Escândalos no (des)governo de Jair Bolsonaro são como porta-guardanapos de boteco, você puxa um e vem outro em seguida. Para quem esqueceu a acintosa compra de laptops superfaturados, o enriquecimento ilícito da família com históricas rachadinhas que renderam só à ex-mulher 14 imóveis (quase todos comprados com dinheiro vivo), mansões para filhos, e negociações fraudulentas na compra de vacina (conforme apuração da CPI da Covid, um contrato de R$ 1,6 bilhão na compra da Covaxin movido a propina foi cancelado), gastos nunca explicados com reformas de prédios do ministério da Saúde no Rio de Janeiro, cheques “generosos” para a primeira-dama, a constatação recente de que o ministério da Educação vinha se tornando o maior balcão de negócios espúrios de que se tem notícia na história do país, com os recursos da pasta sendo geridos por pastores evangélicos que sequer trabalham no ministério (tudo, conforme palavras do ex-ministro Milton Ribeiro, por orientação do próprio presidente), agora estoura o caso da Codevasf, estatal com atuação em obras de infraestrutura que lida diretamente com verbas de emendas do orçamento secreto.
Para que se tenha uma ideia de como a coisa funciona, segundo matéria divulgada nesta quarta-feira pelo jornal Folha de São Paulo, o valor empenhado (destinado no orçamento para pagamento) pela estatal, cresceu de R$ 1,3 bilhão para R$ 3,4 bilhões entre 2018 e 2021, tudo em sintonia com o interesse de parlamentares que apoiam Jair Bolsonaro.
No mesmo período, os três primeiros anos do atual governo, esses recursos foram de R$ 302 milhões para R$ 2,1 bilhões, verba grosso modo administrada por integrantes do chamado centrão, aquele que levou o general Heleno a entoar “se gritar pega centrão, não fica um meu irmão!”
Como mostra o jornal Folha de São Paulo, relatório da CGU (Controladoria-Geral da União), divulgado neste mês, apontam que a Codevasf sequer domina informações sobre a necessidade de obras, a exemplo de pavimentação e disponibilização de máquinas, o que sugere relações não republicanas entre a empresa e lideranças políticas envolvidas numa área que vem se tornando uma nova vocação da estatal.
A CGU vai mais longe ao indicar a inexistência de “dados objetivos de monitoramento e de avaliação” de obras, indício de que ocorrem montanhescas práticas de corrupção em que estão envolvidos parlamentares da base do governo de Jair Bolsonaro.
A sugerir isso, diz a Folha, a empreiteira Engefort, líder absoluta nos contratos recentes de Codevasf em obras de pavimentação, pelo menos em casos já confirmados, concorreu com “empresa de fachada registrada em nome do irmão de seus sócios” […] “em dez lotes de Minas Gerais”.
Em meio à abundância de indícios de malversação dos recursos públicos, chama a atenção o fato de que a expansão da Codevasf tenha se dado por força do alinhamento do centrão com Jair Bolsonaro.
Como a materializar provas do que se afirma aqui, a superintendência da estatal em Alagoas é comandada por um primo do presidente da Câmara dos Deputados, o tal deputado Arthur Lira (PP – AL) a quem coube engavetar mais de uma centena de pedidos de impeachment do presidente Bolsonaro e que, diante das concretas indicações de Lula poderá ganhar a eleição neste ano, empunha desavergonhadamente a bandeira do semipresidencialismo, antecipando indícios de um novo golpe em gestação.
É preciso apenas ter olhos a ver (e vergonha na cara, claro!) para concluir: o presidente que se elegeu como paladino da moralidade e amparado na mais indecente manobra eleitoral a fim de ganhar a eleição em 2018, com a conivência do Supremo Tribunal Federal, frise-se, é corrupto e sua trajetória política se notabiliza pelo seu enriquecimento e de sua família.
Indecência.