justiça seja comentada por no mínimo meia hora.

O tempero delicioso do feijão caiu em desuso. O pênalti não marcado no jogo de ontem não ganha segundos de espaço. O cabelo do tio que está caindo, então, nem entra na lista dos menos comentados.

A gaveta do armário está emperrada faz um mês, disso ninguém quer saber, né? O horário da coleta do lixo está todo bagunçado e ninguém fala nada. SBT eliminou o Chaves da sua grade, algum comentário? Não?

A cor do uniforme do gari mudou. A feira de quinta está minguando. As barracas de pastel não fornecem mais vinagrete. A flor murchou e ninguém regou.

Mas, a China vai invadir o Brasil. O Ministro da Saúde não sabe o que faz. É Jurisprudência para cá. Suspeição para lá. Recorde da Bolsa de Valores. A Nasa é isso, o Pentágono aquilo.

Os diálogos dentro de casa agora não dizem mais sobre qual produto queima a pintura do carro, o melhor churrasco grego do Centro ou se para ir ao Viaduto do Chá precisa descer na estação São Bento ou Anhangabaú.

Virou isso:

– Pai, como é que vamos ficar se a União Astronômica Mundial rebaixou plutão de categoria? 

– Meu Filho, a Santíssima Trindade deu a Plutão o Livre Arbítrio para ser o que quiser. E tem outra coisa: como o mundo vai evoluindo, daqui uns anos Plutão pode ser primo da Terra. Pois a Astrofísica não tem o domínio correto da Composição das Galáxias. 

Enquanto isso, o Renato do Blue Caps morreu e nem uma vírgula. O Ribeiro Santos é pré-candidato a vereador de Redenção e ninguém sabe. 

Por que esquecemos o alfinete e só falamos de foguete?

Marco Garcia

Marco Garcia é jornalista paulistano. Morou em Fortaleza por 6 anos onde desempenhou trabalhos em diversas áreas da Comunicação. Foi produtor de Jornalismo do programa Eleitoral de TV do Governador Camilo Santana (Eleições 2014), Diretor de Comunicação da Prefeitura de Redenção (CE), Assessor de Imprensa do Prefeito de Redenção (CE), Assessor de Imprensa do Sindicato de Atletas de Futebol do Ceará, Repórter Esportivo nas rádios Clube AM 1200 e Cidade AM 860. Trabalhou ainda para a CUFA (Central Única das Favelas). Antes de se mudar para o Ceará, foi Editor de Conteúdo do Portal Webtranspo e repórter na Revista Webtranspo Info, veículos localizados na capital paulista.