MUSA MINHA, PERDÃO! *

A MUSA EM QUEM ME INSPIRO IRRADIA UMA BELEZA ANGELICAL, embora se enclausure em sua torre de cristal, erguida nas encostas escarpadas de um lago divinal: de águas límpidas, remansosas e transparentes. E, assim, ser de difícil acesso aparenta. Cumpre-me ser persistente. A musa em quem me inspiro mescla perspicácia com experiência, estratégia com inteligência, […]
OS NOVOS SABATINOS PAPOS DE CALÇADA

Nos idos e saudosos tempos, quando a violência urbana se restringia a práticas marginais ambientadas em zonas periféricas da metrópole, com avanços pontuais pelas áreas centrais e bairros tidos como nobres, eles, vizinhos de muitos anos, costumavam sentar-se na calçada de suas modestas casas, sempre nos sábados e fins de tarde – que, como diz […]
Dizem que os bêbados veem coisas

Na fria madrugada de um intenso inverno, a terra úmida e em pleno cio, os bosques exuberantemente verdejantes e os rios furiosamente transbordantes, fauna e flora em extasiante manifestação de irradiante contentamento pela vida, a Natureza em festa, revestida de deslumbrante embelezamento, sob a ampla fronde de uma provecta e generosa mangueira, guardadora impoluta de […]
RECORTES DO COTIDIANO – O filho de moita
A conversa, que começara titubeante, incerta, ia aos poucos se alongando, firme, consistente, com perceptível naturalidade; parecia que eles se conheciam desde longa data, profundos conhecedores do assunto – os cuidados que todos devemos ter com o corpo e a mente para que usufruamos de uma vida saudável e longeva –, sobre o qual discorriam […]
RETALHOS DO PASSADO – Nem faroeste, nem policial
A sequência sinuosa de quase meia centena de prédios contíguos, construções de idades, formas e cores variadas, de uso residencial – a maioria – e comercial, estendia-se – com apenas uma discreta abertura, ao lado da moradia e comércio do Zé Carneiro e seus saborosos tijolinhos de coco (apesar dos piolhos e lêndeas por ele […]
REMINISCÊNCIAS – Viver para lembrar
Quando éramos crianças, aí pela metade do século passado, e embirrávamos em não dormir, debalde a insistência de quem nos pôs no mundo – rede pra cá, rede pra lá, sob voz maviosa e suaves acordes de cantos de ninar (“O cravo brigou com a rosa”) e cânticos religiosos (“Mãezinha do céu, eu não sei […]
RECORTES DO COTIDIANO – Na fila do caixa da farmácia – FRANCISCO LUCIANO GONÇALVES MOREIRA (XYKOLU)
Eu era o décimo terceiro numa fila que teimava em não andar. A olhos vistos, a causa de tamanha lentidão carregava rótulos atualmente bem conhecidos – contenção de despesas ou redução de pessoal ou fechamento de postos de trabalho, tudo isso concorrendo para um mal que ora aflige a todos nós: o alto índice de […]
CONVERSA NA PRAÇA – Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)

“Cervantes dizia que a língua portuguesa é a mais sonora e musical do mundo”. (Ariano Suassuna, em postagem em rede social). Quando cheguei à acolhedora praça, domingo cedinho, eles já lá se encontravam, bem aboletados em um dos espaçosos bancos de assento e encosto de madeira e estrutura de ferro, sob a sombra de generosos […]
SIMPLESMENTE JOSÉ OU MESTRE OLAVO (Parte I) – por Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)
Na pia batismal, agraciaram-no com um nome singelo – embora cristãmente expressivo: José. Queriam-no assim: José simplesmente! A expectativa dos pais – um jovem “faz tudo”, que, havia pouco tempo, abandonara a viola tão amada e o repente tão criativo e, às vezes, sarcástico, irônico e mordaz, para, aos poucos transformar-se em requisitado mestre de […]
A LÍNGUA DOS OUTROS – por Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)
“Acho que aquele que conta histórias deveria ter sempre alguém para contá-las, e somente assim poder contá-las a si mesmo.” (Umberto Eco, em BAUDOLINO). – O ônibus ’stá no prego! Nascido na província neerlandesa de Holanda do Sul, em Dordrecht, cidade de localização estratégica, onde o rio Merwede bifurca-se em Novo e Velho Maas, com […]
A INOCÊNCIA EM TEMPOS INFERNAIS – por Francisco Luciano Gonçalves Moreira (Xykolu)
“Como se de repente abrolhassem pedrouços ásperos no leito de um regato tranquilo e claro.” (Antônio Sales, em Aves de arribação). E o garoto de rosto angelical, olhos azuis de turmalina parahyba, cabelos de fios de ouro em cachos, em sua inocência devidamente “chipada” de cinco anos recentemente completados, quis saber: – Voinha, […]