O furioso momo

Aproveita o samba
E pisa
A dor do amor
Como no próprio coração
Vivo e pulsante
Que acabaste de tirar do peito
E depuseste ao chão
Como um rei cansado
Declara-te a anarquia de ti mesmo
Diz que o teu cérebro tem valor igual
Aos orifícios do corpo
E oferece os orifícios ao Deus coletivo e anônimo
O Deus insaciável do gozo e do vômito
Samba
Até que à falta de suor da pele escorra sangue
Samba
Antes da quarta-feira não existe amanhã
E o papa abençoou toda a loucura
Abaixo da linha do Equador
Meramente imaginária
Pois que mudem de lugar oficialmente
O lado de cima e o lado de baixo
Foi sempre mesmo o sexo que tomou suas decisões
E não consultou ninguém
As tuas mãos feridas terminarão no chão
Na madrugada do dia tão esperado
Que só ocorre uma vez no ano
E as raízes da terra ingrata então
Te mostrarão talvez uma última mensagem
Que é muito provável que não entendas

Airton Uchoa

Escritor, leitor e sobrevivente.