Categoria:

Tags:

O pássaro e as rãs

Havia em um lugarejo, um pássaro muito formoso, que costumava sempre fazer seus discursos verborrágicos, chamava-se : Socram, o infalível. Era sempre respeitado e amado por todas as rãs, que moravam no fundo de um poço, considerado sagrado por Socram, pois era lá que Socram fazia seus discursos, e quando ia passear com seus outros amigos, os pássaros menores, ele dizia: __ Eis que podem continuar voando a sós, vou descer até o poço sagrado para fazer o meu saudoso discurso para as minhas queridas e amigas rãs.

Socram era astuto e perspicaz, em seus discursos eloquentes. Quando começava o período de busca pelo seu alimento, ele abandonava seus companheiros, e caia na farra às custa de suas servas fiéis, as rãs. Ao chegar no lugarejo, as rãs recebiam Socram como um Deus todo poderoso, pois as rãs tinham um sonho muito latente em seus corações, que era o de conhecer outros lugares.

Quando Socram chegava naquele lugarejo e descia até o poço das rãs, um banquete lhe era preparado, tudo do bom e do melhor as rãs lhe ofereciam: bebidas, comidas, pedras preciosas, e tudo que as rãs podiam. Depois de se banquetear, Socram começava seu discurso verborrágico dizendo: — Amigas e queridas rãs, hoje é motivo de muita alegria estar mais uma vez nesse local maravilhoso com cada uma de vocês. Muito breve irei trazer alguns de meus amigos pássaros e então todos nós embarcaremos juntos, para construirmos um mundo melhor para cada uma de vocês. Não tenham dúvida, de que muito breve vocês deixarão esse poço medíocre e conhecerão a beleza dos Rios, e até mesmo contemplarão a magnificência dos mares, vocês verão o quanto é lindo o pôr do sol, fora dessa escuridão em que vivem. Vocês também verão a grandeza dos céus e poderão contemplar mais próxima a magnitude das estrelas, ah! minhas amigas rãs, não vejo a hora de voarmos juntos para vocês contemplarem dias melhores em vossas vidas tão sofridas.

E as rãs batiam palmas para Socram, e choravam, esperneavam-se e diziam:__Quando voltas novamente amigo Socram?, pois já estamos ansiosas por tua volta. E o pássaro oportunista saia voando e cantarolando, em breve volto para levá-las comigo.

Depois, que o pásaro saia, as rãs se entristeciam novamente, e continuavam a mesma vida medíocre de sempre, estavam muitas morrendo pela contaminação do poço, queriam partir dali, mas não possuíam meios, nem recursos, e quando se reuniam, ficavam sempre esperando por Socram, que lhes havia prometido um mundo melhor.

Como já fazia muito tempo que Socram não aparecia, as rãs se reuniram e tomaram uma decisão em um Comitê Central, e ficaram aguardando o retorno de Socram. Assim quando bateu a necessidade de Socram se alimentar novamente do suor daquelas rãs, ele partiu imediatamente para o poço no lugarejo, onde há décadas enganava as miseráveis rãs. Ao chegar no lugarejo, aventurou-se logo em busca de suas amigas no sagrado poço. Quando as rãs o viram e ele sentou-se em seu precioso trono, e quando ia começar a discursar, todas as rãs saltaram em cima dele e o depenaram por completo. O pásaro ficou só os ossos, então elas o enterraram e gritaram todas juntas: “Aqui jaz Socram, o nosso Deus Amado”.

Marcos Abreu, é poeta e escritor brasileiro

Sobre o autor:

Compartilhe este artigo:

O pássaro e as rãs