POSICIONAR-SE CONTRA A CORRENTE

Posicionar-se contra a corrente não é sair defendendo a luta armada como forma de tomar o poder, nem se omitir frente à vida política como ela é, mas contribuir para a construção de uma rede plural de resistência e formas de luta contra o projeto de modernidade e seus sistemas econômicos, seus modos de dominação e exploração; em outras palavras: contra a colonialidade do poder.

Posicionar-se contra a corrente significa uma desobediência epistêmica ao eurocentrismo e ao imperialismo; significa se colocar de forma imediata contra as condições de precariedade impostas à maioria dos trabalhadores e das trabalhadoras do campo e da cidade, das populações negras e indígenas; significa se colocar contra as condições insuportáveis em que vivem os sem-teto e as pessoas em situação de rua, a comunidade LGBTQIA+, bem como opor-se ao racismo estrutural que opera para distinguir quem pode ser ou não humano; significa se colocar em defesa da natureza e contra o consumismo e o extrativismo; significa lutar contra a necropolítica e o necropoder que produzem mundos de mortes; significa lutar contra a colonialidade. Tudo isso como horizonte primeiro de ação e reflexão, não como horizonte futuro a justificar uma adesão ao sistema em nome do realismo político ou da política do possível.

Posicionar-se contra a corrente é mais do que se posicionar radicalmente contra extrema direita fascista e contra o governo genocida de Bolsonaro; significa, também, diferenciar-se dos que aderiram, sem assumir, a ideologia do fim da história e ao compromisso com a administração do capitalismo; da esquerda que aderiu ao ciclo vicioso da luta do poder pelo poder, se escondendo numa ideia vazia de acúmulo de forças.

Em minha percepção, no Brasil, ao longo de treze anos de administração petista, a sociedade civil, os movimentos sociais, inclusive o próprio PT, foram sendo desarticulados, gradativamente perdendo forças, chegando ao golpe de 2016 desmilinguidos, lânguidos. Com o PT no poder, parece que quem acumulou força foram os grupos de extrema direita, os protofascistas. Posicionar-se contra a corrente implica pensar todos esses processos.

Uribam Xavier

URIBAM XAVIER. Sou filho de pai negro e mãe descendente de indígenas da etnia Tremembé, que habitam o litoral cearense. Sou um corpo-político negro-indígena urbanizado. Gosto de café com tapioca, cuscuz, manga, peixe, frutos do mar, verduras, música, de dormir e se balançar em rede. Frequento os bares do entorno da Igreja de Santa Luzia e do Bairro Benfica, gosto de andar a pé pelo Bairro de Fátima (Fortaleza). Escrevo para puxar conversa e fazer arenga política.

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Uribam Xavier

URIBAM XAVIER. Sou filho de pai negro e mãe descendente de indígenas da etnia Tremembé, que habitam o litoral cearense. Sou um corpo-político negro-indígena urbanizado. Gosto de café com tapioca, cuscuz, manga, peixe, frutos do mar, verduras, música, de dormir e se balançar em rede. Frequento os bares do entorno da Igreja de Santa Luzia e do Bairro Benfica, gosto de andar a pé pelo Bairro de Fátima (Fortaleza). Escrevo para puxar conversa e fazer arenga política.