V.
O pornográfico não é desejado por uma inconsciência da sua imoralidade potencial e efetiva, num lapso do que os olhos dizem à mente. A pornografia é um avesso da moralidade num sentido mais estrutural, no qual a consciência se esconde de si mesma para se preservar, ou para ignorar que se corrompeu quando já é tarde.
VI.
Não se diz do pornográfico que se dê apenas em obras e atos. Também se diz e se pensa das pessoas. É a fama de alguns países. Existe algum país que seja especificamente mais pornográfico que os outros? Existe algum país que não seja pornográfico?
VII.
As fronteiras do mundo desenhadas nos mapas. As fronteiras desenhadas nos mapas postas na realidade do mundo. Retângulos vazios que se estendessem e devorassem tudo, até que seus ângulos e lados, no lado externo, se tocassem e se fechassem. Uma área vazia do mapa que ninguém ainda haja percebido. Nascerá do tamanho do dado de um jogo. O bloco imenso que se expande e toma o espaço das coisas, empurra.
VIII.
A pornografia pode ser pensada, mas não pensa a si mesma. Pode simular esse distanciamento, mas não passará da dissimulação.
IX.
Para Sócrates, que não dispunha da palavra exata ainda, o que chamamos de realidade não era mais que uma imensa encenação pornográfica da qual só se pode sair pela via da morte. A dimensão inalcançável da morte é o que a torna uma saída do mundo pornográfico. Pois num mundo que é em si uma cópia e no qual as representações são cópias de cópias nem o toque é possível nem nada é verdadeiramente tangível.