Partidários do governo recorreram ao STF para traçar o desenho do rito de impeachment. Conseguiram. A comissão da Câmara que dará parecer sobre a admissibilidade do impedimento da presidente será escolhida pelos líderes dos partidos e submetida ao aprove-se do pelo plenário com o voto aberto. O Pretório Excelso, com a nova composição que, segundo vaticínio de Joaquim Barbosa ainda tomará muitas decisões surpreendentes, atendeu ao apelo dos governistas.
Outro pleito do governo junto ao Poder Judiciário foi o fortalecimento do Senado Federal relativamente à Câmara dos Deputados. Encontrou acolhimento: por maioria simples o Senado pode desfazer a decisão de dois terços da Câmara.
O voto de liderança para formar a comissão da Câmara que dará parecer sobre a admissibilidade do processo de impeachment foi outra novidade criada pelo ato legislativo do STF, no curso do julgamento da ação impetrada pelos governistas.
Feito tudo como os governistas queriam, eis que a situação mudou. O voto aberto, em meio ao dilúvio de manifestações pedindo impeachment da presidente inverteu a situação. Qual político votará, em votação aberta, desafiando a opinião pública?
O fortalecimento do Senado foi decidido quando o governo contava com maioria na referida Casa Legislativa. A conexão eleitoral que vincula os parlamentares ao eleitorado, diante da magnitude das manifestações, somada aos constantes acréscimos de provas colhidas pela operação Lava Jato, mudou o quadro no Senado Federal. Hoje os próprios governistas admitem que se o processo chegar ao julgamento dos senadores a presidente será destituída.
A formação da Comissão que opinará sobre a admissibilidade do impeachment, na Câmara dos Deputados, será formada por parlamentares indicados pelos líderes dos partidos. O líder do PMDB foi escolhido cuidadosamente pelo palácio do Planalto. O partido, que havia destituído o deputado Picciani da liderança, ungido pelo Executivo, recuou e uma semana depois recolocou o citado parlamentar na liderança, depois que cinquenta e três deputados, todos do PMDB e somente da ala oposicionista do partido, foram alvo de uma operação de busca e apreensão solicitada pelo PGR e concedida pelo STF.
Agora os pemedebistas, que estavam divididos, estão coesos. O líder da agremiação, que representa o Poder Executivo, votará contra o partido que formalmente representa? Depois do 13 de março o deputado Picciani continuará fiel à presidente? Ou será substituído novamente da liderança da agremiação? E se os líderes formarem uma comissão favorável ao governo, levando a um parecer contrário à admissibilidade do impeachment, o plenário seguirá o parecer da comissão formada por líderes, contrariando a opinião pública?
Registre-se que o plenário não se sentirá vinculado a uma comissão designada por líderes, sem a possibilidade de formação de chapa avulsa. Esta restrição foi imposta pelo STF, quando legislou sobre o procedimento interno da Câmara.
O STF terá oportunidade de formular um juízo de retratação, ao apreciar o recurso interposto pela Câmara.
Diante de tudo isso o feitiço pode virar contra o feiticeiro.