PAULO DINIZ PARTE SILENCIOSAMENTE

Ontem foi um dia triste. Soube que o cantor e compositor Paulo Diniz fez a viagem para o eterno. E aí vêm à recordação suas músicas vibrantes.

Ele começou sua carreira de cantor com a música “O Chorão”, na época em que estavam no auge os grandes sucessos da jovem-guarda. Naquele momento eram bem aceitas essas brincadeiras, composições bobas, que produziam o efeito de relaxar, popularizar, impressionar e, claro, vender discos. Era o mesmo estilo de seu conterrâneo Reginaldo Rossi, quando gravou “Tô doidão”, personagem louco que
superou o próprio Chacrinha.

Pernambucano de Recife, Paulo seguiu para Caruaru, tentando consolidar uma carreira de comunicador. Depois, veio pra cá, Fortaleza, onde atuou como locutor e ator de rádio e televisão, na TV Ceará Canal 2, Rede Tupy.

Logo em seguida, em 1964, foi para o Rio de Janeiro, onde passou a compor com mais frequência e lançou-se como artista. Sua primeira gravação saiu em 1966 ( O Chorão), que logo se tornou sucesso nacional.

Em 1970, compôs, em parceria com o amigo Odibar, o hino de protesto “Quero voltar pra Bahia”, cujos versos carregados de saudade, prestavam belíssima homenagem ao cantor e compositor Caetano Veloso, que se encontrava exilado em Londres. Ao mesmo tempo, influenciava as novas gerações de compositores, sendo certo que a canção alçou os primeiros lugares das paradas em todo o país e se tornou uma espécie de hino, canção-símbolo de uma época conturbada da história política e social do Brasil, para um pessoal mais politizado.

Ainda no decorrer dos anos 70, Paulo Diniz se dedicou à tarefa importante de musicalizar poemas de língua portuguesa, destacando autores como Carlos Drummond de Andrade (E agora, José?), Gregório de
Matos (Definição do Amor), Augusto dos Anjos (Versos Íntimos), Jorge de Lima (Essa Nega Fulô) e Manuel Bandeira (Vou-me Embora pra Pasárgada).

Nessa tarefa de musicar poemas, Paulo foi além do êxito. Brilhou ao abrir caminhos para outros artistas que, a partir dessa linha, começaram também a musicar versos de autores consagrados.

Realmente, “E Agora, José?, parceria com Drummond, se tornou um verdadeiro clássico de nosso cancioneiro popular, como igualmente tornou o grande poeta mineiro, mais conhecido ainda. Em rodas de músicos, nas esquinas e barzinhos do Brasil, aqueles que desejam oferecer mais erudição, não esquecem a notável composição desse nome que partiu ontem, aos 82 anos.

Tenho saudades do Paulo Diniz em sucessos como “Pingos de amor”, “Um chopp para distrair” (com um romantismo descolado, diferente, sintonizado com sua época) e “Ponha um arco íris na sua moringa”, crônica que descrevia, com senso de humor e descontração, o Rio de Janeiro como um ambiente de efervescência cultural.

Da substantiva obra, entretanto, bastavam, entre centenas de músicas gravadas, “Quero voltar pra Bahia” e “E agora, José?” para revelar o especial talento desse excelente compositor nordestino que parte silenciosamente.

Durval Aires Filho

Durval Aires Filho é Desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará, professor universitário e mestre em Políticas Públicas. É membro da Academia Cearense de Letras, tendo publicado os seguintes livros: “As 10 faces do mandado de segurança“ (Brasília Jurídica) e “Direito público em seis tempos. Autores relevantes e atuais” (Fundação Boitreaux). Antes da pandemia foi vencedor do Prêmio Nacional de Literatura para Magistrados, com a ficção “Naus Frágeis”.

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Durval Aires Filho

Durval Aires Filho é Desembargador do Tribunal de Justiça do Ceará, professor universitário e mestre em Políticas Públicas. É membro da Academia Cearense de Letras, tendo publicado os seguintes livros: “As 10 faces do mandado de segurança“ (Brasília Jurídica) e “Direito público em seis tempos. Autores relevantes e atuais” (Fundação Boitreaux). Antes da pandemia foi vencedor do Prêmio Nacional de Literatura para Magistrados, com a ficção “Naus Frágeis”.