POEMA PANFLETÁRIO   

POEMA PANFLETÁRIO                            

(aos amigos da Sociedade da Jaboticaba)

 

Insurjamo-nos!

Munamo-nos de armas!

Armas culturais…

Contra o sistema que nos oprime!

 

Se custa-nos ver o idílio…

O leite e o mel derramado… 

Na paisagem terrena…

Recalcitremo-nos, pois, 

Por meio das bombas simbólicas da crítica mordaz!

 

Ponhamos em cada poema…

Uma retaliação sagaz!

Em cada obra de cinema…

Um veneno contraideológico…

Que desvele do opressor…

Seu plano abjeto!

 

Façamos germinar no campo,

Fértil terra das plásticas artes,

A semente subversiva do autorespeito e da cidadania!

Pintemos com cores fortes

O céu azul que se avermelha

Posto que se desfaz em flores!

 

Corramos a maratona da sublevação!

Calcada na desobediência dos esquemas caducos

E das leis dos juristas ilegais!

 

Amotinemo-nos nas casernas da tolerância! 

Sabendo que todos devem caber no enquadramento

Sem obliteração da dignidade!

 

Roguemos aos deuses da Arte

Que nos protejam e bendigam!

E guiem nossas mãos a trespassar o inimigo

Com a lâmina feroz de nossa estética revolucionária!

 

Não poupemos esforços!

 

O caminho está aberto!

Pois quanto mais nos privam…

Mais lutamos!

Quanto mais nos sufocam…

Com a mordaça da mentira subornada…

Mais ressoa o nosso belo canto de glórias!

 

Quanto mais nos desvalorizam 

Mais desdenharemos de seu vil metal!

A antítese do Deus da Arte…

O Senhor dos exércitos da transfiguração estética!

 

Componhamos em nosso drama

A dança viva da inclusão!

Dancemos sobre suas obras senis…

E sua vida tacanha e gris!

 

Vociferemos a retórica inefável da conclamação!

Da chamada à luta…

Daqueles que marcharão 

Sobre o exército dos desalmados

Nutrindo o solo com o sangue metafórico

Dos incrédulos da arte!

 

Que as letras de nossas obras

Os ameacem como pesadelos sombrios!

Que se-lhes impinjam pavor

Pelo simples farfalhar frenético

Das folhas de nossos livros a persegui-los 

Como besouros peçonhentos!

 

Que a melodia que toquemos 

Seja como a atmosfera que nos envolve…

E quanto mais nos nutre…

Mais se ocupe de envenená-los na mesma medida!

 

– Insurjamo-nos artistas de todo o mundo!

Que este esganiçado chamado te atinja!

Façamos em nós mesmos nossa própria arte final!

 

Que este poema soe como uma trombeta!

Decibélica e megatônica!

 

Que faça moverem-se os que pintam a si mesmos como naturezas mortas…

No fundo dos sofás, das galerias!

Esculpamo-nos a nós mesmos…

Com o respeito de quem não se permite aviltar…

Na vida pela vida… ou arte pela arte!

 

– Insurjamo-nos! 

Subvertamos a ordem de quem nos desgoverna

Nossa tinta nanquim será o Napalm…

A desfolhar a pele dos robóticos, caretas e reacionários!

 

– Brandemos, punho em riste

Nossas penas, cinzéis e pincéis!

Nossas capas duras como couraça!

Nossas telas como escudo!

Nosso figurino, nossa farda!

 

Quando perseguidos…

Comuniquemo-nos em pianíssimo!

E se o mundo em adágio vai,

Marchemos presto, presto, presto!

Con allegro e con brio!

 

Nossa marcha será

Sutil como balé…

Intensa como tango…

Astuta como a capoeira!

 

Nossa guerrilha…

Nossas bombas culturais…

Ribombando como tonitruantes tímpanos 

De orquestra engajada!

 

Os neófitos, não temam!

Pois nos seguem os melhores seres da história humana!

Subvertamos a ordem desse desgoverno!

 

Nossos cronistas escarnecerão…

A vida hipócrita dos caretas!

Denunciarão a comédia de suas vidas 

Isso será sua maior tragédia!

 

E se o poema não tem rima

E se a forma é indigesta

Não temamos, oh,  guerreiros da cultura!

Pois não nos julgarão nenhum juizeco vendido

Ou ministro de facções criminosas!

 

Só os bons espíritos da Arte julgarão nossa obra

Na história e na Eternidade!

O tempo (em metrônomo) nosso aliado será

E de nossos inimigos o algoz!

 

Quando nossa luta se radicalizar

Lançaremos mão da estratégia terrorista!

Nosso terror é levar a verdade aos olhos

De quem vive de hipocrisia!

É o terror do grafite no muro dos canalhas!

 

Desapropriando a música do opressor

Criaremos samplers e jingles com o poderoso Repente Moderno…

Mote e Glosa de nossa Ação Cultural Revolucionária!

Nossos versos cairão em suas cabeças como morteiros!

Nossa prosa ácida, penetrante e incendiária!

Nossa armada libertará mentes…

Rompendo os grilhões da ignorância, totalitarismo e estupidez!

 

Nossos canhões de decibéis

Porão a pique suas naus!

Para que se afoguem em sua própria vida parasitária!

Retiraremos o escalpo de seus sequazes de cabeça oca!

E a cobriremos com papel crepom escrito:

Abaixo o protofascismo!

 

Nossas poesias de bolso serão granadas…

Fragmentando e proliferando nossa mensagem…

Implodindo mentes fracas, obsoletas e mesquinhas!

Nosso hip-hop metralhando a opaca vilania dos hereges!

Será o nosso hino subversivo sibilando nas bocas…

Pelos becos, guetos, praças e esquinas!

 

– Insurjamo-nos artistas de todo o mundo!

Façamos de nós mesmos e do mundo

A nossa própria Obra-Prima!

 

 

 

   

 

 

 

 

Renato Angelo

Mestre em políticas públicas, professor universitário, pesquisador, poeta e contista