O INSUBORDINADO E O ELEVADO CUSTO DA INSUBORDINAÇÃO

Insubordinado, segundo o conhecimento geral, é aquele que possui ou demonstra um comportamento desobediente, não acatando regras, normas ou preceitos, expressos para toda a sociedade, agindo com insubordinação e grosseria. Move uma pessoa com esse mau predicado um sentimento autoritário e de intimidação sobre aqueles  que, para ele, representam ameaça a sua vontade, bem como um incontido desejo de não respeitar quaisquer regramentos civilizatórios, mesmo que tal comportamento custe a vida de mais de quatro mil pessoas por dia, 350 mil até aqui, o que equivale a um terço dos mortos em todo o mundo.

É verdadeira, pois, a semelhança com o que ocorre nessa vastidão de terras férteis, ricas em minerais de alto valor industrial e comercial, de clima temperado e densas florestas tropicaisdiversificados biomas e sua múltipla biodiversidade, banhadas por extensos rios caudalosos que abastecem e formam a maior reserva subterrânea de água doce do Planeta, onde impera no momento a insubordinação.

A jovem população que povoa essa extensa faixa territorial sonha, em um futuro próximo, libertar-se do obscurantismo a que está sendo submetida, e conquistar a terra prometida que, por um estelionato eleitoral, fora inventada por um Messias miseravelmente ao reverso, e sua nova política”.

Situadas na América do Sul, nessas terras – a maioria das quais abaixo da linha equatorial um povo agoniza vitimado pela pandemia, tateando, desorientado, na escuridão da mentira. Ele está submetido a uma prática de negação de todas as modalidades do conhecimento científico que,embora milenarmente validado pelos inúmeros avanços obtidos nas diversas áreas da saúde e da tecnologia, por exemplo, e aceito em todo o mundo civilizado, por essas bandas não vale um derréis de mel coado. Isto porque seu desgovernante, por insubordinação, se recusa ao cumprimento de qualquer norma, preferindo a prática do charlatanismo, prescrevendo um tal tratamento precoce, em detrimento da ciência.

Esses fatos não encontram precedentes na história recente do País, visto que, até pouco tempo,essa população era uma sociedade Pátria, e hoje é pária diante do mundo civilizado (esse foi o legado deixado pelo embaixador Ernesto Araújo), ante a indisciplina daquele que, por escassos recursos mentais e múltipla ignorância, descumpre todos os protocolos sanitários preconizados pela comunidade científica mundial, assim como a totalidade das regras de convivência e civilidade exigidas a todos os cidadãos, especialmente de quem recebeu a sublime responsabilidade de governá-la.

Ante tão inusitada e vergonhosa realidade, é imperioso perguntar: qual a gênese, e por que essa insubordinação do excapitão?

Para tentar responder a essa pergunta, primeiro é preciso dizer que, embora, para o senso comum, o insubordinado seja aquele que apenas se rebela contra os seus superiores, é também subversão, desmando, e, nesse caso, os superiores são os cidadãos detentores do poder originário (o que denota falta gravíssima com fulcro na Constituiçãode quem recebeu democraticamente o legítimo direito de agir em seu nome e em seu favor, e não o contrário, como vem ocorrendo, inclusive deixando parte significativa agonizar até a morte.

Para melhor entender a gênese dessa desobediência compulsiva do mencionado saltimbanco, vale uma passagem rápida pela hierarquia militar, tendo como referência o exército, de onde aliás foi expurgado por semelhante comportamento que adota na realidade em curso, de não respeitar qualquer norma, nem mesmo a Constituição, por se julgar superior a tudo; aqui, é preciso enfatizar o fato de que nem esta respeitável corporação escapou suas injunções políticas, com o objetivo de ter um exército para chamar de seu.

Nessa perspectiva, será necessário recorrer a alguns estudos realizados nessa área, dentre os quais tem ressalto a teoria das baionetas cegas, versus teoria das baionetas inteligentes,amplamente conhecidas dos estudiosos do tema, onde é discutido se ordem ilegal militar deve ou não ser obedecida.

No episódio das demissões do Ministro da Defesa e dos três dirigentes militares maiores (Exército, Marinha e Aeronáutica), por não aceitarem a ilegal politização das Forças Armadas, verificou-se, a um só tempo, mais um exemplo de insubordinação e tentativa de subversão, por parte do comandanteemchefe, que, se prevalecendo da “autoridade”, tentou desrespeitar e desconhecer as três forças como instituições de Estado, pretendendo utilizá-las de maneira a satisfazer suas pretensões autoritárias, como já o fizera com a Polícia Federal e o COAF, para tentar esconder os crimes de rachadinhas praticados pelos filhos, segundo noticiário da imprensa e denúncia do Ministério Público.

Outra referência muito elucidativa que ajuda a se entender a raiz desse estado de permanente subversão da ordem pela insubordinação, por parte daquele que jurou cumprir e fazer cumprir as leis e a Constituição, é encontrada no trabalho da pesquisadora Fernanda de Santos Nascimento, doutoranda em História pela PUC-RS, intitulado Indisciplina e Insubordinação no Exército Brasileiro, na década de 1920: O Caso da Coluna da Província, na revista Defesa Nacional.

No mencionado ensaio, a pesquisadora disserta com riqueza histórica sobre um movimento para a criação do referido periódico, inspirado numa publicação da Militaer Wochenblatt, alemã, cujos textos escancaravam o atrevimento de alguns jovens militares brasileiros, em sua maioria, escritos por tenentes, capitães e alguns majores, causando muita agitação e rebeldia dentro do exército nos anos de 1920.

Vale registrar o fato de que alguns dos artigosdependendo do seu conteúdo, não traziam assinatura dos seus autores, pelo que se infere corresponderem às tão famosas fake-news da atualidade, bem ao gosto do clã bolsonarista e seus seguidores. Será coincidência? Sem nenhuma comparação, visto que o indisciplinado e manipulador em referência não sabe falar, muito menos escrever. Os fatos expressos pela Historiadora permitem que se identifique, pelo menos em parte, a origem desse errático comportamento.

Esse movimento de indisciplina nas fileiras dos exército, externado pela mencionada publicação, de algum modo, ajuda a se entender em qual forja teve origem o comportamento desobediente e indisciplinado observado nesses tempos obscuros,exercitado no limite por quem devia dar o exemplo de respeito e submissão à Carta Magna, às leis e ao povo que o elegeu.

Com a palavra o Congresso Nacional, que detém poderes constitucionais para pôr fim a esse estado permanente de insubordinação e subversão da ordem democrática, desprezo pela vida e pelo meio ambiente, negação da ciência e do direito à informação correta e segura, assim como em relação à indiferença a valores civilizatórios e de convivência harmoniosa do Estado Brasileiro.

A situação, lamentavelmente, é revelada semelhante ao que exprimiu o jornalista e intelectual pernambucano Nelson (Falcão) Rodrigues, “[…] Criou-se uma situação realmente trágica: ou o sujeito se submete ao idiota ou o idiota nos’extermina”.

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Arnaldo Santos

Arnaldo Santos é jornalista, sociólogo, doutor em Ciencia Política, pela Universidade Nova de Lisboa. É pesquisador do Laboratório de Estudos da Pobreza – LEP/CAEN/UFC, e do Observatório do Federalismo Brasileiro. Como sociólogo e pesquisador da história política do Ceará, publicou vários livros na área de política, e de economia, dentre eles - Mudancismo e Social Democracia - Impeachment, Ascenção e Queda de um Presidente - sobre o ex-Presidente Collor, em 2010, pela Cia. do Livro. - Micro Crédito e Desenvolvimento Regional, - BNB – 60 Anos de Desenvolvimento - Esses dois últimos, em co-autoria com Francisco Goes. ​Arnaldo Santos é membro da Academia Cearense de Literatura e Jornalismo – ACLJ, e da Sociedade Internacional de História do século XVIII com sede em Lisboa.