O Brasil pode ter acabado de virar alvo, por Osvaldo Euclides

Momento um  – O Brasil está quebrado, de pires na mão, sem dólares para nada. Tão dramática é a situação que o presidente Fernando Henrique telefona e faz um apelo ao presidente norte-americano Bill Clinton. Clinton manda o FMI emprestar uns dólarezinhos ao Brasil. Era período eleitoral de 2002. Lula e Serra, os dois candidatos viáveis, assumem com o FMI o compromisso de honrar o que FHC assinasse. Ou isso ou o FMI não emprestaria. Vexame, humilhação.

Momento dois – O Brasil já pagou tudo o que devia ao FMI, ao Clube de Paris e ao Comitê de Bancos comandado pelo presidente do Citybank. Não precisa mais submeter-se a humilhações e vexames por causa de desequilíbrio cambial. Era 2010 e o Brasil tinha reservas em dólares de quase 350 bilhões. Soberania.

Momento três – Jair Bolsonaro eleito, Paulo Guedes, definido como futuro ministro da Economia, dá uma declaração: “Se o dólar subir para cinco reais, vendo as reservas, tem aí mais de trezentos bilhões…”. É um dia próximo das eleições de 2018.

Momento quatro – Uma repórter argentina do maior jornal de Buenos Aires insiste numa pergunta a Paulo Guedes. Este, impaciente, responde: “O Mercosul não é prioridade. É isso que você quer ouvir? Essa é a verdade. Eu e o presidente falamos a verdade.” Quase exatamente no dia da eleição de 2018.

Momento cinco – Em abril de 2019, o ministro da Economia Paulo Guedes e seu equivalente argentino encontram-se nos EUA e debatem um artigo de Paulo Guedes (publicado há anos na imprensa brasileira) sobre a ideia de uma moeda única para países que ficam abaixo do Equador. Nada se divulga oficialmente a respeito.

Momento seis – O presidente da República Jair Bolsonaro vai a Buenos Aires e anuncia a possibilidade de uma moeda comum aos dois países. Faz isso diante de Mauricio Macri, presidente da Argentina – que está quebrada, endividada e sem estabilidade econômica, socorrida em emergência pelo FMI. É sete de junho de 2019. Questionado pela imprensa, para explicar a ideia, Bolsonaro diz: “…já disse que não entendo de economia, tenho que confiar no Paulo Guedes…”.

Momento sete – Declaração do vice-presidente general Mourão: “ …se der certo, é um avanço”. Ainda é sete de junho.

Momento oito – Declaração atribuída a técnicos do Banco Central negam que haja estudos sérios sobre a questão. Sete de junho.

Momento nove – O presidente da Câmara dos Deputados Rodrigo Maia pergunta: “O dólar vai a seis reais? Vai voltar a inflação?”. Ainda é sete de junho.

Neste momento, circulam no mercado de câmbio à vista e a prazo, mundo afora, todos os dias, alguns trilhões de dólares, buscando, digamos, oportunidades especulativas. Imaginem que um especulador do porte de um George Soros (que ficou famoso por apostar contra o Banco da Inglaterra — e vencer — ou Warren Buffet, ou outro qualquer) ouve essa conversa e resolve apostar contra o Brasil…O Brasil pode ter acabado de virar alvo.

Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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Osvaldo Euclides de Araújo

Osvaldo Euclides de Araújo tem graduação em Economia e mestrado em Administração, foi gestor de empresas e professor universitário. É escritor e coordenador geral do Segunda Opinião.

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