O velho e o novo, por Luciano Moreira (Xykolu)

Lá bem no alto do décimo segundo andar do Ano

Vive uma louca chamada Esperança

[…] *

EM VOO VÃO **

Se o pássaro, desencantado com a vida vã, voa…

O olhar fito no nada, vai voejando por aí afora,

ao deus-dará, sem rumo, sem qualquer destino,

e até sem um mínimo de apego ao velho ninho,

vai, seguramente, experienciar um voo vão, à toa,

sem noção do ontem, do amanhã nem do agora;

vai sofrer a dor, profunda e cruciante, do desatino;

vai merecer, sim, morrer tão solitário, tão sozinho.

De igual talante, no peito meu um bater, que soa

em um ritmo em cadência (com pressa, embora!),

de um velho coração, opresso e sem descortino,

desesperançado, em prantos, mísero de carinhos.

N’alma, em contraponto pois, o sonho que destoa:

o desejo que projeta a vã esperança de outrora,

que recria, sob um céu de anil, um tão cristalino

horizonte – confiável: com aprumo e com alinho.

Alma e coração

imitam o pássaro sem norte:

em desafio à própria morte,

em voo vão.

FLUXO E REFLUXO **

Até o mar,

em plena fúria,

e com o vento,

sem lamúrias,

se emparceira,

vira procela

e, lá na praia,

em altas ondas,

se esfacela.

E já abatido

ou satisfeito

ou arrependido

ou contrafeito,

ele se recolhe,

ele se acalma.

Há quem o olhe

e até veja

a sua alma.

[…]

Ela lhes dirá bem devagarinho, para que não esqueçam:

O meu nome é ES-PE-RAN-ÇA…” *

Post Scriptum:

* Mário Quintana, em Esperança [Baú de Espantos, pág. 83].

** Xykolu: São extratos de mim mesmo. Sou eu em minhas vãs palavras que não se aquietam em mim mesmo… e extravasam. Trata-se de espasmos de minha lucidez, em interlúdios de uma perene loucura que me faz ser gente num mundo que gira, em torno de si, de mim e de outrem, e que, portanto, tantas vezes me embriaga, tantas outras me nocauteia com indesejada – mas sempre consentida – ressaca.

E que tenhamos um Ano Novo que não nos permita sequer lembrar o Ano Velho!

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