POR QUE O BRASIL SE TORNOU AMEAÇA SANITÁRIA PARA O MUNDO?

Antes de tentarmos responder por qual razão isso aconteceu, por um dever de justiça que se impõe, iniciamos esta reflexão reconhecendo e parabenizando o Presidente da República e o ex-ministro da Saúde, Eduardo “pesadelo”, por essa dupla e inédita conquista. Situa-nos, a um só tempo, nacondições de ameaça sanitária e párias diante do mundo, das quais tanto se orgulha o também ex-Ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.

Como é do saber geral, desde o início do anoquando surgiram as primeiras informações sobre a circulação, em algumas regiões da Europa, das novas cepas do coronavírus, resultantes das mutações ocorridas em solo brasileiro que, segundo os epidemiologistas possuem maior poder de infectividade e transmissibilidade as autoridades da saúde de vários países passaram a considerar o Brasil uma ameaça sanitária em escala planetária.

Como era esperado, desde então, passamos a sofrer todas as restrições impostas pelas autoridades sanitárias mundiais, e a ser vistos com repugnância e medo, num período só comparado àquele imediatamente anterior a Oswaldo Cruz quando éramos sinônimos do tifo, da peste bubônica e da febre amarela dificultando, ainda mais, a circulação dos brasileiros pelo mundo.

A consequência imediata foi o agravamento da crise de desconfiança no governo, com agudos rebatimentos sobre a economia, aumentando ainda mais o empobrecimento da população, empurrando milhões para a humilhante condição de famélicos. Aos olhos internacionais, é como se cada brasileiro fosse portador de uma cepa sobradamente perigosa e exclusiva, só encontrada por essas bandas, desenvolvida nos laboratórios da incompetência, do descaso, enfim, da irresponsabilidade desse governo. É imperioso afirmar que essa não é uma opinião apenas dos cientistas e dos governos internacionais, porquanto vários pesquisadores e infectologistas brasileiros também passaram a admitir a ideia de que, em razão da negligência na gestão da pandemia, nos tornamos essa vergonhosa ameaça sanitária para o orbe inteiro.

Ante essa inusitada realidade, fomos conversar com alguns infectologistas, para nos ajudar a entender as razões que nos transportaram a essa vexatória condição, se existe evidência científica que a justifique, e, assim, buscar a resposta para o que concede o título desta reflexão. Esta foi conduzida hoje ao leitor, com amparo nas análises e opiniões que colhemos dos especialistas, dentre eles o Dr. José Xavier Neto, cientista, chefe da saúde do Ceará, que é taxativo, ao assegurar que essa não é uma condição exclusiva do Brasil.

Para ele, a pergunta é um tanto especiosa pois o que não faltam são ameaças sanitárias advindas de outros países, inclusive bem mais desenvolvidos do que o nosso. Com efeito, não se trata apenas do Brasil, especificamente. Em verdade, todo e qualquer Estado no qual há regiões com proliferação descontrolada de um agente patogênico com potencial pandêmico oferecerá perigo à comunidade das nações. O caso sob comento é o da pandemia mundial de covid-19 provocada pelo vírus SARS-CoV-2.

Na condição de pesquisador e analista do comportamento do vírus e da evolução da pandemia,ele assevera que a questão é estatística. Quanto mais pessoas suscetíveis expostas ao SARS-CoV-2, e quanto maior o tempo de exposição ao vírus, maiores as oportunidades de emergência de novas variantes, que têm ocorrido também em outros países, embora se observe no Brasil maior descontrole da doença.

As variantes surgem porque, com certa frequênciaem todos os organismos, mesmo nos vírus, a reprodução viral é associada a erros de duplicação na sequência de DNA ou RNA. Certos vírus, como os que produzem gripe, são hipermutáveis, cometem muitos erros na produção de suas sequências. Outros erram menos, como sucede com o próprio SARS-CoV-2, que possui mecanismos ativos de correção de mutações.

O Dr. Xavier Neto acentua, ainda, que, na maioria das situações, os erros de sequência durante duplicação de DNA ou RNA são neutros, por assim dizer. Não terão qualquer consequência para a infectividade, a patogenicidade, ou para sua vulnerabilidade às vacinas. Em outras circunstâncias, as mutações são susceptíveis de produzir vírus defeituosos, dos quais ninguém vai ouvir falar, pois estes, simplesmente, não se reproduzirão e, tampouco, farão mal nenhum. Mais raramente, pode ocorrer um cenário mais temido por nós, que é o de ganho de função do vírus. Nesse caso, as mutações conferem maior infectividade, patogenicidade ou resistência viral às vacinas.

Explicando um pouco as características, o comportamento e a evolução dos vírus, o Cientista afirma que eles proliferam quando associados a células vivas. Naturalmente, quanto menores forem as oportunidades de acesso a um hospedeiro, menores são as chances de mutação, pois estas dependem do processo de reprodução. Por esse pretexto, é fundamental evitar aglomeração para restringir o acesso do vírus a um maior número de pessoas, pois o tempo de exposição de um hospedeiro, de uma pessoa ao vírus, também é determinante nesse processo. Quer dizer, quanto maior for o período de residência do vírus em um hospedeiro, maiores serão as chances de infecção de muito mais das suas células, e, portanto, mais oportunidade de mutação. Assim, especula-se a ideia de que pacientes com sistemas imunes deprimidos constituiriam ambientes mais favoráveis ao aparecimento de mutações, pois, tanto suas células permaneceriam infectadas e vivas por mais tempo, quanto a infecção seria passível de atingir um número muito maior de suas células.

Portanto, a ameaça sanitária está encapsulada no número de pacientes infectados, bem como no tempo de exposição total ao vírus. É por isso que o descontrole da epidemia no Brasil, ou em qualquer outro país ou região, constitui uma ameaça a toda a comunidade das nações – acentua o Dr. Xavier Neto evidenciando que, embora sejamos uma ameaça sanitária, não estamos sozinhos nessa condição.

Ainda que não estejamos sozinhos nessa condição de ameaça sanitária para o mundo, é preciso reafirmar que os 4 mil mortos de cada dia, e as quase 400 mil vidas perdidas até aqui, resultam do negacionismo, e da necropolitica desse governo, que pela incúria na gestão da pandemia, gerou o que se pode considerar a tragédia brasileira.

Em decorrência dessa funesta realidade, a condição de ameaça para o mundo, vale relembrar uma das frases toscas do Presidente, “[…] Tem a questão do coronavírus também que, no meu entender, está superdimensionado, o poder destruidor do vírus”.

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Arnaldo Santos

Arnaldo Santos é jornalista, sociólogo, doutor em Ciencia Política, pela Universidade Nova de Lisboa. É pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza – LEP/CAEN/UFC, e do Observatório do Federalismo Brasileiro. Como sociólogo e pesquisador da história política do Ceará, publicou vários livros na área de política, e de economia, dentre eles - Mudancismo e Social Democracia - Impeachment, Ascenção e Queda de um Presidente - sobre o ex-Presidente Collor, em 2010, pela Cia. do Livro. - Micro Crédito e Desenvolvimento Regional, - BNB – 60 Anos de Desenvolvimento - Esses dois últimos, em co-autoria com Francisco Goes. ​Arnaldo Santos é membro da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo – ACLJ, e da Sociedade Internacional de História do século XVIII com sede em Lisboa.

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Arnaldo Santos

Arnaldo Santos é jornalista, sociólogo, doutor em Ciencia Política, pela Universidade Nova de Lisboa. É pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza – LEP/CAEN/UFC, e do Observatório do Federalismo Brasileiro. Como sociólogo e pesquisador da história política do Ceará, publicou vários livros na área de política, e de economia, dentre eles - Mudancismo e Social Democracia - Impeachment, Ascenção e Queda de um Presidente - sobre o ex-Presidente Collor, em 2010, pela Cia. do Livro. - Micro Crédito e Desenvolvimento Regional, - BNB – 60 Anos de Desenvolvimento - Esses dois últimos, em co-autoria com Francisco Goes. ​Arnaldo Santos é membro da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo – ACLJ, e da Sociedade Internacional de História do século XVIII com sede em Lisboa.