Pós-moderno indica sucessão: depois do moderno. Não informa sobre conteúdo. Zygmunt Bauman diz modernidade líquida, indicando referências valorativas e costumes agora amorfos e instáveis no significado e na forma. Tal liquidez se associa ao relativismo cognitivo e axiológico exacerbados e à aceleração da história, decorrente da inovação tecnológica constante; mobilidade geográfica; cosmopolitismo potencializado pelas comunicações globais instantâneas; multiculturalismo favorável aos relativismos.
Dissolveram-se os mores, tudo virou folkway, termos cujo significado nos remete, respectivamente, aos valores fortemente protegidos e às práticas de somenos importância. O relativismo insurgiu-se contra o pensamento eurocêntrico. Até as práticas violentas de outros povos deveriam ser toleradas. Mas imigrantes praticaram, no coração da Europa, mutilação de meninas. O relativismo descobriu, assim, os seus próprios limites.
A ideia segundo a qual o relativismo seria o berço da emancipação humana, sob a proteção do pluralismo dele derivado, levanta problemas de grande complexidade. Relativismo e pluralismo promovem tolerância? Nem sempre. A tolerância tem limites? Precisa ter. A liberdade de expressão e o direito de criticar convivem com a tolerância e o relativismo? Não, a crítica precisa de fundamentos válidos. A liberdade de consciência pode ser compartilhada com a indiferença? Não. Isso destruiria o tecido social. Existe protagonismo na indiferença? Não. O indiferente é inerte. A solução de conflitos pode prescindir de referências válidas e minimamente estáveis? Não. Excluída a razão mediadora dos conflitos só resta a violência como solução dos litígios.
O limite da tolerância é a intolerância do outro (Karl Popper). Tolerar a crítica é obrigação de quem pretende exercê-la. Crítica deve ser dirigida aos fundamentos de validade das condutas ou ideias, evitando-se a falácia ad hominem, na qual se procura desqualificar a pessoa, fugindo do debate das ideias e fatos. Não há intolerância na crítica, mas na falácia aludida.
Não há “modernidade líquida”. Melhor dizermos pós-modernidade, pois a suposta liquidez é falsa. Há uma intolerância crescente. Os “novos gestores da moral” mostram-se dogmáticos em sua postura politicamente correta.
Ademais, o relativismo se choca com a natureza humana. Não somos inteiramente construídos historicamente; não somos o bom selvagem (Rousseau); nem o lobo do homem (Hobbes); mas um equilíbrio entre estas naturezas.
A atualidade das narrativas da mitologia grega, do Antigo Testamento bíblico; da literatura milenar oriental, aludindo à condição humana em contextos tão diferentes, sugere que temos uma natureza, ainda que a construção histórica represente grande parte do nosso ser. A nossa natureza animal exige controle. Por isso a boa norma é a heterônoma, o contrapoder. Sem natureza identitária inteiramente definida, referendada no semelhante, vem a inveja ou conflito mimético, no eufemismo de René Girard. A mediação heterônoma é necessária. Sim, não é por acaso que ubi societas, ibi jus.