Ana Mae Barbosa é uma das maiores pesquisadorasrelacionadas à Arte-Educação no Brasil. Segundo ela, a arte representa uma cognição para a qual colaboram os afetos e os sentidos; e ela ainda sustenta que todo artista é um educador. A partir dessa conjuntura, educar transcenderia questões meramente formais, e seria uma construção dialógica mais ligada ao universo da experiência e da fruição. Paulo Freire, por sua vez, já afirmou que a estética aplicada ao mundo educação é uma questão de interioridade, de postura interior, de “boniteza”.
Tais afirmações sugerem possibilidades de estudos em torno dos objetivos que se tem em relação ao ensino da arte. Portanto, pergunta-se: para que ensiná-la? Que conexões um percurso ao mesmo tempo didático e artístico apresenta para as pessoas? E onde se localiza o artista que é professor? Ainda: o ensino da arte seria uma espécie de passatempo?
Em torno de toda essa conjuntura, já se disse que ensinar é provocar experiências, provocar criatividades. Nesse sentido, tal universo representaria uma cultura criadora, a qual pode estar relacionada à cultura universitária, sendo ambas entendidas como “construção de conhecimento”.Portanto, na visão deste pesquisador, as chamadas culturas universitária e criadora não são estranhas, mas sim, complementares, quer apresentem diferenças ou não.
Em todo o quadro, também há a percepção de que produzir cultura não é privilégio da natureza. Ou seja, produções culturais são frutos de oficinas, informais ou acadêmicas. Nos dois casos, podem aparecer como resultado de questões lúdicas, mas igualmente de fundamentações relacionadas a estudos. Por sua vez, no último caso, é possível a afirmação, ainda que incipiente,que tal atrelamento articula conceitos, pressupostos e noções com ações concretas, vivenciadas pelo aprendiz numa conexão coletiva de saberes e com avaliação continuada.
Já se disse igualmente que a experiência de uma obra de arte é inefável e deliciosa, escapando por definição ao conhecimento racional. Em outras palavras: a arte como experiência estética e inebriante. Nesse sentido, a educação pode ser artística, e aí se tem como objeto o estudo da arte enquanto educação estética. E no entorno da função educativa da experiência; aliás, como afirma em seus estudos o filósofo norte-americano John Dewey.
Em todo o quadro, pode-se compreender como a mediação cultural é fundamental no ensino de artes. E corroborando com esse princípio, pode-se afirmar que o conhecimento estético e artístico dos estudantes é impulsionado por análises didáticas em torno da linguagem da arte, deteorias a ela pertinentes e da história que possui. Em tal contexto, torna-se importante destacar o tripé baseado emações relacionadas a sentir/pensar/agir, além da incorporação de elementos reflexivos no processo.
Nessa conjuntura, e em relação às instituições de ensino, a arte surge como um objeto com significado, com conhecimento de mundo, com expressão de sentimentos, de pujança, de poder, de transcendência, e a representar simbolicamente os mundos da cultura e da natureza. O resultado de todos esses elementos em ação remete aosdesenvolvimentos da autonomia intelectual, da sensibilidade criativa e do repertório de variados campos do conhecimento. Há ainda compreensão de que esse contexto abrange a questão de a arte ser um modo de praticar culturas, potencializando a sensibilidade e a imaginação, além da possível – e desejada, pois educação é amadurecimento! – apropriação crítica que surgirá do processo.
Aprofundando: sabe-se que a escola é capaz de criar atitudes cultas. E toda essa conjuntura, por sua vez, reacende o papel do professor que é artista e as relações que existem entre o ensino e a criação. Nesse sentido, em foco está o trabalho do artista numa instituição de ensino.Em torno desse quadro, é razoável sustentar que ensinar arte deve ser – ou ao menos deveria ser, em tese – resultado de fazeres artísticos.
Ou seja: o professor-artista deve dominar aquela área de atuação, delimitando-a em torno da dialética entre os sentimentos, o pensamento crítico e a ação concreta – a produção de quem faz arte. Obviamente que entra nesse ponto a questão dos receptores: o público-alvo a quem se destina tal produção, e intérpretes dessa conexão. Aliás, no processo linguístico de comunicação humana analisadopela ciência, o receptor está em foco, pois o que o leitor faz quando recebe um texto remete à intitulada “leitura crítica”, que nos torna leitores-cidadãos e desenvolve nosso amadurecimento. Mas isso é assunto para outro texto.
De qualquer forma, retomando a perspectiva artística no campo professoral, há a questão da satisfação no ensino da arte, e que o professor–artista deve valorizar. Afinal, nesta relação, há o aprofundamento histórico daquela manifestação, bem como as compreensões e interferências do elemento humano em relação àquela linguagem, os pontos da tradição e das rupturas que se apresentam, o favorecimento de vínculos com realidades diversas, as abordagens didáticas relacionadas aos fluxos poéticos existentes, à produção prática, objetiva e ensinável, além da análise dos patrimônios culturais existentes.
Convém destacar ainda que todas essas questões remetem ao ensino, à pesquisa e à ciência, não havendo uma contradição entre arte e trabalho. Em outras palavras, essencialmente, o professor-artista é igualmente um artista-professor, dialogando com produções do trabalho humano e com a criatividade, presente potencialmente, aliás, em todas as áreas da vida. A educação estética e artística, portanto e enfim, deve ser desenvolvida em seus diversos aspectos, ainda mais porque conectada às relações cognitivas entre o ser humano e o mundo.