Uma crise econômica, política e de natureza ética não poderia deixar de afetar as instituições. Elas são dirigidas e representadas por pessoas. As crises citadas envolvem os sujeitos da história. As agremiações políticas, tão necessárias ao sistema representativo, estão desmoralizadas. O Parlamento e o Executivo estão com a representatividade e a credibilidade perigosamente abaladas. O Pretório Excelso, levado pela fragilidade dos poderes representativos, embriagado com a “nova hermenêutica” que prescreve um certo ativismo judicial, politizou-se. Ao fazê-lo usurpou a função legislativa sem ter a menor representatividade, deixando de ser excelso, misturando-se com a politicalha.
A ética segundo a qual os fins justificariam os meios degenerou a política. O financiamento por vias tortuosas; as alianças baseadas na corrupção dos agentes políticos, sem arrimo em programas, fizeram do cinismo e do deboche normas de conduta. Acusados não se defendem. Limitam-se a compartilhar culpas, acusando outros atores do teatro de horrores da política da mesma prática. Confessam conhecer crimes dos seus antecessores sem que tenham providenciado o enquadramento dos mesmos durante longos anos no poder, confessando implicitamente uma omissão criminosa.
O chamado presidencialismo de coalisão é um presidencialismo de cooptação praticada por meios ilícitos. Analogamente aos resíduos e derivações de Vilfredo Pareto, estamos vendo algo assemelhado aos resíduos e derivações do patrimonialismo. A indiferenciação da fazenda pública relativamente ao patrimônio privado dos dirigentes das instituições produziu uma armadilha. A prática da corrupção criou raízes, institucionalizou procedimentos, inviabilizou condutas situadas no campo da integridade. O presidencialismo de cooptação exauriu-se. As redes sociais viabilizaram o protagonismo da maioria silenciosa, passando ao largo do aparelhamento das instâncias formadoras de opinião e das supostamente representativas da sociedade civil.
O sigilo bancário dos paraísos fiscais foi relativizado, podendo ser quebrado por decisão judicial. Transações inevitavelmente deixam rastros na era da telemática. Movimentações de pessoas podem ser recompostas pelos sinais dos celulares. O que se diz pode ser gravado em todas as circunstâncias. Registros de computadores não podem ser apagados sem que possam ser recuperados. Já não existe segredo. O direito premial destampou a caixa de Pandora. A colaboração negocial rompeu a lei do silêncio das organizações criminosas. O presidencialismo de cooptação tornou-se inviável. Políticos e empresários ainda não perceberam a nova realidade. Haverá um jeitinho brasileiro de salvar a fórmula apodrecida?
O pós-impeachment trará duros desafios. A permanência do atual governo seria a consolidação do presidencialismo de cooptação, com todos os seus vícios agora inviabilizados pela profunda crise econômica, o fim do segredo e da “lei” do silêncio. A continuidade seria o prolongamento e o aprofundamento da crise econômica e a institucionalização da prática do ilícito.