Nunca fomos tão virtuosos, por Danilo Ramalho

O ano termina e a afirmação que o título carrega pode ser a centelha necessária à ignição para um novo período na vida de todos. A virtuosidade pretendida aqui não é a da estética vulgar e popularesca que corta mentes – e corpos! – da sociedade atual e muito menos da histórica inclinação do brasileiro para o “jeitinho” alimentando pela malemolência tupiniquim. Definitivamente não falo disto, mas, reafirmo quanto ao êxtase de virtuosidades que nos presenteou 2015. Se em Platão a virtuosidade dialogava com a verdade, este ano foi realmente virtuoso.

Afinal, foi durante este período que descobrimos o quão frágil era nosso crescimento e nossa maturidade política. Não que tenhamos estacionado, não que continuemos verdes, mas o fausto período de consumo, a abertura de postos de trabalho em crescimento geométrico e as capas pró Brasil ao redor do mundo revelaram que o oba-oba tropical estacionou o trio elétrico nalguma esquina. Uma situação que nos torna virtuosos, sabedores da verdade e convidados a errar menos em 2016. Quem nos ajuda nesta assertiva é Santo Tomas de Aquino e suas virtudes cardinais, dentre elas a prudência, até porque, mais alguns passos, e entramos num ano eleitoral para escolha dos tomadores das decisões que impactam o nosso dia a dia político, econômico e social: vamos escolher prefeitos e vereadores.

Ainda é possível enxergar um pouco mais da sabedoria tomista vendo-nos refletidos nela. É que, para o teólogo, é natural ao homem escolher atos de virtude com o uso da razão. Então, não é verdade que, se já passamos por tantas estradas esburacadas e perigosas, é chegada a hora de fazermos melhores escolhas? Se tudo isso fazia sentido há mais de 800 anos, quanto mais agora. Até porque, a verdade é imutável. Tanto lá, quanto cá, devemos tê-la conosco.

Sem dúvida, nos tornamos mais virtuosos também com todas as verdades manifestadas durante a notável caça aos ratos que enfestam os porões da Petrobrás e suas subsidiárias. Esta parte da justiça realmente faz o brasileiro enxergar, cara-a-cara, a qualidade de suas elites e de seus dirigentes. E eis mais uma virtude que se encaixa em nosso ano: a coragem ou fortaleza e com ela a centelha retratada na abertura deste artigo. Esta parece-me, aliás, a virtude que tem mais a nossa cara neste momento, quando estamos prestes a zerar o cronômetro e (re)começar nosso futuro, ou seja, coragem para mudar, iniciando por nós mesmos. Quer mais virtude que decidir mudar esta sociedade olhando para dentro de si? Se ainda está difícil, a etimologia pode nos ajudar quando explica que na construção em Latim de “coratium” há a derivação de “cor”, coração, fonte, em tempos antigos, da coragem. E, já vimos que a verdade não muda.

Platão, Santo Tomás, etimologias, sementes lançadas para delas nascerem alimentos necessários para sustentar virtudes como da fortaleza. Que encontrem terra boa para darem frutos, cem, sessenta, trinta por um, até porque os espinhos estão por aí, prontos a sufoca-los. Desde já, 2016, clama por mudanças.

Danilo Ramalho

Jornalista, Consultor e Professor na Academia da Palavra

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Jornalista, Consultor e Professor na Academia da Palavra