O Golpe resiste pelas mãos do Banco Central e da Mídia-Pig

Em 22 de março, quarta-feira, o Comitê de Política Monetária (Copom) emitiu documento resultante da 253ª reunião, mantendo a taxa básica de juros – Taxa Selic – em 13,75% ao ano, a maior taxa básica de juros do mundo. A expectativa do Comitê com a adoção dessa política monetária é desacelerar a atividade econômica (recessão), mesmo se a própria resolução admite que a inflação atual não é causada por pressões de demanda, muito pelo contrário. Segundo o documento, são os preços administrados, aqueles diretamente regulados pelo governo federal (como o preço da gasolina, gás de cozinha, eletricidade, planos de saúde e outros), que na era Bolsonaro obtiveram liberdade total para conferir lucros colossais aos bilionários acionistas em detrimento da precarização da vida econômica da população brasileira, os principais causadores da inflação atual.

Mas a chantagem presente na resolução criminosa de manutenção da Taxa Selic nesse patamar estratosférico é apontada no documento ao colocar como incerteza inflacionária “o novo arcabouço fiscal e seus impactos sobre as expectativas para a trajetória da dívida pública”. Portanto, o Banco Central pretende, sem ter recebido o voto da soberania popular, impor que política econômica deve ser adotada pelo governo Lula, chegando a ameaçar que “não hesitará em retomar o ciclo de ajustes da taxa caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”. Ao jogar o país numa recessão, o Banco Central, presidido por Bob Fields Neto, impede que o projeto desenvolvimentista do Presidente Lula, sufragado nas urnas para recuperar os empregos, valorizar os salários, desenvolver novamente o país e extinguir a fome, seja colocado em marcha. Ou seja, o Banco Central investe nos pressupostos econômicos de concentração de renda por meio do teto dos gastos sociais, desemprego e arrocho salarial, estabelecidos pelo Golpe de 2016, para garantir os lucros estratosféricos dos especuladores financeiros.

Mas além do Banco Central, a outra estrutura alimentadora do Golpe é a Mídia-Pig, que continua com sua operação de guerra híbrida: impondo choques cognitivos, desmoralizando lideranças políticas de esquerda, desmanchando regimes democráticos, alimentando fake news para favorecerem o surgimento de agentes estrambólicos e entreguistas, como ocorre no Brasil desde a implantação da assim chamada Operação Lava Jato, associada ao Departamento de Justiça estadunidense, para desmantelar o patrimônio brasileiro e sua democracia, favorecendo o surgimento do neofascismo local.

Recentemente a Mídia-Pig articula uma operação de ressurreição do ex-juiz Moro (mais conhecido no submundo como Russo, que disse que nunca entraria na política), diante dessa incógnita anunciada de o PCC pretender atacar o agora senador. Como afirmou o jurista Lênio Streck, esse novo caso envolvendo o ex-juiz declarado suspeito pelo STF, “trata de uma ameaça de algo que não aconteceu, sendo que tudo foi descoberto depois que não aconteceu”. Basta pensar que a juíza titular da 9ª Vara entrou de férias numa quinta-feira, e na sexta-feira, após substituir a titular, a juíza Gabriela Hardt (aquela do control C + control V) já tinha pronta na terça-feira, logo cedo, uma decisão de 69 páginas: agilidade exemplar e plena sintonia com as falas de Moro, de Lula e dos acontecimentos subsequentes. Tudo muito bem orquestrado e vazado, como é costume desse pessoal.

Contudo, no dia de ontem, 27/03, o advogado Rodrigo Tacla Duran afirmou em juízo algo de extrema gravidade para a cena pública nacional: foi alvo de extorsão, para não ser preso na assim chamada Operação Lava Jato. Ele implicou o então juiz Sérgio Moro e o ex-procurador Deltan Dallagnol (DD) em sua denúncia do referido crime. A declaração foi dada ao juiz Eduardo Fernando Appio, titular da 13ª Vara Federal de Curitiba – PR, durante seu depoimento oficial.

Em 14 de julho de 2016, Tacla Duran fez uma transferência bancária para o escritório de um advogado no valor de US$613 mil (seiscentos e treze mil dólares), como primeira parcela do pagamento para não ser preso na Lava Jato. Seis meses antes, ele fora procurado pelo advogado Carlos Zucolotto Junior, sócio da esposa de Sérgio Moro, onde Zucolotto ofereceu acordo de delação premiada que seria fechado com a concordância de DD (iniciais de Deltan Dallagnol), em troca de um pagamento de US$5 milhões (cinco milhões de dólares). Como Tacla Duran só fez o pagamento da primeira parcela, o ex-juiz Sérgio Moro decretou sua prisão preventiva. Essa é a ponta do iceberg!

Portanto, apesar da gravidade para a vida pública do país de tais acusações feitas em juízo, os órgãos da Mídia-Pig calaram-se, não fizeram cobertura alguma, nem deram destaque, nem se colocam em processo de investigação jornalística, mantendo o mesmo padrão editorial do tempo em que funcionava como antena parabólica e megafone de Russo e DD. Como se constata, a batalha para a consolidação da democracia continua a exigir de todos e todas democratas deste país empenho vigilante e constante articulação para liquidar de vez com esses resquícios golpistas.

Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .

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Alexandre Aragão de Albuquerque

Mestre em Políticas Públicas e Sociedade (UECE). Especialista em Democracia Participativa e Movimentos Sociais (UFMG). Arte-educador (UFPE). Alfabetizador pelo Método Paulo Freire (CNBB). Pesquisador do Grupo Democracia e Globalização (UECE/CNPQ). Autor dos livros: Religião em tempos de bolsofascismo (Independente); Juventude, Educação e Participação Política (Paco Editorial); Para entender o tempo presente (Paco Editorial); Uma escola de comunhão na liberdade (Paco Editorial); Fraternidade e Comunhão: motores da construção de um novo paradigma humano (Editora Casa Leiria) .