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Quando de nosso curso de Especialização em Democracia Participativa, pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em 2008, tivemos a oportunidade de participar de vários fóruns de discussão, dos quais destacamos os diálogos com o antropólogo brasileiro Carlos Rodrigues Brandão na disciplina “Cultura Política, Religiosa e Ação Social”.

Registramos um trecho do eminente professor interagindo com uma reflexão por nós apresentada. Disse ele: “Acho que aprendi bastante com o que você analisou. De fato, “a noite dos tempos é sempre hoje”, é sempre agora. Mas “o dia que amanhece”, também. Sempre estivemos entre a proximidade da barbárie e alternativa da redenção. Sempre houve, e nem sabemos até quando haverá um enfrentamento entre os dois ou mais lados que nos fazem tão humanos e, ao mesmo tempo, tão desumanos. Apenas agora, temos ao mesmo tempo mais alternativas e mais espaços de engajamento e testemunho (como se dizia no meu tempo), e, simultaneamente, mais vontade de desistir. Porém, eu concordo com você: “mais do que nunca, a hora é agora”.

Portanto, não obstante o desmonte a que estamos submetidos, desde o Golpe de 2016, como muito bem lembrou o Presidente Lula em entrevista concedida recentemente ao Blog Guancha, do jornalista chinês Eric Li, dialeticamente é nesse momento de opressão que podemos encontrar luzes e saídas para retornarmos à democracia.

O pedagogo brasileiro Paulo Freire, em sua obra “Pedagogia do Oprimido”, afirma que a experiência de opressão, da marginalização e da pobreza, que em princípio é desumanizadora, os movimentos sociais fazem dela resistência e incentivo para formação de valores e educação política, por meio de uma pedagogia que os leva a reagir às limitações impostas à existência humana, para construir processos de humanização. Sendo assim, a própria experiência da opressão termina sendo uma matriz formadora de processos de humanização a partir da consciência da desumanização.

Para Freire, lutar pela humanização é a grande tarefa da humanidade. O ser humano forma-se como espécie na luta incessante pela própria humanização. Humanizar-se é agir para uma transformação ética das subjetividades, capazes de encontrar motivações intrínsecas geradoras de novos comportamentos individuais e sociais, no esforço de estabelecer novas realidades de um mundo bom para todos os seus habitantes.

Neste sentido, conforme já registramos em artigo passado, em nossas conversas com jovens, realizadas nos dias 05 e 06 de julho, as questões apresentadas acima se colocam claramente.

Um aspecto importante a destacar desta pesquisa é o contraste entre a concentração de renda na mão de uma minoria exploradora e a miséria que afeta grande parte da juventude brasileira. Em seus diálogos evidenciou-se claramente a pobreza a que estão submetidas várias famílias. Basicamente a maioria deles citou a importância da Escola, não apenas como oportunidade de aprendizado, mas como o local onde podem ter acesso ao alimento diário, uma vez que em suas casas não têm o que comer. Situação esta agravada fortemente com o governo Bolsonaro.

Portanto, quando indagados por nós sobre quem vencerá a eleição presidencial em 2022, foram unânimes em apontar Lula como o grande campeão. Entre tantos aspectos elencados, para eles, a coerência de Lula por ter fundado e comandado, desde 1980, o mesmo partido (Partido dos Trabalhadores – PT), confere-lhe uma autoridade ímpar. O mesmo não se pode dizer de seus concorrentes diretos, tanto Bolsonaro quanto Ciro Gomes que vivem pulando de “galho em galho”, de partido em partido. Deixando claro, na opinião dos jovens, que Lula tem um projeto para o povo, enquanto os outros dois têm apenas projetos pessoais.

Conclui-se que esse mapeamento qualitativo produzido na pesquisa contribui para a compreensão da responsabilidade do PT cearense diante da confiança que a juventude deposita na proposta do partido. Não há dúvida de que a História cobrará a fatura caso o Partido dos Trabalhadores no Ceará feche os olhos para esta quadra de retomada da democracia, tendo inclusive como altíssimo horror nessa luta libertária o genocídio de 600 mil brasileiros e brasileiras pelas mãos do desgoverno bolsonarista, como está a denunciar a CPI da Covid instalada no Senado Federal.

Será que o PT no Ceará estará integralmente engajado durante a campanha de 2022, e sintonizado com o projeto nacional a ser implementado com a eleição do presidente Lula? Ou será que alguns dos seus importantes quadros, inexplicavelmente, apoiarão outros candidatos à presidência da República? Finalmente, quais serão as candidaturas ao governo do estado e ao senado que o PT apresentará para garantir esse apoio efetivo a Lula? Essa é uma questão que paira na cabeça desses jovens entrevistados.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .