Lulismo: a maldição de um modelo

No que pese o Brasil ter conseguido, durante o governo Lula [2003-2010], uma projeção positiva na mídia internacional como um país emergente, a ponto de o presidente estadunidense [Barack Obama] ter dito que o Lula era “o cara”; no que pese, ainda, o fato de o governo gozar de prestígio político por explorar, de forma competente, o fato de ter oportunizado mecanismos que permitiram que milhões de pessoas saíssem da condição de miséria para pobreza, com acesso a certo grau de consumo, e, embora isso seja um grande feito, o governo manipula a realidade dizendo que esses miseráveis se tornaram classe média por estarem na faixa de renda mensal entre 291 a 1.019 reais. Não obstante esses fenômenos, paradoxalmente o governo petista de Lula e Dilma [2011-2014] permitir facilitar a criação de condições para que o capital nacional e transnacional possa explorar nossos recursos naturais [hídricos, terras, litoral, minérios e toda biodiversidade] impondo um processo de reconcentração de terras e a destruição do modo de vida e de ser dos nossos povos originários, camponeses, pescadores e quilombolas.

Em nossa epocalidade, ou seja, no Brasil do século XXI, as ameaças aos nossos bens naturais são praticadas pelos aliados do governo que se articulam em torno da Frente Parlamentar Agropecuária, mais conhecida por “bancada ruralista”. Essa frente é formada por representantes de latifundiários, usineiros, plantadores de soja, mineradores, criadores de gado, donos de madeireiras e de indústrias extrativistas, e são eleitos por vários partidos[PMDB, PP, DEM, PSD, PR, PTB, PDT, PPS, PSDB]. A aliança do governo petista com a bancada ruralista1, embora crie paradoxos, não é uma contradição em essência, mas uma complementação necessária, pois as ações da bancada ruralista dão sustentação econômica ao projeto neodesenvolvimentista implantado pelo governo Lula e seguido por Dilma. O governo petista fez opção por um modelo de desenvolvimento baseado no agronegócio, na reprimarização da economia e na exportação de commodities. A bancada ruralista, como aliada estruturante desse projeto, controla dois ministérios importantes, cujas políticas implantadas rivalizam com os interesses de camponeses, povos indígenas e quilombolas: o Ministério da Agricultura e o de Minas e Energias.

É reconhecido por toda sociedade que, durante o governo Lula, setores pobres da sociedade ampliaram sua capacidade de consumo e obtiveram alguns avanços nas políticas de assistência social, mas o PT não vai além de uma política de negação das políticas neoliberais, pois não tem mostrado disposição para sinalizar com políticas anticapitalistas, seu projeto neodesenvolvimentista é um projeto de conciliação de classes. Segundo o editorial do jornal Brasil de Fato [edição de 18 a 24 de outubro de 2012], o neodesenvolvimentismo petista

não é uma alternativa de natureza popular e não dissemina valores e posições históricas da esquerda, como a defesa da soberania nacional e a necessidade de efetivarmos mudanças estruturais na sociedade como a reforma agrária, tributária, urbana e outras. Portanto, o neodesenvolvimentismo não educa politicamente as massas para um projeto pautado nesse conjunto de reformas de natureza nacional, democrática e popular que dão conteúdo à esquerda.

Uribam Xavier

URIBAM XAVIER. Sou filho de pai negro e mãe descendente de indígenas da etnia Tremembé, que habitam o litoral cearense. Sou um corpo-político negro-indígena urbanizado. Gosto de café com tapioca, cuscuz, manga, peixe, frutos do mar, verduras, música, de dormir e se balançar em rede. Frequento os bares do entorno da Igreja de Santa Luzia e do Bairro Benfica, gosto de andar a pé pelo Bairro de Fátima (Fortaleza). Escrevo para puxar conversa e fazer arenga política.

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Uribam Xavier

URIBAM XAVIER. Sou filho de pai negro e mãe descendente de indígenas da etnia Tremembé, que habitam o litoral cearense. Sou um corpo-político negro-indígena urbanizado. Gosto de café com tapioca, cuscuz, manga, peixe, frutos do mar, verduras, música, de dormir e se balançar em rede. Frequento os bares do entorno da Igreja de Santa Luzia e do Bairro Benfica, gosto de andar a pé pelo Bairro de Fátima (Fortaleza). Escrevo para puxar conversa e fazer arenga política.