A diferença colonial é um conceito do pensamento decolonial desenvolvido por Walter Mignolo na sua obra “Histórias locais/projetos globais. Colonialidade, saberes subalternos e pensamento limiar”. Nesse livro, ele afirma tomar como ponto de partida para as suas reflexões os estudos sobre o sistema-mundo moderno desenvolvidos por Immanuel Wallerstein, e, como ponto de chegada, a diferença colonial.
Mignolo adotou como ponto de partida o conceito de sistema-mundo moderno porque, no seu entendimento, ele apresentava a vantagem de incorporar a dimensão espacial em relação à cronologia que Mignolo havia adotado em seu livro anterior: “O lado mais obscuro do Renascimento. Alfabetização, territorialidade e colonização”. Todavia, os estudos de Wallerstein não contemplavam a diferença colonial.
A dimensão espacial do sistema-mundo moderno de Wallerstein permite a reflexão política, econômica e cultural a partir das suas margens, onde a diferença colonial era e continua a ser produzida, pois a diferença colonial é um corolário e uma consequência da emergência da conquista das Américas pelos europeus em 1492, da sua localização no sistema-mundo moderno e das transformações na ordem colonial moderna até o presente momento.
A diferença colonial é o espaço a partir do qual emerge a colonialidade do poder. É onde as histórias locais se encontram e se rivalizam com os projetos globais. Portanto, é o espaço da história e da cultura no qual os projetos globais, ao se encontrarem com os locais, integram-se, adaptam-se, são adotados, rejeitados ou ignorados. Como sintetiza Walter Mignolo: “[…] a diferença colonial é, finalmente, o local ao mesmo tempo físico e imaginário onde a tua a colonialidade o poder, no confronto de duas espécies de história locais visíveis em diferentes espaços e tempo do planeta.”
A colonialidade do poder pressupõe a diferença colonial como sua condição de possibilidade e como instrumento de legitimação da subalternização do conhecimento e da subjugação dos povos. Diferença colonial significa a classificação do planeta no imaginário colonial/moderno, efetivada pela colonialidade por meio do processo de transformação de diferenças em valores. Por exemplo, a classificação social dos povos do planeta a partir da ideia de raça torna o racismo estrutural a matriz que permeia todos os domínios do imaginário do sistema mundial colonial moderno.
Como esclarece Mignolo, se o conceito de colonialidade do poder de Aníbal Quijano permite deslocar a análise crítica do sistema-mundo moderno para o sistema-mundo colonial/moderno, a diferença colonial torna visíveis as fraturas epistemológicas e a distinção entre a crítica ao eurocentrismo realizada por um pensamento eurocentrado da crítica do eurocentrismo realizada a partir da diferença colonial, como realizada no pensamento decolonial. Este incorpora a singularidade de cada história e suas experiências (heranças) coloniais. As diferenças coloniais no planeta são a moradia na qual habitam as epistemologias outras.